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O futebol é só o início. O plano da Arábia Saudita para dominar o mundo até 2030

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USDoD / Wikimedia

O príncipe saudita Mohammed bin Salman

O desporto é apenas uma das componentes do Saudi Vision 2030, um megaprojecto do príncipe saudita que pretende diversificar a economia do país e reduzir a dependência do petróleo.

Tudo começou com a ida de Cristiano Ronaldo para o Al-Nassr no final de 2022. Desde então outros grande nomes como Karim Benzema e Ngolo Kanté também já fizeram as malas rumo à Arábia Saudita e há rumores de que outros jogadores, como Hakim Ziyech ou Sergio Busquets também podem estar a caminho.

E para quem pensa que só jogadores com um pé na reforma é que estão interessados, os portugueses Rúben Neves de 26 anos, e Bernardo Silva, de 28, também estão a ser associados a uma saída para o Médio Oriente.

Já muita tinta tem corrido na imprensa sobre como estas contratações com salários gigantescos podem progressivamente fazer com que os principais talentos do futebol troquem a Europa pela Arábia Saudita e o impacto que podem ter para o futuro do desporto.

Mas a verdade é que tudo isto é apenas a ponta do icebergue na revolução que o príncipe saudita Mohammed bin Salman quer instaurar no país. Lançado em 2016, o projecto Saudi Vision 2030 pretende reduzir a dependência da nação do Golfo no petróleo e diversificar a sua economia com apostas noutros sectores, como o turismo, a educação ou, claro, o desporto.

Ibrahim Alkassim, secretário-geral da Federação de Futebol saudita, revela ao Goal que o futebol é um dos factores tidos em conta num dos pilares fundamentais de todo o plano. “O Vision 2030 assenta em três pilares principais, o primeiro deles é a qualidade de vida. O desporto faz parte da qualidade de vida”, considera.

“Quando escolhemos o nome Vision 2030, o desporto era só o desporto. Mas hoje em dia o desporto é uma parte maior da economia. Se falarmos do ecossistema de qualquer cultura em qualquer país, o desporto não só impacta directamente a economia como também outros sectores, como a saúde. Uma nação desportiva não tem de gastar tanto na saúde”, reforça.

Talvez sejam estas razões que explicam o interesse dos sauditas em seguir o exemplo dos vizinhos do Qatar e organizar o Mundial de futebol da FIFA em 2030 ou a entrada na Premier League com a compra do Newcastle em Outubro de 2021, por mais de 400 milhões de dólares.

A vitória histórica do país sobre a Argentina no último Campeonato do Mundo — que até foi assinalada com um feriado nacional — já é um sinal do enorme progresso que o futebol está a fazer no país.

O desporto-rei não é o único alvo. Nos últimos anos, a Arábia Saudita já investiu 1,5 mil milhões de dólares na organização de eventos de vários desportos, desde o boxing ao xadrez, de acordo com um relatório da organização de direitos humanos britânica Grant Liberty.

O país também terá gasto cerca de 900 milhões de dólares para garantir a organização do Grande Prémio de Fórmula 1 durante 10 anos e o Comité Olímpico saudita anunciou em Novembro de 2021 que iria gastar quase 700 milhões de dólares na criação de 90 federações e nas suas infraestruturas de apoio, de forma a que os atletas sauditas cheguem ao topo do desporto mundial, revela a Time.

O objectivo de tudo isto será transformar a Arábia Saudita numa mega-potência desportiva. Para além dos milhões que os fanáticos do desporto trarão aos cofres sauditas, o marketing também não é esquecido.

Todos estes investimentos ajudam o país a ser visto com uma nação evoluída e aberta ao mundo e a eliminar a imagem de uma ditadura repressiva que muitos associam aos petro-Estados do Golfo Pérsico. Este fenómeno é conhecido como sportswashing — quando um país ou empresa usa o desporto para lavar a sua imagem pública.

Não é só o desporto

O desporto é uma das principais componentes do Saudi Vision 2030, mas há muito mais nos planos. O petróleo é actualmente responsável por cerca de 85% das exportações e 40% do PIB da Arábia Saudita, pelo que a aposta desportiva não é suficiente para diversificar a economia do país.

Estes números já são significativos, mas ainda escondem a verdadeira dimensão da dependência petrolífera dos sauditas, dado que muitas das outras indústrias no país derivam do petróleo, como os plásticos, ou precisam de subsídios estatais que são financiados precisamente pela venda do ouro negro.

Mas o ouro negro não vai durar para sempre. Uma das grandes apostas de Mohammed bin Salman para diversificar a economia saudita é o minério — o país tem 7% das reservas mundiais de fosfato, assim como reservas significativas de ouro, bauxita, cobre e zinco.

Alguns destes minerais ganharão relevância à medida que avança a transição para as energias limpas, precisamente ao mesmo tempo que o petróleo perderá terreno. Em 2015, o minério representava apenas 4% da economia saudita, um número que o Vision 2030 quer duplicar este número e criar 90 mil empregos no sector.

O turismo é o outro grande trunfo na manga do príncipe. Se projectos como o Mundial 2030 ou as corridas de F1 já prometem atrair visitantes de todo o mundo, a aposta do Governo saudita é essencialmente no turismo religioso.

Afinal de contas, é na Arábia Saudita que fica a cidade sagrada de Meca, que todos os muçulmanos devem visitar pelo menos uma vez na vida. Mohammen bin Salman quer quadruplicar o número de turistas em Meca até 2030, em comparação com 2015. E apesar da quebra durante a pandemia, o número já tinha duplicado em 2018.

Os vários projectos megalómanos da NEOM, uma cidade futurista em camadas e com zero emissões de carbono, também integram a visão para 2030. O mais notório é o The Line, um arranha-céus que teria 170 quilómetros de comprimento e 500 metros de altura. Sim, leu bem: 170 quilómetros, quase tão comprido como a distância de Lisboa a Coimbra. O plano é que nove milhões de pessoas vivam neste edifício.

O The Line não é o único plano arquitectónio inovador da NEOM. Está ainda prevista a construção do OXAGON, o maior complexo industrial flutuante do mundo, e do Mukaab, um arranha-céus em forma de cubo gigante com 400 metros de altura, largura e comprimento onde caberão 20 Torres Eiffel.

Apesar da competição pelo capital privado com os vizinhos do Golfo — que estão a avançar com medidas semelhantes para não dependerem do petróleo — há dados que indicam que vários dos objectivos do príncipe saudita estão a ser cumpridos. Por exemplo, o sector agrícola saudita cresceu quase 8% em 2021 e o turismo já representa mais de 5% do PIB do país.

A cereja no topo do bolo seria a Arábia Saudita organizar a Expo 2030, que decorrerá entre 1 de Outubro de 2030 até 31 de Março de 2031. Riade apresentou a sua candidatura no ano passado, numa carta assinada pelo príncipe. A Coreia do Sul, Itália e a Ucrânia também já se candidataram.

Adriana Peixoto, ZAP //

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2 Comments

  1. Infelizmente a inteligência não parece ser o forte desta gente, gostam de dar nas vistas como um menino rico e minado, como se o dinheiro não tivesse fim. Infelizmente para eles a sua unica riqueza vai-se acabar em algumas, poucas, decadas e mesmos que continuem a haver reservas a procura vai diminuir cada vez mais. tal como a formiga seria tempo de poupar e investir num futuro melhor, mas como a cigarra compram tudo , não importa a que preço sem olhar para o amanhã.

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