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Paulo Gonçalves constituído arguido no caso dos emails do Benfica

Manuel de Almeida / Lusa

Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica

O assessor jurídico do Benfica foi, esta quinta-feira, constituído arguido na sequência de buscas da Policia Judiciária ao clube, por ter estatuto de advogado, disse fonte do clube.

De acordo com a mesma fonte, a constituição de arguido a Paulo Gonçalves “não reside em nenhuma suspeita concreta do processo, mas sim das exigências do próprio estatuto da ordem dos advogados que assim determina sempre que um advogado forneça informação num âmbito de um processo”. Pelo mesmo motivo, um elemento da Ordem dos Advogados esteve presente a acompanhar a diligência.

Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a SAD os encarnados informou que “no dia de hoje foram realizadas buscas na sua sede social que, de acordo com a Procuradoria Geral Distrital de Lisboa, se relacionaram com o denominado ‘caso dos emails do Benfica’“.

“Mais se informa que a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD não foi constituída arguida e prestou toda a colaboração com vista ao apuramento dos factos”.

A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) confirmou a investigação a um suspeito, no âmbito do caso dos emails do Benfica, por corrupção passiva e ativa.

Em comunicado, a PGDL dá conta da emissão de mandados de busca domiciliária e não domiciliária, no âmbito de uma investigação em curso pelos crimes de corrupção passiva e ativa, por parte da nona secção do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.

Computador de Vieira passado “a pente fino”

Segundo o Correio da Manhã, o computador pessoal de Luís Filipe Vieira, que estava em sua casa, em Lisboa, foi passado a pente fino, assim como os computadores dos restantes alvos. Em alguns casos, a PJ apreendeu mesmo os aparelhos, noutros copiou apenas o software.

As buscas também incidiram sobre os telemóveis dos suspeitos e foram copiadas as mensagens e a listagem das chamadas feitas e recebidas. Foi levantado o segredo das comunicações por ordem de um juiz de instrução, escreve o jornal.

De acordo com o diário, a Benfica TV também foi alvo de buscas, bem como a área jurídica, financeira e contabilística dos encarnados.

“Até que enfim que cá vieram”

O advogado do Benfica João Correia congratulou-se com a visita da PJ às instalações do clube, considerando que esta apenas peca por muito tardia.

“Até que enfim que cá vieram. Perante as insinuações, sugestões feitas relativamente a factos fraudulentos praticados pelo Benfica, todos queríamos, avidamente, o único meio para destruir essas acusações, que era este episódio que se passou aqui hoje. Que a PJ cá viesse para verificar em pormenor se era verdadeiro. Estávamos desejosos que isso acontecesse”, assegurou.

Em declarações à BenficaTV, o causídico reforçou: “Que concluam rapidamente e de forma muito rigorosa e definitiva se há ou não qualquer corrupção desportiva por parte do Benfica”.

João Correia lamentou a ausência de “celeridade na investigação”, considerando que a mesma acabou por permitir “sistemáticas ofensivas ao Benfica, enquanto instituição, diretores e funcionários”.

“Estamos cansados, até como cidadãos, de verificar que a cada semana se anuncie novo crime para a seguinte. Não conheço nenhum país civilizado em que isto seja possível. Na próxima semana vou praticar outra vez um crime e tudo continua na paz do senhor”, criticou, referindo-se às revelações, que chegam a ser semanais, de Francisco J. Marques.

O assessor jurídico encarnado defende “punição” para o Benfica “caso se verifique o crime de corrupção ou influência perversa dos resultados desportivos”, mas também deseja um “forte castigo” para quem tem acusado o clube, caso os pressupostos se verifiquem infundados.

O responsável recordou ainda as queixas do clube quanto à violação do seu sistema informático, lamentando que ainda nenhuma autoridade nacional tenha dado seguimento às mesmas.

O sistema informático do Benfica foi invadido. Isso é crime. Não há resultados desse crime. Verdadeiros ou falsos – e não interessa muito se são ou não – os emails são propalados como sendo próprios do Benfica. Na hipótese de o ser, é uma violação de correspondência”, acusa.

João Correia revelou que já foram apresentadas “solicitações a todas as instâncias criminais em Portugal” e lamentou o facto de “até agora nada” ter sido feito. “Ou há um lastro investigatório para agir com mais cautela face aos autores dos crimes ou algum desleixo. Aposto mais na primeira hipótese”, concluiu.

Francisco Marques revela como teve acesso aos emails

O diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, acusa o Benfica de influenciar o setor da arbitragem e apresentou alegadas mensagens de correio eletrónico de responsáveis encarnados, nomeadamente de Paulo Gonçalves e Luís Filipe Vieira.

Entre outras situações, o responsável dos dragões revelou também a alegada partilha de mensagens de telemóvel do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, na altura em que presidiu à Liga de clubes, entre o diretor de conteúdos da BTV, Pedro Guerra, e o ex-presidente da Assembleia-Geral da Liga Carlos Deus Pereira.

Segundo o Diário de Notícias, o dirigente azul e branco diz que tudo começou com “a cartilha”. “Ao contrário do que dizia o Adão Mendes, nós não apagamos tudo. O primeiro contacto foi através de um email com a cartilha e eu quis, desde logo, averiguar a veracidade do que tinha à minha frente”, explicou no Porto Canal.

“Algum tempo depois, recebi novo email, com ‘print screens’ com contas de email e aí pensei que não havia volta a dar. As autoridades sabem disso desde sempre. Depois criei uma conta de email, um email encriptado. E foi através dessa conta de email que cheguei a grande parte das mensagens. Quando olhei para aquilo, constatei o interesse público do que lá estava”, disse ainda.

Foi dado mais um passo para um desporto limpo. É a maior operação policial e judicial a um clube na história do futebol, que se espalhou por todo o país”, afirmou.

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