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No Vaticano há 2,3 Papas por km². As estatísticas enganam

Já o meu avô dizia, a estatística é como um biquíni, mostra muito, mas o que esconde é essencial.

No nosso quotidiano, é comum encontrarmos notícias que têm uma base estatística.

Estudos comprovam que utilizar uma meia de cada cor aumenta a probabilidade de ter gémeos“,  “Assistir ao telejornal durante o jantar duplica o risco de contrair pé de atleta“, “Os homens que comem dois ovos ao pequeno almoço têm tendência a não baixar a tampa da sanita“…

O processo estatístico consiste em recorrer a determinados indicadores e ferramentas matemáticas para analisar um vasto conjunto de dados, cujo objetivo é tentarmos extrair informação relevante.

Só que às vezes acontecem algumas peripécias. Ou porque se recorre a amostras tendenciosas, ou porque há uma falsa causalidade, ou simplesmente porque a análise é feita com base numa medida que não nos fornece nenhuma informação relevante.

Por exemplo, nem sempre é adequado recorrermos à média para analisar resultados.

Imaginem que vivem nos Estados Unidos e querem colocar o vosso filho numa escola com qualidade. Então o que fazem é pegar numa lista das várias escolas e calculam o ordenado médio de um ex-aluno, ou seja, de um aluno que se formou nessa escola. É de esperar que as melhores escolas se traduzam num melhor rendimento para os graduados.

Enquanto estão a fazer estes cálculos e percorrem as várias escolas, encontram a escola de Lakeside e deparam-se com um facto impressionante. Aparentemente, o ordenado médio dos alunos recém-formados era superior a 2 milhões de dólares.

Após constatarem esta quantia inigualável, ligam àquele amigo que é filho de um tio de uma prima do diretor da escola, tentam arranjar uma cunha, enfiam a mochila às costas da criança e já se imaginam a conduzir um Lamborghini dentro de 10 anos.

Até se aperceberem que, por coincidência, o Bill Gates e o Paul Allen, ambos multimilionários, frequentaram aquela escola.

Apesar de não haver nenhum erro nas contas e do ordenado médio dos alunos saídos daquela escola ser de facto superior a 2 milhões de dólares, isto não quer dizer nada quanto à qualidade da escola. Porque mesmo que todos os outros ex-alunos estivessem desempregados, o valor seria na mesma elevadíssimo.

É o mesmo que afirmarmos que no Vaticano existem cerca de 2.3 papas por km², como se existissem dezenas de papas no mundo, quando na verdade o Vaticano é que só tem 44 hectares.

Estas duas situações refletem uma má escolha de indicadores estatísticos, o que nos pode levar a tirar conclusões erradas. Por exemplo, em média, cada pessoa tem um testículo e um ovário e menos de duas pernas.

Noutros casos, podemos achar que estamos a tirar uma boa conclusão após analisar um certo conjunto de dados, quando na verdade partimos de uma amostra que não é representativa de uma dada população.

Por causa deste desentendimento, podemos ser tentados a dizer algo como “uma análise estatística dos peixes capturados no Oceano Atlântico permitiu concluir que não existem peixes com um tamanho inferior aos buracos da rede de pesca“. E isso era um bocadinho parvo.

Tudo isto para reforçar a ideia de que é muito importante termos espírito crítico. Podemos ler muita coisa na internet e muitos estudos e notícias, mas temos mesmo de pensar será que aquilo é realmente verdade? Será que faz sentido?

Inês Guimarães, ZAP //

Inês Guimarães

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