Mário Cruz / Lusa

“Polícia de Segurança Pública”. Está no nome. Literalmente. “Segurança”. Sim, é mesmo suposto um polícia garantir, transmitir e ser um agente de segurança.
É suposto dizermos às crianças que quando têm um problema podem falar e pedir ajuda “àquele senhor de azul”. Não é, pelo contrário, suposto transmitir a ideia de que quando vemos “aquele senhor de azul” é melhor fugir.
Claro está que a última coisa que devemos sentir quando estamos rodeados de agentes de autoridade é insegurança – seria um contrassenso.
No entanto, por vezes, essa insegurança existe. Porquê?
Os últimos dois fins-de-semana ficaram marcados por episódios de violência policial que mancharam (o que deve ser) a festa do futebol.
Na noite do dia 24, um adepto do Sporting perdeu um olho, depois de ter sido atingido por uma bala de borracha, numa ação policial não relacionada com a vítima.
Bernardo Topa, de 28 anos, esteve internado mais de uma semana no Hospital São José, em Lisboa. Teve alta no início desta semana e deu, esta terça-feira, uma entrevista à TVI, onde pede que se faça justiça. “Sinto frustração e revolta. Quero que seja feita justiça, que o autor seja identificado, porque isto não pode voltar a acontecer”, afirmou.
O jovem, que estava na zona do Saldanha quando foi atingido, conta que, esperando uma possível ação policial procurou afastar-se da confusão. Só não esperava que uma bala de borracha fosse mesmo em direção ao seu olho esquerdo.
“Eu nem ia ficar perto do autocarro, porque sabia que o corpo de intervenção ia começar a dar com o cassetete a toda a gente para abrir caminho (…) no ano passado aconteceu-me isso, por isso este ano não ia ficar junto ao autocarro. Não estava na linha da frente sequer, estava mesmo afastado deles, e começo a ouvir os tiros e do nada sinto um tiro certeiro no meu olho“, relatou.
O presidente Frederico Varandas deslocou-se ao Hospital de São José para visitar Bernardo Topa.
O adepto leonino foi atingido por uma bala de borracha disparada pela PSP e perdeu a visão do olho esquerdo.
Bem o Sporting, tudo o que se faça é pouco para tremenda injustiça e dor. pic.twitter.com/zp1K9XDP0v
— Sporting CP Adeptos 🏆🏆 (@Sporting_CPAdep) May 22, 2025
A Direção-Nacional da PSP justificou, ao Correio da Manhã, que houve necessidade de fazer uma intervenção da Unidade Especial de Polícia (UEP), para fazer cessar o arremesso de artigos de pirotecnia (baterias de fogo de artifício) na direção dos polícias.
“Autoritarismo cego”
Uma semana depois, a polícia “voltou à carga”, na final da Taça de Portugal.
Há vários relatos de violência policial injustificada, no Jamor, este domingo, no jogo que levou o Sporting à conquista da 18.ª Taça de Portugal.
Um desses casos é o de Miguel Santos. O adepto sportinguista conta que, ainda antes do jogo, estava a abrir espaço para uma senhora que se tinha sentido mal. Tocou num polícia para pedir ajuda. A “ajuda” foi uma cassetetada na cabeça.
Miguel desmaiou de imediato, foi levado para o Hospital São Francisco Xavier, levou 7 pontos na cabeça e não chegou a ver o jogo.
“Confundem autoridade com abuso, confundem farda com escudo para a violência“, escreveu nas redes sociais, referindo-se à polícia.
“Onde devia haver celebração, há cassetetes. Onde devia haver cânticos e cores, há medo. Não há fair play quando quem devia manter a ordem é o primeiro a semear o ódio (…) há quem insista em arrastar esta festa e esta alegria para o debaixo do chão, sujá-la com o peso de um autoritarismo cego e de quem não sabe lidar com o poder”, acusou.
“Calhou me a mim, mas podia ter sido a uma criança, a um idoso ou à mulher que eu estava a tentar ajudar, para mim desconhecida mas uma vida e alguém por quem devemos sempre zelar. Uns pelos outros. O bilhete que me permitia entrar está aqui, com os restos da ‘festa da taça'”, mostrou na publicação.
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“A semana passada o Bernardo, hoje eu e amanhã podes ser tu (…) A PSP (Polícia de Segurança Pública) não faz jus ao nome. Não precisamos de polícia que ataca, precisamos de polícia que protege. Não precisamos de guerra nas ruas, precisamos de festa nas bancadas”.
