“Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo, quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto”, disse Francisco.
O Papa Francisco condenou este domingo os fogos que “devoram povos e culturas” para “homogeneizar tudo e todos” ao referir-se à Amazónia, lembrando a colonização, e rejeitou a “ganância de novos colonialismos”.
“Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo, quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto. Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização. Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos”, afirmou Francisco na missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Na missa, concelebrada também pelos cardeais investidos no sábado, incluindo o português Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, Francisco referiu que “o fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazónia, não é o do Evangelho”.
“O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”, afirmou Francisco.
Na missa, em que uma das leituras foi feita em língua portuguesa, o Papa citou o apóstolo Paulo, “o maior missionário da História da Igreja”, para dizer que ajuda a “fazer sínodo”, e sublinhando a sua mensagem para todos os bispos, disse que estes receberam um dom para serem dons.
“Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se como prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de pastores a funcionários”, avisou, considerando: “Assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja”.
Abordando de novo o fogo, notou que este “não se alimenta sozinho” e “morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir”.
“Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo ‘sempre se fez assim’, então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação e defender o status quo“, disse, alertando que “a Igreja não pode, de modo algum, limitar-se a uma pastoral de manutenção para aqueles que já conhecem o Evangelho”.
Pedindo inspiração para renovar os caminhos para a Igreja da Amazónia para que não se apague o fogo da missão, o Papa lembrou ainda os “muitos irmãos e irmãs” que, naquela região, “carregam cruzes pesadas” e recordou todos os missionários que deram a vida pela Igreja Católica na região da Amazónia.
O Papa Francisco anunciou um sínodo especial sobre a Amazónia em 15 de outubro de 2017, que hoje se iniciou com a missa, terminando no dia 27. Tem como tema “Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”. A Amazónia, que tem a maior biodiversidade registada numa área do planeta, tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a desflorestação da Amazónia aumentou 222% em agosto em relação ao mesmo mês de 2018. Dados do final de agosto indicam que este ano mais de 41.000 incêndios foram registados por satélites na região da Amazónia, com mais de metade a ocorrerem no mês de agosto.
// Lusa
É.. mesmo conversa de espertalhão: quando correr mal, Deus não teve nada a ver – quando corre bem, é logo “graças a Deus”!…