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“Ironia do destino”. Centeno terá de esperar cinco anos para ir para o Banco de Portugal

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Mário Cruz / Lusa

Os deputados consideraram esta terça-feira “ironia do destino” o debate parlamentar sobre a alteração das regras de nomeação do governador do Banco de Portugal acontecer momentos depois de ser noticiado que Mário Centeno já não é ministro das Finanças.

Esta terça-feira foram debatidos na Assembleia da República projetos de lei apresentados por CDS-PP, PAN, Iniciativa Liberal e PEV, com o objetivo de alterar as regras de nomeação dos membros da direção do Banco de Portugal e também das entidades administrativas independentes.

Este debate arrancou poucos minutos depois de ter sido anunciado que Mário Centeno abandonou o Governo e que o até agora secretário de estado do Orçamento, João Leão, será o próximo ministro das Finanças.

Não deixa de ser uma ironia do destino que, ao mesmo tempo que estamos a discutir esta propostas, aliás já aqui várias vezes discutida, estejamos também a saber que neste momento o ministro das Finanças já não o será, ou seja, que o ministro Mário Centeno já não será ministro das Finanças”, observou a deputada Cecília Meireles, do CDS-PP.

A parlamentar democrata-cristã aproveitou também para salientar que a proposta por si apresentada “não é uma legislação para andar a reboque de casos concretos, não é uma legislação para andar atrás de um nome em concerto”, mas “porque é uma legislação sólida e bem feita, aplica-se a este caso concreto”.

Cecília Meireles questionou “que garantias de independência teria o governador Mário Centeno perante o ministro das Finanças João Leão” e se “será mesmo de acreditar que o governador, ex-ministro, seria independente face ao ministro, seu ex-secretário de estado”.

Para o PAN, “mais do que nunca, é preciso assegurar que o próximo governador do Banco de Portugal é alguém credível, competente, livre de pressões políticas ou de pressões dos regulados, não permeável a escândalos, despojado de conflitos de interesse e, principalmente, que não fique, como Carlos Costa ficou desde o primeiro dia do seu mandato, numa trincheira entre posições políticas extremadas”.

André Silva, porta-voz do PAN, salientou que, com este projeto de lei, que prevê um “período de intervalo de cinco anos para quem tenha ocupado cargos na banca comercial, no Governo e nas consultoras financeiras”, o partido pretende “um Banco de Portugal forte, independente e credível, livre de pressões da banca comercial, de consultoras financeiras ou do poder político”.

João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, assinalou que “vão achar que este projeto de lei é sobre o ex-ministro Mário Centeno”, mas salientou que a sua proposta – que prevê que o governador possa ser escolhido através de concurso público internacional – “é sobre coisas bem mais perenes, ética, transparência e mérito”.

Pelo PEV, também o líder parlamentar, José Luís Ferreira, fez questão de assinalar que “a proposta que os Verdes hoje apresentam nada tem a ver com o Banco de Portugal e, muito menos, com Mário Centeno”, uma vez que se debruça sobre o regime de nomeação e destituição dos membros do conselho de administração das entidades administrativas independentes.

André Ventura, do Chega, notou que “quis o destino” que o parlamento debatesse este tema “minutos depois” de ser noticiada a saída de Mário Centeno e criticou o secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Mourinho Félix, por ter estado, à hora em que a remodelação foi anunciada, no plenário a representar o Governo, quando também ele está de saída.

Para o PCP, “o principal problema de idoneidade está na captura do regulador pelo próprio setor”.

Na sua intervenção, o deputado Duarte Alves acusou o CDS de ter apresentado uma iniciativa “claramente inconstitucional” e de querer “atirar areia para os olhos dos portugueses” quando propõe que a nomeação do governador seja feita pelo Presidente da República, uma vez que também se trata de um “cargo político sujeito a pressões e a escrutínio eleitoral”.

Duarte Pacheco, do PSD, salientou que o partido não acompanhará os “partidos que pretendem uma revolução”, mas irá acompanhar algumas propostas porque não quer “que as coisas fiquem como estão”.