Em entrevista à SIC, Miguel Santos diz que o polícia ainda ameaçou bater no pai, “contado por eles, porque eu não estava acordado”. “A polícia entrava para o meio das pessoas logo com o bastão em punho, batia nos braços e nas pernas… ouvi muito relatos ainda antes de acontecer isto comigo”.
Um adepto que esteve presente no Jamor contou ao ZAP que, a certa altura, ainda fora do estádio, perguntou – “de forma calma e ponderada” – a um polícia a razão pela qual as forças de segurança estavam a agir de forma tão agressiva contra pessoas pacíficas. A resposta vinha de cassetete…
Já dentro, a polícia voltou a não ser nada tolerante, nas ‘habituais invasões’ à pista do Jamor, no momento dos golos.
Ontem foi mais um dia onde a violência policial esteve presente, o suposto dia da “festa da taça” Um pequeno exemplo do que se passa gravado pelo @DiogoEsteves91 . Que se faça justiça contra estes bárbaros que se dizem forças de segurança. 🤡@AdeptosPortugal pic.twitter.com/WDDq7W6eRa
— Galvão 🇳🇬 (@_diogogalvao_) May 26, 2025
Os vídeos e os relatos contradizem o balanço que a polícia fez desse dia, tendo dado apenas conta de “dois feridos com queimaduras (…) mantendo uma atuação preventiva, dialogante e facilitadora das intenções dos adeptos”.
No ano passado, também no Jamor, na final da Taça de Portugal que opôs FC Porto e Sporting, os adeptos queixaram-se da “atuação exagerada da polícia”.
Expliquem-me, mesmo que o vídeo seja curto, qual a razão do disparo por parte deste agente da polícia na Final da Taça de Portugal no Jamor?
(o vídeo chegou-me por WhatsApp, não sei a fonte) pic.twitter.com/CVWykUtvZ3
— Bancada de Leão🦁 (@bancadadeleao) May 29, 2024
Muitas são as imagens que nos estão a chegar da atuação exagerada da polícia no domingo no Jamor. Não nos podemos calar perante isto!
Se tiveres mais informações ou vídeos envia-nos! pic.twitter.com/26BTrSIjHI
— +FC Porto (@maisFCPorto) May 29, 2024
Este artigo incidiu apenas em casos vividos recentemente dentro do mundo do futebol. Mas os exemplos de violência policial em Portugal são muito mais abrangentes do que isso – alguns dos quais bem presentes na memória.
Em 2021, peritos da ONU alertaram para a violência policial racista em Portugal.
E, em 2023, o Departamento de Estado dos EUA destacou pela negativa o volume de queixas relativas ao uso excessivo de força pelas polícias em Portugal, no seu relatório anual sobre os direitos humanos.
É sempre importante lembrar que a polícia está ao serviço da lei, cumpre-a e faz com que se cumpra. Mas não está acima dela.
Afinal a insegurança para os cidadãos vem da PSP, boa!
Devem ser membros do Movimento Zero. E outros com vontade de ser. É grave e lamento não ver o governo a contrariar estes movimentos inorgânicos, pois deu jeito no Supremo, no PGR até ao dia… que não der jeito
Não me sinto seguro pela forças policiais.
Onde há policia de intervenção, prepara-se a insegurança.
Tanto para relatar, mas fica abafado…
Porquê? Impunidade total, má formação, frustrações, Fortes com os fracos; fracos com os fortes. E sabemos onde está gente vota.. Nos países civilizados e onde as pessoas são responsáveis, não há esta selvajaria.
Olha que também há Marius. Ha um bom par de anos atrás, lembro-me que na Holanda a policia esperou numa estação ferroviária de Amsterdão por um bando de arruaceiros alemães que já vinham afiambrados para a bagunça, Mal desembarcaram, ainda sem ter feito nada, e á laia de prevenção já lhes foram amaciando o lombo á cacetada.. Concordo que a policia, em geral, tende para o autoritarismo. Por outro lado não vejo como resolveriam as situações de “rara” desordem violenta das claques do futebol, com um “Por favor caros srs. agradecemos que deixem de atirar garrafas, rojoes, cadeiras, ou que tiverem á mão, aos adversários, árbitro ou quem quer que seja na vossa frente,. Não ofendam nem digam palavrões, e comportem-se como cavalheiros. Muito obrigado, e se alguma observação nossa vos caiu mal, façam o favor de passar pela esquadra, para receberem um brinde de consolação.”.
Fortes com os fracos, fracos com os fortes! O costume… E esta gente, vota? Chega de impunidade!