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Oito bebés com “três pais biológicos” nasceram com recurso a técnica radical

Técnica inovadora de fertilização in vitro com ADN de três progenitores impediu transmissão de doenças das mães para oito filhos, que nasceram saudáveis. Mas nem tudo é um mar de rosas.

Oito bebés nasceram saudáveis no Reino Unido graças a uma técnica inovadora de fertilização in vitro (FIV) que visa impedir a transmissão de doenças mitocondriais hereditárias das mães para os filhos.

Os resultados do inédito ensaio clínico foram publicados esta quarta-feira no New England Journal of Medicine e está a ser encarado como um grande avanço  na medicina reprodutiva.

As doenças mitocondriais, que segundo o Science Alert afetam cerca de um em cada 5.000 recém-nascidos, não têm cura e podem provocar sintomas como perda de visão, diabetes e atrofia muscular.

A nova técnica consiste na substituição do ADN mitocondrial defeituoso da mãe por ADN saudável proveniente de uma dadora, utilizando também o óvulo da mãe e o esperma do pai.

Há quem esteja a afirmar que os oito bebés resultantes do processo revolucionário têm três pais, embora os investigadores não o considerem correto, uma vez que apenas cerca de 0,1% do ADN do recém-nascido provém da dadora.

O ensaio decorreu no Newcastle Fertility Centre, no nordeste de Inglaterra, onde 22 mulheres foram submetidas ao tratamento. Oito bebés — quatro rapazes e quatro raparigas — nasceram com idades que atualmente variam entre os seis meses e os dois anos.

Nos seis casos mais bem-sucedidos, a quantidade de ADN mitocondrial mutado foi reduzida entre 95% e 100%. Nos outros dois, a redução foi de 77% a 88%, ainda abaixo do nível considerado patológico. Todos os bebés estão saudáveis, embora um tenha apresentado uma arritmia cardíaca, que entretanto foi tratada com sucesso.

Três dos oito bebés estão a ser monitorizados mais de perto devido a sinais de “reversão” — um fenómeno ainda pouco compreendido, no qual mitocôndrias defeituosas que tinham sido praticamente eliminadas reaparecem em níveis mais elevados no nascimento.

Os problemas

A técnica foi “eficaz na redução da transmissão” de doenças entre mãe e filho, lê-se no estudo.

A especialista francesa em doenças mitocondriais Julie Stefann disse à AFP que “é uma questão de relação risco-benefício: para uma doença mitocondrial, o benefício é óbvio”. Mas “no contexto da infertilidade, não está provado”, acrescentou.

O especialista em genética reprodutiva da Universidade de Oxford, Dagan Wells, também aponta que “alguns cientistas ficarão um pouco desapontados por tanto tempo e esforço terem, até agora, levado ao nascimento de apenas oito crianças”.

A questão ética também preocupa muitos profissionais de saúde. A utilização de ADN mitocondrial de dadoras implica a destruição de embriões. Existem, também, receios de que a prática possa abrir caminho à manipulação genética para criar “bebés por encomenda”.

O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar legalmente este tipo de tratamento em 2015. Muitos outros países — incluindo os EUA e França — ainda não o autorizaram. Mas a a técnica só é autorizada em casos em que exista um risco elevado de transmissão de doença mitocondrial.

ZAP //

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