PCP: O aumento dos salários foi a gota de água que despoletou um tsunami na política portuguesa

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António Cotrim / Lusa

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa

Marcelo Rebelo de Sousa anunciou, mesmo antes da entrega do Orçamento, que caso o documento não fosse aprovado avançaria para a dissolução da Assembleia da República, posição que o PCP critica e contesta.

A recusa do Governo em aumentar, ou sequer negociar, o valor do salário mínimo para 2022 terá sido a gota de água para os dirigentes comunistas que, até ao último minuto, consideraram viabilizar o documento. A proposta inicial do Executivo cifrava-se nos 705 euros, mas o PCP queria 755 euros. A cedência neste ponto seria, escreve o jornal Público, suficiente para um voto favorável pelos deputados comunistas — que mesmo após a reunião do Comité Central do partido, no sábado anterior à votação, mantinham em aberto a sua posição.

Como tal, entre as hostes comunistas existe a ideia que, neste cenário de crise política, o Presidente da República é um dos principais responsáveis, por ter afirmado publicamente que caso o Orçamento do Estado para 2022 não fosse aprovado iria avançar com a dissolução da Assembleia da República e, consequentemente, o país iria para eleições legislativas antecipadas. No entendimento do PCP, este era o desejo do Partido Socialista desde o início, pelo que facilitou a postura intransigente do Governo nas negociações.

Ao longo dos últimos dias, têm sido muitas as vozes que se levantaram contra a postura da de Marcelo Rebelo de Sousa, a quem acusam de dar “ao Governo a senha de que este precisava para rejeitar qualquer esforço sério de convergência que permitisse viabilizar o Orçamento do Estado”.

O líder da bancada do PCP, João Oliveira, afirmou ao jornal Público que o “o Presidente da República decidiu o desfecho da discussão do Orçamento do Estado” quando anunciou que iria convocar eleições. “Os pedidos de maioria absoluta de sucessivos membros do Governo não soam a resposta de imprevisto”. As intenções do PCP não coincidiram com o efetivo desfecho que o partido pretendia e que passava, por exemplo, pela apresentação de um “segundo orçamento” — opção que foi recusada pelo Governo.

Depois de seis anos a viabilizar Orçamentos do PS, e a permitir a continuação do seu Governo, o PCP já acusava “cansaço“, mas era unânime dentro do partido que este não era o momento certo para deixar cair a solução governativa à esquerda face ao cenário pós-pandémico e aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (e a todas as regras que lhe estão inerentes). O partido tinha como objetivo ver no Orçamento do Estado refletida “a bazuca dos trabalhadores“.

João Oliveira fala mesmo em “desconsideração” do Governo em relação ao PCP, sobretudo porque ao longo dos anos os comunistas se assumiram como os “parceiros confiáveis” do Governo, em oposição ao Bloco de Esquerda.

ZAP //

15 Comments

  1. Eu gostava mesmo, mesmo, era o Ti Gerónimo em 1º Ministro. O meu salário subia num instante para os mil!!! Assim, prefiro o RSI. É muito melhor. Assim não faço nada e ninguém me quer como empregado. Já estou no desemprego.

  2. Se despoletou, então não há qualquer problema. É que despoletar significa tirar a espoleta de uma munição, isto é, por analogia, retirar a capacidade de desencadear ou iniciar a acção.

  3. Enquanto Portugal não aumentar o salário mínimo nacional substancialmente, vai ser sempre o que nos países mais ricos da chamam de “Índia da Europa”. Ou seja, temos força de trabalho competente, capaz e muito barata, a preço de saldo para quem já tem muito poder de compra. Os países mais ricos adoram Portugal, pois aqui têm segurança, sol e muitos criados para as suas férias baratas, e ainda podem por cá investir, tirando grande proveito a troco de migalhas. Isto, é claro, é um mal mundial. Portugal nesta triste condição é só um sintoma de um problema muito maior.

    • O progresso económico não se decreta.
      Há países que nem sequer têm salário mínimo e, no entanto, têm salários bem mais altos do que Portugal.
      A prioridade é estimular a criação de emprego, não aumentar os salários de quem já é afortunado por ter um emprego. Mas estimular a criação de emprego não se faz com as políticas preconizadas pelo PCP e BE.

      • É verdade, nesses países onde não há salários mínimos os trabalhadores não trabalham por menos que um determinado valor, que lá é socialmente considerado digno, e bem mais elevado que o nosso salário mínimo. São países em que se dá muito mais valor ao trabalho do que cá. E é triste constatar que, de facto, aqui em Portugal ter emprego é ser-se afortunado, mesmo que, em muitos casos trabalhando e continuando pobre.

