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Peru pode ser o berço da civilização mais antiga da Terra

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Tom D. Dillehay / Vanderbilt University

Os cientistas poderão ter subestimado o ritmo do desenvolvimento da civilização no Novo Mundo

Os cientistas poderão ter subestimado o ritmo do desenvolvimento da civilização no Novo Mundo

Um objecto encontrado no Peru prova a existência de pessoas, há 15 milhares de anos, perto das famosas pirâmides no vale do rio Chicama, e indicia um ritmo muito mais elevado de desenvolvimento da civilização no Novo Mundo do que se supunha.

“Conseguimos encontrar no sítio arqueológico de Huaca Prieta muitos artefactos, incluindo restos de comida, utensílios de pedra e outros vestígios da existência de uma cultura humana antiga, tais como cestos e tecidos decorados”, explica James Adovasio, arqueólogo da Universidade Atlântica, na Flórida, nos EUA.

“Todos estes achados colocam a questão de saber a que ritmo se desenvolveu a civilização na região, e obriga a uma reflexão acerca do nível da sua evolução e das tecnologias que lhe permitia extrair recursos do mar e da terra”, acrescenta Adovasio.

A descoberta foi apresentada num artigo publicado na Science Advances, revista da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Os primeiros seres humanos

Até agora, os cientistas acreditavam que o Novo Mundo tinha sido a última região da Terra a ser povoada. Os paleontólogos achavam, tomando em consideração os vestígios da presença de pessoas na América, que os antepassados dos índios chegaram à América há cerca de 17-15 milhares de anos atrás, migrando da Sibéria para as regiões leste dos EUA através do istmo que existia no local do actual estreito de Bering.

Adovasio e os colegas, no entanto, descobriram indícios de que a América do Sul, ou todo o Novo Mundo, poderá ter sido povoado muito mais cedo do que se pressupunha.

Os pesquisadores encontraram “montanhas de artefactos” na costa do oceano Pacífico, no lugar de Huaca Prieta, no vale de Chicama, onde foram construídas as pirâmides mais antigas do Peru e onde se encontram frequentemente vestígios de povoações de antepassados dos índios, que habitavam nesta parte do país há cerca de 5 a 8 milhares de anos atrás, explicam os cientistas.

Realizando escavações no lugar, a equipa de Adovasio descobriu muitos utensílios primitivos e cestos de cana, bem como grande quantidade de tecidos, pedaços de comida e outros vestígios da existência de uma civilização relativamente desenvolvida.

Enigmas antigos do Peru

Os pesquisadores verificaram a sua teoria medindo a percentagem de isótopos radioactivos da cana e do algodão de que eram feitos os cestos. Os resultados dos testes demonstraram que a idade dos artefactos era superior à que os cientistas esperavam encontrar. A maioria dos achados tinha mais de 8 mil anos e alguns até mais de 15 mil anos.

Uma idade tão antiga dos cestos e tecidos mostra que os cientistas poderão ter subestimado o ritmo do desenvolvimento da civilização no Novo Mundo.

“Tecidos e cestos tão sofisticados significam que em Huaca Prieta havia métodos comuns ou colectivos de produção, e que estes objectos eram fabricados por vezes sem ser para uso corrente. Tal como outros artefactos locais, provam que havia uma sociedade complexa e que seus membros queriam mostrar sua posição social“, explicou o cientista.

Mas está ainda por apurar a questão de como é que surgiu esta civilização. Segundo os autores do artigo, a sua descoberta não é uma prova final de que os antepassados dos peruanos tenham penetrado na América do Sul seguindo o caminho migratório do oceano Pacífico.

Futuras escavações em Huaca Prieta e em outras estações de seres humanos na América ajudarão a entender a verdadeira história de aparecimento dos índios, concluem os cientistas.

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