Pais portugueses dividem-se entre protectores e supervisores

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Os pais portugueses dividem-se entre protectores e supervisores quando o assunto são as suas crianças, concluiu um estudo nacional, que alerta que demasiada protecção pode ser prejudicial para as crianças, já que as próprias lesões ajudam ao crescimento.

Estas e outras conclusões fazem parte do estudo “Supervisão parental numa perspectiva de segurança infantil”, uma tese de doutoramento de Maria da Conceição Andrade, apresentada no ramo da motricidade humana e na especialidade de

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Maria da Conceição Andrade

Maria da Conceição Andrade

comportamento motor, na Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa.

O trabalho foi desenvolvido ao longo de quatro anos e envolveu inicialmente 392 pais, com filhos com idades entre 1 e 5 anos, distribuídos pela região sul, norte e nas zonas de Lisboa e Oeiras, com vários graus de escolaridade.

Para avaliar a relação entre as estruturas familiares e a supervisão em contexto de parque infantil, por exemplo, foram tidos em conta apenas os 245 pais com escolaridade igual ou superior a 12 anos e cuja avaliação revelou existirem dois perfis: o protector e o supervisor.

“O perfil protector foi verificado em mães e pais com menos escolaridade e em famílias de duas a três pessoas. (…). O perfil supervisor está associado a pais mais velhos, com menos escolaridade, a pais de filhos únicos e pais de crianças mais novas”, explica a autora.

Segundo Maria da Conceição Andrade, o perfil mais protector revela pais “demasiado cuidadosos”, enquanto o perfil supervisor está associado a pais mais vigilantes e que tomam medidas mais preventivas.

Já comparando com os adultos sem filhos, a autora concluiu que a chegada de uma criança aumenta a protecção e a supervisão, ao mesmo tempo que diminui a tolerância ao risco, algo que não é necessariamente positivo. “É através das brincadeiras exploratórias que as crianças têm conhecimento dos seus limites, das possibilidades de acção que elas têm”, explica a investigadora.

Segundo Maria da Conceição Andrade, são estas brincadeiras, que muitas vezes provocam arranhões, que vão “afinar a capacidade perceptiva” da criança, criando “soluções motoras mais eficazes”, que ajudam a diminuir a probabilidade de haver lesões graves.

A investigadora acredita que é necessário informar os pais e desenvolver programas que ajudem a capacitar os adultos sobre as vulnerabilidades normais das várias etapas do desenvolvimento das crianças e os perigos existentes em cada contexto.

“Os pais que são demasiado cuidadosos estão a evitar que a criança tenha experiências perceptivo-motoras e a criança, quanto mais experiências tiver em ambiente exploratório, tem um reportório motor mais rico e está mais disposta a resolver estes problemas sozinha”, sustenta.

O estudo resulta da vontade de aplicação à realidade portuguesa do Questionário do Perfil de Atributos de Supervisão Parental, a “única medida existente para medir a supervisão parental com propriedades psicométricas válidas”, mas que, até agora, só era aplicado a populações de língua inglesa.

/Lusa

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