Paradoxo da Amizade: por que os meus amigos têm mais amigos do que eu

Investigadores propõem uma teoria matemática para desvendar o “Paradoxo da Amizade”, segundo o qual quem tem amigos com menos amigos tem menos amigos do que os amigos. Complicado? A matemática explica.

Uma equipa de investigadores do Santa Fe Institute e da Universidade de Michigan aprofundou o “Paradoxo da Amizade“, um fenómeno que sugere que os seus amigos provavelmente têm mais amigos do que você.

Inicialmente proposto pelo professor de sociologia Scott L. Field em 1991, este paradoxo intriga desde então os sociólogos de todo o mundo.

De acordo com este paradoxo, num dado grupo, a maior parte dos indivíduos tem menos ligações do que as ligações médias dos indivíduos a que está ligado — como mostrado no diagrama abaixo da “rede social” de uma turma de estudantes de 7 a 8 anos.

Martin Grandjean / Wikipedia

O Paradoxo da Amizade: Sociograma de Moreno

Em 2021, George Cantwell, Alec Kirkley e Mark Newman criaram uma nova teoria matemática para melhor entender este conceito. O seu estudo, publicado na Journal of Complex Networks, aplica a matemática a dados do mundo real para oferecer uma visão mais percetível do paradoxo.

As análises tradicionais focam-se no comportamento médio, deixando assim de fora uma vasta gama de diferenças individuais.

“As análises padrão preocupam-se com o comportamento médio, mas há muita heterogeneidade entre as pessoas“, explica Cantwell numa nota publicada no site do Santa Fe Institute.

O estudo teve em consideração a distribuição completa de como as pessoas se comparam aos seus amigos, apresentando assim um quadro mais detalhado.

Os dados revelaram que as pessoas populares geralmente têm maior probabilidade de serem amigas umas das outras, enquanto os indivíduos menos populares têm maior probabilidade de fazer amizade com outros que também são menos populares.

Segundo Cantwell, este comportamento “tem tendência a amplificar o impacto” e “aproximadamente 95% das diferenças nas redes sociais podem ser explicadas apenas por estes dois exemplos”.

Cantwell alerta que as redes sociais podem distorcer a nossa perceção do estatuto social, pois oferecem um ambiente onde se pode acumular um número quase ilimitado de seguidores. Em interações cara a cara tradicionais, tendemos a associar-nos com indivíduos de mentalidade semelhante, o que mitiga o viés.

No entanto, as redes sociais apresentam uma visão diferente, frequentemente distorcida, já que carecem das restrições naturais encontradas nas interações do mundo real.

O investigador sugere que as pessoas devem ser cautelosas acerca das impressões que formam do seu estatuto social com base no seu ambiente imediato, já que estas impressões podem ser enviesadas pelo paradoxo.

O estudo recorda-nos que a matemática pode ajudar-nos a entender até áreas emocionalmente carregadas como as redes sociais e que a nossa perceção dos nossos círculos sociais pode nem sempre ser o que parece.

ZAP //

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