      • Pergunte a qualquer um dos 350 mil desempregados em Portugal se ter emprego não é ser-se afortunado e verá!

      • Sei que é verdade, haja trabalho e saúde, que já é meio caminho andado. Mas é uma triste realidade, a de muitos empregados a receber o salário mínimo actual que não os consegue manter à tona de água.

    • Desculpe que lhe diga mas não percebeu o problema.
      O problema é que o salário tem que traduzir o trabalho desenvolvido e o resultado gerado e aí existem duas componentes importantes, o trabalhador como executante e o empregador como gestor e organizador.
      Se tiver um excelente trabalhador e um mau empregador ou vice versa, o resultado vai ser insuficiente, apesar do esforço válido do que desempenhar bem o seu papel, mas que não consegue contrabalançar o defeito do outro.
      Subsistem dúvidas sobre a importância para o desempenho de cada um deles de per si, qual o factor diferenciador.
      Um ilustre cidadão que já nos deixou deu há muito tempo a receita: despedir metade, exigir o trabalho feito a essa metade que fica sem ser despedida e aumentar o vencimento para o dobro. Nesta altura provavelmente a solução ajustada será despedir 2/3 e aumentar o vencimento para o dobro.
      Com 10 milhões de habitantes, não sei quantos milhões de reformados, não sei quantos milhões de crianças, 730 mil funcionários públicos, 300 mil desempregados e os restantes é que tem que produzir riqueza para sustentar tudo ? Só contaram para você …
      Com esta dinãmica não há hipótese … e com 35 horas de trabalho semanal também não me parece

      • Sim, tem razão naquilo que diz. Recompensar os que trabalham bem e penalizar os que trabalham mal seria uma justa medida, para começar. Mas acredito que o ponto de partida para os salários deveria ser mais alto, porque mesmo se todos os intervenientes fossem competentes, é actualmente muito baixo.

  4. Este Sr. Jerónimo mais parece a Rainha da Inglaterra, nunca mais perde o poder no PCP, este podia ir para o Vietname do Norte ou para a URSS, em portugal não faz falta a não ser nos festejos autorizados contra o Convid Eu não quero acabar com os Ricos mas sim com os Pobres, muito ficara por revelar, a começar pelo Genro armado em electricista em Loures.

  5. Agora todos vêm cair sobre PCP e BE considerando-os os verdadeiros responsáveis pela situação atual, mas na realidade o caso não é bem assim, pois o grande responsável por tudo isto é António Costa e o seu partido que ao terem contraído casamento com a extrema-esquerda se predispuseram a esta situação com a agravante de terem recusado qualquer diálogo mais à sua direita. Sabiam de antemão que se estavam a aliar a dois partidos antieuropeístas o que já de si, provocaria alguns contratempos, mas certamente convencidos também que com a sua arrogância e autoritarismo acabariam por os dominar. O tiro saiu pela culatra a todos eles, os dois de extrema-esquerda só têm perdido votantes com tal matrimónio, pois são partidos de contestação e não de governação, por seu lado o PS terá que ser penalizado por todo o sucedido, desde o assalto ao Poder com minoria com a estratégia que montou, aos parceiros escolhidos e ao fecho do diálogo mais à sua direita rejeitando desta forma metade dos portugueses e demonstrando soberba e autoritarismo!

    • Desta vez não enganam ninguém, os Portugueses preocupados com o Orçamento do Estado seguiram tudo ao pormenor, até viram a reprovação do orçamento por causas que nada tinha a ver com o Orçamento, os trabalhadores andaram 6 anos sem ouvir falar em trabalhadores, era só função pública, enfermeiros, agora que se vai a eleições, voltam a falar em trabalhadores, esquisito, não é?

  6. Foi a gota, para os militantes abrirem os olhos, e perceberem que nem o BE nem o PCP são partidos dos trabalhadores ou até Partidos de Esquerda, os trabalhadores já tem mais medo destes partidos do que dar a maioria absoluta ao PS.
    É engraçado que o BE e o PCP passaram 6 Anos sem falar em trabalhadores, era só função pública, função Pública, Enfermeiros, Enfermeiros, e agora para as eleições Já Fala em Trabalhadores. É significativo.

    • Nesse caso o senhor Costa que com a sua arrogância e ganância desmedida pelo poder e se imagina tão esperto, não soube em 2015 prever o que mais tarde poderia acontecer com um matrimónio com a extrema-esquerda? Estes no que lhes concerne são mais coerentes do que ele ao manterem-se nas causas que dizem defender! Vem agora piscar o olho à sua direita, mais na intenção de salvar a pele do que reconhecer propriamente que foi totalitário em recusar diálogo com representantes de metade do país e agora pagamos nós pelo atoleiro em que nos meteu!

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