Joe Biden esteve no Vaticano no âmbito da sua visita a Roma para a cimeira do G20 e trocou elogios com o Papa Francisco.
O Papa Francisco recebeu esta sexta-feira o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, numa audiência de cerca de uma hora e meia. Os dois não pouparam elogios um ao outro, com a Casa Branca a descrever o Papa como “muito caloroso” enquanto que Francisco acredita que Biden é um “bom cristão” e merece “continuar a receber a comunhão”, mesmo com as divergências dos dois sobre o direito ao aborto.
O Sumo Pontífice mostra assim mais uma vez a sua veia mais liberal e progressista, depois da Conferência Episcopal dos Estados Unidos ter já tecido críticas ao chefe de Estado norte-americano devido à batalha legal que o país está a viver desde 2019 devido à tentativa de vários estados de reverter a decisão do Supremo de 1973 que garantiu o direito federal à interrupção voluntária da gravidez.
A divisão nos EUA acentuou-se ainda mais depois de ter entrado em vigor no início de Setembro a lei mais radical e restritiva de todo o país no estado do Texas, proibindo o aborto após as seis semanas de gestação, quando a maioria das mulheres ainda não sabe que está grávida. Biden criticou publicamente a lei e tem desafiado a decisão judicialmente, o que lhe tem valido críticas das organizações religiosas.
Na quarta-feira, na véspera da partida de Biden para a Europa no âmbito do G20 e da cimeira climática Cop26, o bispo norte-americano Thomas Tobin pediu ao Papa que aproveitasse o encontro no Vaticano para “confrontar” o Presidente dos EUA com as suas posições sobre o aborto. “O persistente apoio [de Biden] ao aborto é uma vergonha para a Igreja e um escândalo para o mundo”, condenou o bispo.
O cardeal Raymond Burke, que é um dos principais rostos opositores das posições mais modernas do Papa dentro da Igreja, também lembrou que a Conferência Episcopal dos EUA é que vai decidir, em Novembro, se os políticos católicos norte-americanos devem ser impedidos de fazer a comunhão por apoiarem o direito ao aborto.
Sem nunca responder directamente aos bispos e cardeais norte-americanos e reforçando que considera o aborto uma forma de homicídio, o Papa limitou-se a elogiar a devoção de Biden, que é o segundo presidente católico na história dos EUA, depois de Kennedy.
Já desde a juventude que Biden, que vai regularmente à missa, fala da sua fé e como esta o ajudou a lidar com a morte da primeira mulher Neilia e da filha Naomi, num acidente de carro, e também do seu filho Beau, que faleceu em 2015 devido a um tumor no cérebro. Sobre a questão do aborto, o chefe de Estado já assumiu que pessoalmente é contra, mas que enquanto político considera que não tem o direito de impor a sua posição à sociedade.
Biden considera o Papa um “guerreiro pela paz” e ofereceu-lhe inclusivamente uma medalha presidencial conhecida como “challenge coin” relativa à Guarda Nacional do Delaware, o estado de onde o actual presidente é natural e que representou no Senado durante 26 anos, sendo que o filho Beau também serviu nessa unidade militar.
“Sei que o meu filho gostaria que lha oferecesse”, afirmou o presidente norte-americano ao Papa, suscitando depois gargalhadas quando disse que o chefe do Vaticano terá de “pagar as bebidas” se não tiver consigo a moeda da próxima vez que os dois se vissem.
Um comunicado do Vaticano divulgado já depois do encontro revelou que foi “cordial” e que os dois falaram sobre as alterações climáticas e a necessidade de se fazer mais para a protecção do planeta, da pandemia e da distribuição das vacinas, das crises migratórias e ondas de refugiados e de direitos humanos, incluindo o direito à liberdade religiosa.
“Durante a conversa, eles trocaram pontos de vista sobre matérias relacionadas com a actual situação internacional, no contexto da iminente cimeira do G20, em Roma, e da promoção da paz no mundo através de negociações políticas”, revela a nota.
Mais tarde, em declarações aos jornalistas, Biden revelou que os dois não debateram o aborto e que falaram apenas “sobre o facto de ele estar contente por eu ser um bom católico que continua a comungar”, o que promete causar polémica nas instituições religiosas nos EUA.
Depois da reunião com o Papa, Biden encontrou-se com o Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, e com o secretário para as relações com os Estados, Paul Gallagher.
Que dois…