O ex-presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues foi homenageado na quarta-feira pelo Parlamento, numa cerimónia em que foi lançado o seu livro O Parlamento e os Desafios da Democracia e descerrado o seu retrato oficial.
Numa cerimónia no Salão Nobre da Assembleia da República, que juntou deputados, familiares e amigos de Eduardo Ferro Rodrigues, o presidente do parlamento entre 2015 e 2021 qualificou a ocasião como “um dia de celebração pela democracia e pelo pluralismo”.
Depois de agradecer aos presentes e de recordar o seu trajeto político, Eduardo Ferro Rodrigues salientou que o que o preocupa “neste momento é a democracia em Portugal”, defendendo que esse regime “é o regime da tolerância e do pluralismo, mas não vive sem memória, nem sobrevive sem a preservação das suas instituições, dos seus valores, dos seus símbolos”.
“Em democracia são normais e desejáveis as divergências ideológicas e as políticas alternativas, mas é justamente porque conhecemos as diferenças políticas que devemos também ser capazes de distinguir essas diferenças daquelas questões estratégicas em que temos de estar juntos e comprometidos com a unidade”, disse.
Ferro Rodrigues reconheceu que “não é fácil combater o discurso simplista antidemocrático”, nem “combater a desinformação, a mentira, o medo”, mas sublinhou que “o pior que podia acontecer às nossas democracias era ver o trabalho de escrutínio que é próprio do Parlamento e das oposições parlamentares ser exercido por poderes fáticos ou inorgânicos”.
Depois de, no seu segundo mandato, ter protagonizado momentos de tensão com o líder do Chega, André Ventura – na altura ainda deputado único -, Ferro Rodrigues deixou também uma nota no seu discurso sobre os populismos.
“De que falamos quando falamos de populismo? Falamos da exploração dos piores sentimentos humanos, de ultra nacionalismo, da xenofobia, das derivas autoritárias, de cada um ver no outro um adversário: nos imigrantes, nas minorias e mesmo nos parlamentos democráticos”, referiu.
Perante estes fenómenos, o antigo presidente da Assembleia da República defendeu que, da parte do sistema democrático, se “exige um maior envolvimento com os cidadãos” e que, “ao nível das desigualdades económicas sociais, a democracia tenha mais capacidade de resposta do que tem tido até agora”.
Ferro Rodrigues abordou também a questão da corrupção, sublinhando que “o défice de transparência na distribuição de cargos ou de honrarias são evidentemente bases muito fortes para o crescimento do populismo e da demagogia, mas são factores que podem e devem ser combatidos em democracia”.
“A democracia é não só o melhor de todos os sistemas, mas mesmo o único que, ao mesmo tempo, pode defender a dignidade, a paz, o desenvolvimento sustentável e a justiça. Foi para isso que trabalhei. Fiz o que pude, muitas vezes não consegui muito”, disse.
Antes, a antiga presidente da Assembleia da República Assunção Esteves ficou encarregada de apresentar o livro O Parlamento e os Desafios da Democracia, que foi lançado durante a mesma cerimónia e que reúne os principais discursos de Eduardo Ferro Rodrigues.
Na sua intervenção, Assunção Esteves salientou que sempre viu em Eduardo Ferro Rodrigues “o ímpeto do revolucionário”, e quis deixar no seu discurso “o sublinhado da coragem que o caracteriza”.
O livro O Parlamento e os Desafios da Democracia “trata-se de um livro de discursos do doutor Eduardo Ferro Rodrigues que nos traz a matriz do seu percurso de vida, em que eu quero relevar sobretudo um sentimento enorme de coragem com que a percorreu”, defendeu.
Pouco depois desta cerimónia, os participantes – onde já se incluía o primeiro-ministro, António Costa, que chegou no final da cerimónia de lançamento do livro -, deslocaram-se até à Galeria dos Presidentes, onde foi descerrado o retrato oficial de Eduardo Ferro Rodrigues, situado ao lado do de Assunção Esteves.
O retrato, da autoria do pintor Luís Guimarães, mostra Eduardo Ferro Rodrigues sentado numa poltrona vermelha, com uma gravata verde e a cabeça ligeiramente a pender para a mão esquerda. No fundo, vê-se um pequeno frasco de álcool-gel.
“Queria agradecer ao pintor e retratista Luís Guimarães, autor deste retrato que muito me favorece, e que eu muito agradeço. Teve muita paciência para aturar algumas reivindicações que lhe fui fazendo. Calculam qual era a reivindicação: a cor da gravata”, disse, provocando risos, por ser um adepto do Sporting Clube de Portugal.
Parabéns ao Sr. do “…. estou-me cagando para o segredo de justiça”!
Esta homenagem é certamente contra a vontade do povo. Penso mesmo que esta criatura é das pessoas que os portugueses menos estimam.