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Adeus pechinchas da China. Site da Temu nos EUA agora só mostra produtos americanos

ZAP // Temu; Depositphotos; Vecteezy

Os consumidores dos EUA vão mesmo deixar de ter acesso aos produtos mais baratos que a China tem para oferecer — não só porque com as tarifas de Trump deixaram de o ser, mas também porque a versão norte-americana do site da Temu passou agora a apresentar apenas produtos locais.

O popular site chinês de comércio eletrónico Temu removeu abruptamente todos os produtos na versão americana da sua loja online que sejam enviados diretamente aos consumidores a partir da China, causando uma confusão generalizada entre os fornecedores e clientes da empresa.

A mudança aconteceu aparentemente no início desta semana, apenas dias antes de a lacuna fiscal que permitia aos consumidores americanos comprar produtos da China sem pagar tarifas ter desaparecido, no âmbito da nova política tarifária recentemente imposta por Donald Trump.

“A Temu transitou recentemente as suas operações nos EUA para um modelo de distribuição local“, confirmou um comunicado da Temu, enviado por email à Wired, que confirma que a plataforma está a abandonar a sua estratégia de envio a partir da China.

“Isto significa que todas as vendas nos EUA são agora tratadas por vendedores sediados localmente, com encomendas satisfeitas a partir do país. Apesar da mudança operacional, os preços da Temu para os consumidores americanos permanecem inalterados”, acrescenta o comunicado.

Durante a última semana, a Temu implementou uma série de mudanças repentinas, enquanto lidava com o impacto da guerra comercial de Trump na sua operação nos EUA — baseada na oferta de produtos a preços surpreendentemente baixos e promovendo-se como um refúgio para os amantes de pechinchas.

A Temu anunciou inicialmente que começaria a aumentar os preços dos produtos enviados da China, a partir de 25 de abril. Mas depois as coisas tornaram-se confusas.

Após este anúncio, a plataforma começou a mostrar uma “taxa de importação” separada nas encomendas de clientes dos EUA, aparentemente num esforço para realçar o impactos financeiro das tarifas no preço dos produtos.

Outros retalhistas, entre os quais a Amazon, adotaram também esta tática, mas acabaram por recuar nos seus planos após duras críticas de Donald Trump — que na terça-feira telefonou pessoalmente a Jeff Bezos para exprimir a sua desaprovação, no que descrito como “uma troca de palavras incisiva, mas cordial”.

Na mesma terça-feira, os compradores americanos perceberam que a Temu aparentemente decidiu simplesmente impedir os utilizadores dos EUA de verem quaisquer listagens de produtos atualmente localizados na China ou em qualquer outro lugar fora dos EUA.

A versão do site e da aplicação da Temu para os Estados Unidos parece agora estar totalmente preenchida com produtos marcados com a etiqueta “Local”, o que significa que estão isentos de tarifas, porque foram enviados para o país antes de as novas taxas de importação entrarem em vigor.

Antes desta semana, os consumidores tinham a possibilidade de escolher entre produtos com ou sem a etiqueta local, sendo estes últimos tipicamente enviados da China via carga aérea após a realização da compra.

As coisas estão um caos neste momento. Desde que as tarifas começaram a mudar, o nosso negócio tem sido fortemente afetado“, diz um vendedor da Temu na China que se especializa em mobiliário e decoração para casa.

Estas alterações aproximam a Temu do que os consumidores podem esperar de concorrentes como a Amazon, diz Juozas Kaziukėnas, analista independente da indústria de comércio eletrónico, à Wired.

“Neste momento, a Temu está muito parecida com a Amazon, porque tudo o que compra na Temu hoje virá para si a partir do armazém deles nos EUA e provavelmente em apenas alguns dias”, diz Kaziukėnas.

Mas as mudanças significam também que muitos compradores americanos se deparam de repente com uma seleção muito mais restrita de produtos na Temu, e não estão felizes com isso.

Nas redes sociais, os utilizadores contam estar a ver centenas de produtos, que tinham guardado em wishlists e carrinhos de compras, estarem agora a aparecer, de um dia para o outro, como “esgotados”.

“Eu dependia muito da Temu para o meu negócio, e estou a entrar em pânico, porque não consigo encontrar nenhum dos meus fornecedores habituais”, escreveu um utilizador do Reddit no subreddit r/TemuThings.

Outro utilizador partilhou uma captura de ecrã que afirmou ser de uma conversa com o serviço de apoio ao cliente da Temu, na qual um agente disse que a plataforma está “atualmente incapaz de mostrar produtos fora dos EUA“, e que não consegue fornecer um prazo para fim desta limitação.

A mudança confundiu também os vendedores da Temu na China, que aparentemente não foram notificados com antecedência de que os americanos deixariam de poder aceder seus produtos.

Mesmo antes de Donald Trump anunciar as tarifas, a Temu já estava a proceder a várias mudanças no seu modelo de negócio, incluindo armazenar mais inventário nos EUA e experimentar uma estrutura logística mais tradicional, semelhante à da Amazon.

A plataforma também está atualmente a explorar um novo programa de envio, designado “Y2” — uma variação mais flexível do modelo de armazenamento da Temu nos EUA, em que os vendedores enviam encomendas individuais em vez de inventário em massa.

Mas neste modelo, em muitos aspetos semelhante a uma opção logística da Amazon chamada “Fulfillment by Merchant”, é o vendedor e não a Temu quem fica responsável por lidar com as tarifas e o processo de declaração aduaneira, bem como quaisquer problemas que possam surgir.

Estas mudanças em toda a plataforma dão nota da rapidez com que a Temu se tem adaptado ao atual ambiente político volátil, mas a empresa também corre o risco de perder o que antes era uma parte fundamental da sua identidade e vantagem competitiva.

“Parece-me um enorme passo atrás para a Temu. O que realmente a ajudou a diferenciar-se da Wish e AliExpress é que controla a cadeia de abastecimento, pelo que podia garantir a velocidade de entrega e o nível de garantia de qualidade para proporcionar uma experiência consistente”, diz Kaziukėnas.

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