O social-democrata questionou se “alguém acredita na independência” de Mário Centeno enquanto governador do Banco de Portugal, e defendeu que as propostas podem ser melhoradas na especialidade.

Na ótica de mariana Mortágua, do BE, um lugar no Banco de Portugal “não deve servir propósitos de remodelações governamentais, conjunturais que dão mais jeito”.

O PS, pela voz do deputado João Paulo Correia, criticou as propostas apresentadas e defendeu que “este debate e este conjunto de propostas fazia sentido se fossem integradas num debate alargado”.

Mário Centeno vai deixar a pasta das Finanças, sendo sucedido por João Leão. Tendo já anunciado que não se irá recandidatar a um segundo mandato no Eurogrupo, Centeno estava cada vez mais perto do cargo de governador do Banco de Portugal.

ZAP // Lusa

18 Comments

  1. O tempo de nojo de quando os políticos saem do Governo e irem para até empresas com quem fizeram negócios é para os outros não é para nós e a muitos exemplos, Ferreira do Amaral saiu do governo foi direito a empresa com quem negociou, Luso-ponte,Ferreira Leite para o grupo Citigroup a quem enquanto ministra vendeu a divida da Segurança Social, Jorge Coelho para a Mota Engil assim como o Paulo Portas, a Celeste Cardona para a CGD, há muitos nessa situação mas só é legal quando são os nossos quando são os outros já é ilegal, vão m a sé todos os políticos à M.E.R.D.A. etc.etc.etc.

  2. Tragicamente dois em um! Assim se perde um bom ministro das finanças e o que poderia ser também um bom governador do Banco de Portugal!
    Será também “ironicamente” que iremos continuar a assistir aos abusos na banca com o governador a assistir impávido e sereno?
    Afinal a quem incomoda a competência de Mário Centeno?

    • A mim.
      Prefiro de caras do que pel0s costas (não é trocadilho).
      Gosto de ser gamada à descarada. Não através dos consumos que faço (ou deixo de fazer).
      Alguma vez me passaria pla cabeça nos anos 80 ou 90, pagar tanto de portagem como de gasóleo ao fazer 300 km lx- porto? Jamais! Mas agora a carneirada nã estranha.
      Nem estranha o petróleo “bater no fundo” e nada chegar sequer perto de 1 Euro, como aconteceu no passado! Mesmo assim, não estranham. Será que misturam ouro no asfalto? Ou será lítio?
      Prefiro tb. pagar os impostos no fim do ano do que ser “re-embolsad0” (como em tempos já foi). Claro que os cabeça-de-vento preferem como está: o “papá” toma conta…
      O azar deles (ps) é os juros terem ido por àgua abaixo.
      No IRS a culpa é dos americanos, como sempre. Toda a gente tem de os imitar…
      Porque será que a honestidade passou a doença mental, que tem de ser severamente contrariada?

      • Que confusão vai nessa cabecinha…
        O que tem o Centeno a ver com os preços das portagens??
        O Ministério das Finanças vende combustível?
        O preço dos combustíveis foi liberalizado há uns bons anos… diziam os experts que o mercado e a concorrência funciona melhor assim… o resultado está aí!…
        O gasóleo esteve abaixo de 1€/l em alguns postos e, ainda ontem, quando fui à bomba, estava a 1,09€/l…
        O preço dos combustíveis é influenciado pela cotação internacional e não apenas pelo preço do petróleo (brent para o mercado europeu).
        Também não sabes o que e IRS, mas acho que esse também não foi criado pelo Centeno…..

  3. E o Durão Barroso e tantos outros. Até há gente que é deputado e vereador ao mesmo tempo. como se não houvesse habitantes que chegam em Portugal. A corrupção passou de uma mera gentileza para uma fase da industrialização. Viva Portugal !

  4. Não que eu esteja contra a ideia, mas o CDS dá mesmo vontade de rir…
    Não se pode passar de ministro para outro serviço público, mas, o Paulinho da Feiras (aquele que dizia que só iam para a política os medíocres, para arranjar “tachos”) passou de ministro para uma empresa privada depois de curiosamente ter andado, enquanto minitro, a arranjar negócios para essa empressa (incluindo vistas de e
    Estado ao México), etc, etc…
    Alguém devia tentar explicar à beata Cecília (e a restante malta do CDS) o significado da palavra “coerência”.

