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As roupas em segunda mão estão na moda. O estilista está na Casa Branca

À medida que as tarifas elevam os preços dos produtos nos EUA, a indústria de roupas em segunda mão começa a colher os benefícios do aumento de preços — dando impulso a uma tendência global que vinha a ganhar força nos últimos anos.

A ideia de comprar roupa em segunda mão, ou trocar peças entre amigos, começou nos últimos anos a ganhar popularidade, principalmente entre os consumidores da Geração Z. A tendência nasceu nos países nórdicos, passou pelo leste da Europa e desceu até Espanha e Portugal.

Entretanto, nos Estados Unidos, algo aconteceu.

Em fevereiro, o presidente Donald Trump impôs pela primeira vez uma tarifa de 10% sobre produtos chineses.

Desde então, os dois países têm estado a disparar taxas retaliatórias um contra o outro, numa guerra comercial sem quartel — e neste momento, a tarifa dos EUA sobre produtos importados da China é de 145%, a China mantém uma tarifa de 125% sobre produtos americanos.

Há uma semana, expirou nos Estados Unidos a regra dos minimis, uma lacuna comercial ao abrigo da qual os retalhistas não tinham de pagar impostos de importação ou direitos sobre “produtos de baixo custo” — remessas avaliadas em menos de 725 euros.

A lacuna era especialmente favorável aos gigantes da moda rápida como a Shein e a Temu, que anteriormente podiam enviar artigos de custo ultra-baixo da China diretamente para clientes nos EUA sem pagar qualquer imposto.

Aumentos de preços

Milhões de consumidores americanos foram atraídos para estas lojas online pelos seus produtos acessíveis e liquidações, oferecendo preços muito baixos e promoções massivas.

Mas ambas as empresas anunciaram recentemente que iriam aumentar os preços como resultado das tarifas — o que poderá ajudar as lojas de roupa em 2ª mão, que provavelmente serão uma alternativa mais barata.

“Já estamos a ver uma desaceleração no consumo e nos gastos nos EUA”, explica Danielle Testa, professora assistente no Instituto de Design e Merchandising de Moda da Universidade Estadual do Arizona, ao Business Insider.

O índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan caiu quase 20 pontos desde o início do ano para 52,2 em abril, o seu nível mais baixo desde 2022, quando a inflação atingiu 9%.

“Muita da nossa roupa vem de fora dos EUA, muito pouca é fabricada nos EUA, por isso esperamos aumentos de preços em todos os produtos de moda, o que levará as pessoas a algumas opções de segunda mão porque contornam as tarifas se já estiverem no mercado de vestuário dos EUA”, explica Testa.

De acordo com a Associação Americana de Vestuário e Calçado, apenas cerca de 3% da roupa e calçado nos EUA são fabricados internamente. O resto é predominantemente importado da China, Vietname, Índia, Bangladesh e outros países — todos os quais agora enfrentam tarifas.

“Durante períodos de incerteza económica, os consumidores procuram valor, e a compra em segunda mão muitas vezes aumenta”, diz David Eagles, diretor de operações da Goodwill Industries International, ao Insider.

“As pressões económicas tendem a intensificar o foco em gastos inteligentes e doações significativas, por isso esperamos que o interesse nas compras em segunda mão aumente, impulsionado tanto por fatores económicos como de sustentabilidade.”

Entretanto, o mercado de segunda mão já está a crescer acentuadamente. A ThredUp prevê atingir 66,4 mil milhões de euros até 2028 nos EUA e 318,2 mil milhões de euros globalmente, acima dos 179,1 mil milhões de euros em 2023.

Abrandar a produção

Com os preços provavelmente a aumentar ainda mais, os consumidores dos EUA poderão em breve ser forçados a procurar opções fora da indústria da moda rápida.

A ThredUp foi uma das vozes que defendeu o fim da isenção de minimis, chamando-lhe “um passo crítico para abordar o fluxo insustentável de moda ultra-rápida para os EUA” numa declaração recente.

“Não podemos estar a passar pelas coisas tão rapidamente, entre produzi-las, usá-las, ou às vezes nem usá-las, antes de as descartar”, diz Patsy Perry, professora de marketing de moda na Universidade Metropolitana de Manchester, ao Insider.

“Precisamos mesmo é de manter as coisas em uso por mais tempo, caso contrário é um completo desperdício de todos os recursos“, acrescenta Perry.

A professora de marketing enumera os passos que fazem parte da confeção de roupas, incluindo a obtenção de matérias-primas, produção numa fábrica, transporte do produto acabado, e todas as pessoas envolvidas nas diferentes etapas da cadeia de fornecimento.

A reciclagem ainda não é uma solução, porque não temos a tecnologia em grande escala”, diz Perry. “Além disso, os retalhistas que produzem roupas a partir de materiais reciclados geralmente estão além do orçamento do consumidor médio.

Entretanto, como tudo o que se torna moda, a compra de roupa em segunda mão tem agora um problema: os preços também estão a aumentar.

“Eu há anos que compro roupa em segunda mão, mas agora que está na moda, está tudo a ficar mais caro“, disse ao ZAP uma consumidora.  “Ao início, um quilo de roupa custava uns 10 euros, agora não se consegue comprar por menos de 20”.

Trocar peças entre amigos… continua a ser gratuito.

ZAP //

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