“Plano secreto contra a Alemanha”: políticos estiveram com neonazis

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Leonhard Simon/EPA

Apoiante do AfD celebra resultados em eleições

Reportagem revela uma reunião que “ninguém deveria saber”. O objectivo era expulsar milhões de pessoas do país.

Um hotel rural em Lehnitzsee, perto de Potsdam, foi o palco para uma reunião secreta, com um objectivo de mudar muito a Alemanha.

A rede de investigação Correctiv publicou nesta quarta-feira uma reportagem que promete mexer com a política alemã.

Apresentado como um “plano secreto contra a Alemanha”, a reunião em Lehnitzsee envolveu políticos da AfD (Alternativa para a Alemanha), dois elementos da CDU (União Democrata-Cristã) e membros do grupo neonazi Movimento Identitário, incluindo o seu chefe.

O encontro realizou-se há dois meses e também juntou membros de fraternidades, pessoas de classe média, advogados, políticos, empresários e médicos.

O grupo apresenta-se como “Fórum de Düsseldorf”.

Nesta “rede exclusiva” só entraram convidados e todos tinham de dar um donativo de pelo menos 5 mil euros, porque uma tarefa central do grupo é juntar dinheiro.

Já durante a reunião, os presentes são convidados a fazer os donativos “discretamente” em dinheiro e em contribuições para conferências para a esposa de um dos participantes. E ficam a saber que o dinheiro será usado para apoiar “organizações menores” – como o Movimento Identitário.

Aliás, um dos objectivos principais do grupo é mesmo recolher donativos de pessoas ricas e empresários que querem secretamente apoiar alianças extremistas de direita. Quer juntar “patriotas”.

E um elemento da AfD aproveita o contexto para pedir abertamente donativos durante a reunião, a pensar na campanha eleitoral.

“Remigração”

O plano nesta reunião estava bem definido: expulsão em massa de migrantes. Expulsar milhões de pessoas da Alemanha.

Chamam-lhe “remigração”: regresso forçado dos migrantes aos seus países de origem através de deportações em massa.

O Movimento Identitário sugeriu a expulsão de migrantes, mas também de cidadãos alemães com um historial de migração. A sua ideia era colocar 2 milhões de imigrantes num “Estado modelo” no Norte de África.

Martin Sellner, um activista de extrema-direita da Áustria, identifica três grupos-alvo da migração que, segundo ele, deveriam deixar a Alemanha: quem pede asilo, estrangeiros com direito de permanência e “cidadãos não assimilados” no país.

Pessoas com influência na AfD e outras com muito dinheiro e influência no país ouviram este tipo de sugestões.

E ninguém criticou o plano. Surgiram perguntas e surgiram dúvidas sobre a viabilidade do esquema – porque a maioria dos imigrantes tem passaporte legal. Mas sem críticas.

“É um projecto de uma década“, justificou Sellner, que sugere também “mudar o clima de opinião” sobre o assunto, na Alemanha.

Um elemento da AfD até elogia o plano; diz que tem esse objectivo há muito tempo e que até já tinha um conceito de “remigração” quando entrou no partido em 2016.

Martin Sellner confirmou ao jornal The Guardian que apresentou o conceito de “remigração”. Mas o activista recusa a ideia de “plano secreto” e diz que os seus comentários e tinham sido encurtados e retirados do contexto.

“Isto mostra que até os políticos de alto nível da AfD defendem posições radicais de direita numa sala fechada, que nunca defenderiam em público. E isso mostra, naturalmente, o radicalismo dentro deste partido”, avisou Justus von Daniels, redactor-chefe do Correctiv, citado no canal Euronews.

O artigo avisa: “O que foi planeado nesse fim-de-semana é um ataque à existência humana. E não é nada menos do que um ataque à constituição da República Federal da Alemanha”.

A líder da AfD já reagiu. Alice Weidel disse que o seu partido “não mudará a sua posição sobre a política de imigração, que pode ser lida no programa do partido e que está totalmente de acordo com a Lei Fundamental”.

ZAP //

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