A Polícia Judiciária (PJ) está “convencida” de que o autor do fogo que teve origem em Valongo e se estendeu a Santo Tirso, onde dezenas de animais morreram, é um eletricista que foi esta quarta-feira detido por esta força policial.
“O início desse incêndio – que depois tomou os abrigos [de animais na serra da Agrela, em Santo Tirso], e levou à morte daqueles animais – ocorreu exatamente naquela que era a zona de atuação do suspeito [detido esta quarta-feira]. E o local onde começou, a forma como começou e alguns elementos que ligam a presença dele naquele local nos momentos que antecederam o início da ignição, faz-nos convencer que esse terá sido também um dos incêndios que tiveram origem no comportamento dele”, disse esta tarde o diretor da Diretoria Norte da PJ, Norberto Martins.
O responsável falava aos jornalistas em conferência de imprensa, depois de esta tarde a PJ ter emitido um comunicado no qual revelou que deteve um homem de 29 anos com antecedentes criminais suspeito de atear fogos numa zona florestal, mas onde estão localizadas “inúmeras” empresas e casas de Valongo e Baltar.
Nesse comunicado a PJ recordava, a propósito desta detenção, que tem sido “noticiado o caso do incêndio que vitimou dezenas de animais, num abrigo em Agrela [concelho de] Santo Tirso”, o qual “teve origem em Valongo”.
“Pelo que a imputação [ao suspeito] de também esta ignição está a ser avaliada pela investigação”, lia-se no comunicado da PJ que descreve ter detido o suspeito em flagrante, estando este indiciado por mais de três dezenas de incêndios florestais, ocorridos na zona de Sobrado, em Valongo, bem como em Baltar, concelho de Paredes.
Norberto Martins admitiu como “possível” a tese de que o homem detido esta quarta-feira, um eletricista com antecedentes policiais, terá sido o autor do fogo que atingiu dois abrigos para animais localizados em Santo Tirso, no distrito do Porto, que, a 18 de julho vitimou 73 animais, situação que já levou à abertura de um inquérito pelo Ministério Público e à contestação sobre a atuação das autoridades de socorro.
No entanto, o diretor da Diretoria Norte da PJ procurou sublinhar que a investigação está em curso. “Mas a investigação é difícil e complexa (…). Estamos convencidos de que terá sido ele, mas carece de outros elementos para consubstanciar a nossa suspeita”, disse o diretor, que falava nas instalações do Porto da PJ ao lado de Pedro Silva, coordenador da Secção de Investigação de Crimes contra o Património e Vida em Sociedade (departamento que investiga crimes de incêndio, adulteração de veículos automóveis e roubo de obras de arte sacra, entre outros).
Apanhado em flagrante
Norberto Martins contou que o suspeito detido esta quarta-feira em flagrante em Sobrado, no concelho de Valongo, após ter dado início a um incêndio junto ao kartódromo de Baltar, no concelho de Paredes, Isa como método de ignição um isqueiro e material altamente inflamável e apresenta “comportamento erráticos”.
O detido é suspeito de ter ateado “talvez 30 incêndios” desta forma, disse o diretor da PJ do Porto, não sendo ainda conhecida a sua motivação.
“[O uso do mesmo método de ignição] faz-nos convencer que esse [referindo-se ao dos canis de Santo Tirso] terá sido um dos incêndios iniciados por ele, mas isto carece de ser desenvolvido. Não temos a certeza qual a motivação por trás desta atuação. É um indivíduo jovem que já estava identificado pela prática de incêndio há dois/três anos”, referiu Norberto Martins.
O cerco ao homem detido começou há “mais de um mês”, contou também o diretor da PJ e “há vários dias” que “vários elementos” das forças policiais estavam no local a investigar o comportamento deste suspeito.
“Temos diversas imagens dele a percorrer as florestas. Do ponto de vista social, é uma pessoa inserida. Se há um estereótipo [para incendiários], este não seria à partida [um deles]. Tem emprego, está socialmente inserido”, continuou a descrever Norberto Martins.
Quanto ao detido, este vai ser presente quinta-feira a primeiro interrogatório judicial e aplicação das medidas de coação adequadas. Em causa um homem que “teve contacto policial por uma situação da mesma natureza há uns anos”, mas “o processo não teve sequência, nem condenação criminal”, foi esta tarde divulgado.
Por fim, o diretor da PJ Porto aproveitou para fazer um apelo sobre a época de incêndios, lamentando o número de fogos que têm estado a mobilizar operacionais este ano, mas prometendo “um forte empenhamento” no “combate a algo tão complexo”.
“O flagelo dos incêndios tem trazido um grande desconforto e preocupação à sociedade. A PJ tem feito um enorme esforço para combater este fenómeno criminal que é muito complexo. E devo realçar o papel da GNR que tem uma grande importância neste trabalho de articulação. Esta criminalidade tem-nos trazido um grande desassossego”.
Segundo Norberto Martins estão a ser investigadas, só na área de Valongo e Baltar, “centenas de ignições durante os meses de julho e agosto” e, no que diz respeito a toda a Diretoria Norte esta está a receber “em média mais de uma dezena ou próximo disso de comunicações de incêndios florestais por dia”, tendo a “esmagadora” maioria origem humana e “muitas vezes” dolosa.
// Lusa