Estava na praia, sozinho, confuso, muito longe de casa e provavelmente esfomeado. Investigadores já especulam: deve ser “maluco”.
Dia 1 de novembro parecia ser um dia típico de praia na Austrália: olhos cerrados, virados para o Sol quente. De repente, surgiu algo claramente fora do sítio.
Desnutrido, confuso e muito longe de casa, um pinguim-imperador foi encontrado na costa sul, numa praia turística. É o primeiro (que se saiba) a chegar ao país e, até agora, ninguém sabe como o fez.
“Vimos algo a sair da água. Pensámos que era uma ave marinha, mas depois vimos que era demasiado grande, e tinha um pescoço grande e comprido e uma cauda que parecia um pato. Levantou-se na água, veio direitinho a nós e começou a limpar-se”, recorda um banhista ao The New York Times.
O macho adulto, encontrado a 1 de novembro na cidade de Denmark, está agora a ser tratado por um especialista em vida selvagem, informou um departamento governamental na segunda-feira. Estava a cerca de 3500 quilómetros do norte da Antártida, cujas águas geladas habita.
A cuidar do animal, que pertence à maior espécie de pinguins do mundo, está a especialista em vida selvagem, Carol Biddulph. Borrifa-o constantemente com água gelada para o ajudar a suportar o estranho calor.
Happy Friday news story… the globe-trotting Antarctic emperor penguin who washed up over 6000km away in Western Australia, in a world first, is now in good hands on the road to recovery. Excellent vision from the @Science_DBCA here 🐧 pic.twitter.com/ROCNLgnWyG
— Christopher Tan (@christophert77) November 8, 2024
“Nunca, nos meus pensamentos mais loucos, pensei que alguma vez teria um pinguim-imperador para cuidar. É simplesmente fantástico”, diz ao jornal norte-americano.
“O pinguim parecia estar subnutrido“, lê-se em comunicado do Departamento de Biodiversidade, Conservação e Atrações do estado da Austrália Ocidental, que acredita que a sua reabilitação demore algumas semanas: “foi retirado da praia para evitar potenciais ameaças de cães, gatos, raposas e veículos”.
Por esta altura, “ainda estão a ser trabalhadas as opções” para proceder ou não à devolução da ave à Antártida, refere a agência.
O ambiente totalmente novo não terá assustado o jovem pinguim, à chegada. “Não era de todo tímido. Foi muito amigável. Estava muito feliz na nossa companhia“, disse o banhista.
No entanto, o jovem animal foi cedo “avisado” pelas areias da praia que não está em casa. Na areia, deslizar não é tão agradável como fazê-lo na neve. “Fez um pequeno deslize de barriga na areia; acho que pensou que era neve, mas não foi muito longe… deu um tombo”, reforçou.
Como chegou à Austrália?
A estadia do pinguim de 1 metro de altura e 23 quilos já se prolonga há 10 dias, mas os investigadores ainda não fazem ideia do motivo pelo qual o pinguim viajou para Denmark.
Alguns especialistas estupefactos chegam a considerar que o jovem pinguim só pode ser “maluco”, como disse Dee Boersma, professora de biologia da Universidade de Washington e autor de “Pinguins: História Natural e Conservação: “este é o pinguim-imperador mais setentrional [a norte] de que tenho notícia”.
Embora alguns imperadores já tenham chegado à Nova Zelândia, a espécie nunca tinha sido registada na Austrália, sublinha a investigadora da Universidade da Austrália Ocidental Belinda Cannell, que tem anos de experiência com pinguins, à ABC News.
“Os pinguins-imperador deslocam-se, porque têm de estar num manto de gelo ou num glaciar para criar as crias, e os glaciares estão a sofrer erosão”, explicou ainda a especialista: “isso não é invulgar. Têm de continuar a nadar até encontrar comida”.
E a motivação principal para este “maluco”, esfomeado por natureza, encarar uma viagem tão longa, terá mesmo sido a comida.
“Se fores uma ave jovem, sem muita comida, vais procurar noutro lugar”, explica Boersma, que lembra para os níveis recorde do gelo marinho na Antártida, que afastam os pinguins — mas nunca tanto como este último que chegou a Denmark.
A curiosidade também pode ser um fator: “os pinguins jovens precisam de explorar o seu mundo“, disse Boersma, lembrando para o facto de a mobilidade ser muito comum entre pinguins mais jovens.
Ao Times, a investigadora lembra uma viagem ainda mais longa de um pinguim encontrado no Alasca, a milhares de quilómetros do hemisfério sul onde normalmente estes animais são encontrados. Mas esse caso já tem uma explicação plausível: o pinguim terá apanhado boleia de um barco de atum. “Não se pode chegar a um porto com um pinguim, por isso provavelmente atiraram-no borda fora”, especula.