  5. Ainda não percebi porque o Dr Centeno teria de ir para o BP em vez de ir trabalhar como grande parte dos portugueses (infelizmente cada vez menos). Também não consigo perceber em que é que ele foi bom ou especialmente competente para além do embuste das cativações.

    • Exacto… o Centeno podia ir “trabalhar” para uma empresa “londrina” como a Arrow – para onde foi a sua antecessora…
      E claro que esse tacho, perdão, emprego na Arrow nada teve a ver com o facto dessa “consultora” ter ganho muitos milhões a custa do contribuinte português…
      Foi mesmo pura coincidência…

    • A competência de Centeno é até reconhecida muito para além das nossas fronteiras, mas você não percebe nada…

  6. Eu não percebo nada! Quem percebe são os ministros do eurogrupo que recentemente se insurgiram contra o presidente classificando-o de “impreparado e incapaz de conduzir uma reunião” sic. .É mesmo uma prova da Ironia!

  7. Não só! Outras cadeias de televisão incluindo várias estrangeiras que óbviamente não tiram qualquer beneficio da propaganda barata paga pelo Partido Súcialista com o dinheiro dos contribuintes portugueses. É claro que essa propaganda só é possível graças a jornalistas bajuladores dispostos a intoxicar a opinião pública a troco de dinheiro e vantagens na carreira. Não aprenderam nada com o caso do Victor Constâncio.

    • Há várias, mas não referiste nenhuma…
      Gostava de conhecer a fonte disso… relacionado com isso, só vi uma citação duvidosa num jornal alemão manhoso (tipo CM)…
      .
      Atenção que eu não sou a favor (nem contra) a ida do Centeno para o BdP.

  8. Muitos Vêm para aqui mandar bocas que anteriormente os governantes eram entachados noutros lados e que só agora se lembraram desta lei. Pois é. Mais vale tarde do que nunca. Sejam eles de que grupelho sejam. Depois apontam muitos que são quase todos do PSD e do CDS, aparecendo o Coelhone do PS, mas é só para disfarçar. Como todos veem, aqueles que veem, desde a abrilada de 74 tem sido um regabofe de tachos e entachados. Há uns quantos (muitos) e sempre os mesmos, que saltitam dos desgovernos para a EDP ou GALP. Dos bancos para APB. E andam sempre a saltitar de tacho em tacho. Como agora aparece esta lei que lhes corta as pernas, a qual a corja do PS não aprovou (pudera), muitos apresentam os mais variados argumentos para criticar a lei. E eu também pergunto. Porque razão esse Centeno estava há muito na calha para o BP?? Já nasceu predestinado para isso? Já trazia algum selo nas costas quando nasceu. dasss.

  9. Por engano.
    Centeno se for convidado para ir para o BdP pode ir, esse lei (sim não é Lei) feito a medida de uma pessoa é inconstitucional, além disso terá que ser promulgada pelo PR e certamente orá haver um VETO de gaveta ou mandar a mesma para o TC e, enquanto isto Centeno será governador do BdP. Aliás Centeno sai de Ministro
    e volta para o antigo local de trabalho, ou seja o BdP.
    Só há uma dúvida, o homem tem perfil, é ou não competente, se já foi até elogiado pelo actual governador e os mesmos não se trocam de amores. Em resumo, temos uns deputados de meeerda que parecem mais uns garotos a brincar.

  10. O Frankfurter Allgemeine Zeitung é um conceituado diário generalista alemão. Não podemos comparar com nenhum periodista português nem mesmo considerando a escala. Tampouco podemos comparar o tipo de jornalismo que se pratica aqui e lá. Na alemanha os jornalistas são responsáveis e responsabilizados pelo que escrevem e a justiça não demora anos como em portugal a resolver conflitos, menos ainda no caso da comunicação social. Essa mesma justiça, dificilmente é afectada por promiscuidades com o poder político.

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