De acordo com um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), os países mais ricos estão cada vez mais atrasados no que diz respeito ao cumprimento da promessa de ajudar os estados mais pobres a ajustarem-se ao impacto das alterações climáticas.
O relatório da organização, no âmbito da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), sugere que as potências com maior capacidade financeira têm canalizado os seus fundos para aumentar o seu poder militar, deixando de lado os compromissos ambientais.
Em 2009, os países mais ricos fizeram a promessa de contribuir com cerca de 100 mil milhões de dólares por ano para ajudar as nações mais empobrecidas a dar resposta aos problemas causados pelas alterações climáticas. Na altura, ficou definido que o valor total das ajudas seria alcançado em 2020, mas a meta já foi deixada para trás.
Segundo a ONU, que na passada segunda-feira apresentou um plano, mesmo que este seja cumprido, demoraria até 2023 até estar concluído – ou seja, três anos após o prazo inicial.
Esta não é a primeira vez que surgem este tipo de críticas. O Fundo Verde para o Clima tem sido assombrado por problemas desde o início, tendo já sido criticado por má gestão, escreve o Gizmodo.
Em setembro, o presidente dos EUA, Joe Biden, informou que o país iria oferecer 5,7 mil milhões de dólares – um grande passo em relação ao que o país contribuiu com o ex-presidente Donald Trump, quando deu menos do que a França, Alemanha, Japão ou Reino Unido, apesar de ser o maior poluidor histórico.
A quantia pode parecer bastante elevada para os EUA desembolsarem todos os anos, mas a verdade é que o país está a gastar muito mais noutros campos. Tendo em conta o relatório apresentado, as maiores economias do mundo estão a investir centenas de milhões de dólares no armamento das suas fronteiras.
Sete dos maiores emissores históricos do mundo, segundo o relatório do Instituto Transnacional sem fins lucrativos internacional, gastam em média 2,3 vezes mais para tornar a segurança das suas fronteiras fortemente militarizada, do que para ajudar outros países a enfrentar o impacto das mudanças climáticas.
Os autores do relatório destacam que em vez de ajudarem as populações mais fragilizadas, os países mais ricos só estão a fazer com que estes investimentos aumentem as mortes e a violência, e não farão nada para conter a migração climática, já que as condições meteorológicas extremas têm obrigado a que mais pessoas abandonem as suas casas.
Embora os EUA não sejam o pior infrator na lista apresentada no relatório, ainda assim, gastam 11 vezes mais com segurança de fronteira. O país gasta uma média de 19,6 mil milhões de dólares por ano em elementos como drones, tecnologia de reconhecimento facial e construções, como é o caso do muro na fronteira com o México. O valor total também inclui custos de manutenção, vigilância e pagamentos a agentes armados.
Ao contrário do que seria esperado, refere o relatório, as mudanças climáticas estão a ser cada vez mais usadas como instrumentos para intensificar a militarização, em vez de fornecerem uma oportunidade de recuar e avaliar as razões por trás do motivo pelo qual as pessoas estão a ser deslocadas.
O relatório frisa que esta é uma visão sombria de um futuro onde o dinheiro que deveria ser atribuído aos países mais pobres para ajudar a mitigar os desastres climáticos, é dado para pagar os serviços de empresas contratadas com o intuito de endurecer as fronteiras.
“Se os maiores poluidores históricos se desfizessem minimamente da militarização das fronteiras e investissem esse dinheiro no financiamento do clima para o Sul Global, poderíamos evitar uma catástrofe no sofrimento humano”, remata Mohamed Adow, diretor do Power Shift Africa.