A eventual geringonça já tem uma baixa

1

Manuel de Almeida / LUSA

Paulo Raimundo ouve Jerónimo de Sousa durante o Encontro Nacional do PCP

Jerónimo de Sousa, que assinou acordo com PS e BE em 2015, avisa que agora o PCP “não está virado” para uma nova versão.

O secretário-geral do PCP propôs este sábado subir o salário mínimo nacional para os mil euros em maio e aumentar em pelo menos 70 euros todas as pensões, comprometendo-se a apresentar o programa eleitoral em 25 de janeiro.

“Quando se assinalam 50 anos de Abril, e no próximo mês de maio se assinalarão os 50 anos da criação do salário mínimo nacional, a melhor forma de honrar e cumprir Abril é garantir que já em maio nenhum trabalhador em Portugal ganhe menos de 1.000 euros de salário por mês“, declarou Paulo Raimundo no Encontro Nacional do PCP sobre eleições, em Lisboa, provocando um longo aplauso da plateia, que gritou “é justo e necessário o aumento do salário”.

Numa alusão à proposta do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, o líder comunista defendeu que “a urgência” de aumentar o salário mínimo nacional para os mil euros “coloca-se agora e não em 2028”.

A par desta proposta, Paulo Raimundo voltou a defender que todos os salários devem ser aumentados em 15%, com um mínimo de 150 euros, “colocando o objetivo da convergência do salário médio em Portugal com o salário médio na zona euro em quatro anos”.

No que se refere às pensões, o líder comunista defendeu que reformados, pensionistas e idosos precisam de ter “as suas pensões e reformas devidamente valorizadas”, propondo que em 2024 seja fixado um aumento de 7,5% com efeitos retroativos a janeiro, para garantir “que nenhum reformado tenha um aumento inferior a 70 euros na sua pensão ou reforma”.

“Da mesma maneira garantindo que, já em 2024, a pensão mínima de quem se reforma com 40 anos de desconto passe dos atuais 462 para os 555 euros. Esta é uma medida de grande alcance, de grande significado e de grande necessidade”, disse.

Paulo Raimundo disse que “este é o momento de enfrentar quem se acha dono disto tudo“, considerando que “dar força ao PS é dar votos a uma ilusão” e votar na direita é escolher o retrocesso.

O líder dos comunistas afirmou que “podem difundir todas as sondagens, pintar todos os cenários, tentar que a discussão se resuma à troca de galhardetes entre A e B, evitar que a discussão seja sobre a realidade da vida”, mas não contarão com o seu partido para “essas manobras”.

“Os problemas do país não se resolvem nem com declarações de boas intenções, nem com mudanças de estilo ou reciclando protagonistas”, afirmou.

Geringonça outra vez? Não

Jerónimo de Sousa também foi ao encontro foi aplaudido de pé. Fez a defesa dos resultados da ‘geringonça’ e contrariou a ideia do “voto útil” no PS que depois se torna inútil.

Nas eleições legislativas de 10 de março, defendeu Jerónimo, “é preciso denunciar vivamente a abusiva apropriação pelo PS dos avanços alcançados na defesa, reposição e conquista de direitos” que resultaram “sempre da ação determinada das forças da CDU”. Também é necessário, afirmou, “reavivar a memória do papel e das malfeitorias dos protagonistas da política de direita e os seus governos”, PS e PSD, nas teses dos comunistas.

Jerónimo de Sousa, que deixou a liderança do partido em novembro de 2022, dando lugar a Paulo Raimundo, voltou à defesa de uma “política alternativa, patriótica e de esquerda” e fez um duro ataque ao PS. O que o PS queria, nas eleições de 2022, era “ficar de mãos livres para regressar à sua política de sempre – a desatrosa política de direita – e governar sem empecilhos”.

O resultado foi mau, como o empobrecimento das populações, governar para “os grandes interesses económicos e financeiros”, disse. Contrariando o voto útil à esquerda no PS, Jerónimo pediu votos na coligação liderada pelo PCP, e pediu que “ninguém fique de fora destes combates ” – as eleições deste ano. “Insistir e insistir sempre na suprema utilidade do voto na CDU, ao contrário de outros, um voto que é sempre útil a quem o dá”, disse.

Mas Jerónimo de Sousa não deixou de alertar de que o partido “não está virado” para a reedição da ‘geringonça’ “por razões da vida, por razões políticas” e para manter a sua “palavra de honra para com os portugueses”.

Em declarações aos jornalistas à margem do encontro, Jerónimo de Sousa foi questionado se haveria vantagem em voltar reeditar-se a ‘geringonça’, que o próprio negociou em 2015.

Na resposta, o ex-secretário-geral comunista, que deixou a liderança do partido em novembro de 2022, considerou que, na campanha para as legislativas de 2022, o PS “agigantou o medo da direita”, com o discurso “aqui d’el rei que vem aí o diabo”, e agora “o problema de fundo, os problemas nacionais estão aí por resolver”.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

  1. O PCP vem agora dizer que não quer reeditar a geringonça!
    Já se percebeu que se quer distanciar de tal coligação para não perder mais votos para o PS, pois o PCP está mesmo a desaparecer.
    Não obstante, quando chegar à noite das eleições, vamos ver o PCP a juntar-se ao PS só para contrariar a direita.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.