Presidente da Câmara Municipal de Cascais defende que o presidente do partido não tem de ser o candidato a primeiro-ministro.
Em mês de novas eleições directas no Partido Social Democrata (PSD), Carlos Carreiras não está confiante. Seja Luís Montenegro ou Jorge Moreira da Silva a vencer no dia 28 de Maio.
O presidente da Câmara Municipal de Cascais admite que tem dificuldade em escolher um candidato – porque nenhum dá “garantia que é a pessoa certa” – e por isso ainda não sabe em quem vai votar.
O autarca vê uma “grande generosidade” e uma “grande disponibilidade” nos dois candidatos à sucessão de Rui Rio mas não acredita no resultado: “Não acredito no sistema, que é o mesmo, e a solução que vamos encontrar é igual à do passado“.
Nesta entrevista à rádio Renascença, Carreiras reforçou que defende uma solução “completamente diferente”, lembrando que “não está escrito em lado nenhum que o presidente do PSD tenha que ser o candidato a primeiro-ministro“.
“Segundo, o PSD tem um problema que é de reativação do próprio partido e, portanto, o foco deve ser no próprio partido. Defendia que devia haver aqui um esforço genuíno de união do partido para ir buscar os melhores e não estarmos aqui a fazer uma segmentação sobre quem é que foi da facção A e ou da facção B”, esclareceu.
O autarca tentou implementar estas ideias no PSD mas viu que “não será possível”. E fez uma comparação com procissões para explicar a sua perspectiva: “O PSD parece como uma procissão, que sai do adro e depois vão mudando de santinho em cima dos andores. O PSD tem andado a fazer, nos últimos tempos, é tirar um santinho do andor põe lá outro santinho, mas não muda rigorosamente nada“.
No final do ano passado, Carlos Carreiras disse que o PSD estava a tornar-se irrelevante. Agora, no contexto de pandemia e guerra, reforça essa opinião: “Considero que estamos ainda mais irrelevantes e espero que essa situação se inverta a partir do momento em que sejam eleitos o novo presidente do partido e todos os novos órgãos nacionais. Temo é que isso não venha a acontecer”.
“Eu gosto de estudar e há a História que nos ajuda a perceber. Sei que a História nem sempre se repete mas, por exemplo, há 100 anos o mundo passou por uma pandemia e por duas guerras mundiais; depois disso, tudo foi diferente. Agora estamos a ter uma pandemia e uma guerra mundial, mas com contornos diferentes. E o espectro partidário também se alterou na altura”, recordou o autarca, antes de concretizar.
“Já temos sinais evidentes de que isso está a acontecer. Por exemplo, em França e Itália, para falar de países do sul da Europa. Alguém imaginaria que o Partido Socialista em França desaparecesse ou que o Partido da Democracia Cristã italiano desaparecesse? O que é certo é que desapareceram e surgiram novas forças políticas e creio que o PSD está já nesse processo, em risco de desaparecer“, avisou o presidente da Câmara Municipal de Cascais.
Para mudar este cenário, Carlos Carreiras reforça a necessidade de mudar a estratégia de um partido que se afastou, nos últimos anos, “dos principais temas”.
“O PSD foi prejudicado por uma liderança autocrática e isso teve consequências também na própria militância”, atirou.