“The Line” é o nome da cidade futurista que a Arábia Saudita está a construir, no meio do deserto, num ambiente de secretismo. Mas foram divulgadas imagens de satélite que mostram o aparato das obras de construção.
O projeto de 500 mil milhões de dólares, criado no âmbito do megaprojeto NEOM, foi lançado pelo Príncipe saudita Mohammed bin Salman bin Abdulaziz em 2021, como uma “revolução civilizacional”.
Em causa está a construção de uma cidade futurista com 200 metros de largura, 170 quilómetros de comprimento e 500 metros de altura. Em comparação, a Torre Eiffel tem 330 metros e o Empire State Building tem 450 metros.
Esta cidade do futuro está a ser construída no meio do deserto, entre montanhas, no norte da Arábia Saudita numa área de 34 quilómetros quadrados. O objetivo é que a partir de 2030, comece a acolher os primeiros habitantes, prevendo-se que tenha capacidade para 9 milhões de pessoas.
Contudo, apesar do anúncio público da obra, pouco tem sido revelado sobre o evoluir da construção que arrancou, ao que se sabe, em Abril deste ano. E continua a ser impossível detectar quaisquer sinais da cidade no Google Maps, o que está a ser apontado como estranho.
Em Outubro deste ano, foram divulgadas imagens filmadas por drone que mostram a construção em andamento, mas com muito pouco para ver.
Algo suspeito ou só desinteresse?
A startup australiana Soar Earth que agrega imagens de satélite e mapas de crowdsourcing num atlas digital online, detectou “lacunas significativas”, nomeadamente a inexistência de “imagens de alta resolução” do local de construção, como refere à MIT Technology Review (MTR), a revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o CEO e fundador da empresa, Amir Farhand.
Essa ausência de imagens pode estar relacionada com os interesses económicos envolvidos, uma vez que as imagens de satélite podem ser usadas para as empresas perceberem como os seus rivais estão a actuar, explica à revista o professor de Geografia Jamon van den Hoek, director do Laboratório de Ecologia de Conflitos da Universidade Estatal do Oregon, nos EUA.
A inexistência de imagens de “uma área que está a passar por um rápido investimento económico” pode significar que “algo suspeito está a acontecer”, salienta Van den Hoek. Pode haver alguém “com dinheiro a comprar essas imagens ao mais alto nível, mantendo o direito exclusivo sobre elas”, acrescenta.
Mas essas falhas em termos de imagens disponíveis podem ter, simplesmente, a ver com o facto de que “ninguém se preocupou com a alta resolução porque é no meio de um deserto e as imagens de alta resolução são incrivelmente caras“, repara o também professor de Geografia Doug Specht da Universidade de Westminster em Londres, igualmente citado pela MTR.
Independentemente do que esteja em causa, a Soar Earth pagou a duas empresas asiáticas, uma da China e outra de Singapura, para recolherem fotos da área de construção, usando satélites de baixa órbita.
Farhand ficou espantado com o que revelaram. “Não conseguia acreditar no quão grande era o acampamento de construção“, confessa à revista do MIT.
A equipa da Soar Earth contou 425 veículos de escavação e mais de 650 veículos numa área de construção de cerca de cinco quilómetros quadrados. Existe ainda uma área para abrigar os trabalhadores nas proximidades das obras que inclui piscinas, campos de futebol e campos de críquete.
Os milhares de trabalhadores envolvidos nas obras já terão escavado “cerca de 26 milhões de metros cúbicos de terra e rocha – 78 vezes o volume do edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa“, aponta a revista do MIT.
Sem carros e com táxis aéreos eléctricos
Esta cidade futurista baptizada “The Line” prevê a construção de um único edifício de 170 quilómetros de comprimento, com paredes espelhadas que o fazem confundir-se com a paisagem deserta envolvente.
O projecto assenta em tecnologias que ainda não estão comprovadas, nomeadamente táxis aéreos eléctricos, pois não terá carros, mas também robôs domésticos, a dessalinização da água do mar usando energia renovável e a “sementeira de nuvens” para provocar chuva.
Assim, há quem questione se terá condições para sair de facto do nível do sonho.
Os autores do projecto asseguram que “funcionará com 100% de energia renovável” e que terá como prioridades “a saúde e o bem-estar” acima do transporte e das infraestruturas.
Vaticinam também que será uma cidade sustentável e auto-suficiente, com um sistema de micro-clima e ventilação natural, e fontes de energia e água 100% renováveis.
“The Line” parte do conceito de “Urbanismo Zero Gravidade” que se baseia na “ideia de sobrepor verticalmente as funções da cidade, permitindo que os habitantes se movam perfeitamente em três direcções – para cima, para baixo e transversalmente”, refere-se nas comunicações de divulgação.
Este conceito “facilita a mobilidade na cidade, oferecendo acesso rápido a escritórios, escolas, parques e instalações residenciais”. “O design modular exclusivo de The Line garante que todas as instalações e comodidades possam ser acedidas numa caminhada de cinco minutos“, apontam ainda os promotores do projecto.