Um país de imigrantes com cada vez mais emigrantes. Para onde vão milhões de americanos?

Há milhões de norte-americanos a escolher abandonar o país de origem e procurar aventuras no estrangeiro. Quais são os destinos de eleição?

Os Estados Unidos são um país onde a imigração é uma parte integral da sua história. Mas, nos últimos tempos, a emigração também se tem tornado uma tendência crescente entre os norte-americanos.

Na antecipação das eleições de 2016, foram inúmeros os memes e promessas de americanos que diziam que iriam viver para o Canadá caso Donald Trump vencesse. No entanto, a eleição de 2016 não foi única neste aspecto — também se notou um aumento nas pesquisas do Google sobre mudanças para o Canadá quando George W. Bush foi reeleito em 2004 e quando Joe Biden venceu a corrida presidencial em 2020, relata o The Washington Post.

Outras questões políticas, como a recente reversão do direito federal ao aborto, também alimentam um aumento nestas pesquisas.

Apesar de ser o principal destino dos imigrantes a nível mundial, os Estados Unidos ficam-se pelo 26.º lugar na lista de países com mais emigrantes. E ao contrário dos emigrantes de outros países, que têm destinos de eleição, os norte-americanos estão em todo o lado, sendo a nação com os emigrantes mais espalhados pelo planeta.

Os dados de 2020 das Nações Unidas e do Banco Mundial mostram que cerca de 2,8 milhões de pessoas que nasceram nos Estados Unidos vivem no estrangeiro. No entanto, estes dados têm apenas em conta o local de nascimento no estrangeiro para evitar contar mais do que uma vez as pessoas com várias nacionalidades.

Desta forma, os americanos que nasceram no estrangeiro, os imigrantes que receberam a nacionalidade americana e depois emigraram, os soldados espalhados pelas bases militares ou os trabalhadores com vistos temporários não são contados.

Segundo a agência federal que ajuda emigrantes a votar, cerca de 4,8 milhões de cidadãos norte-americanos viviam no estrangeiro em 2018.

Para onde vão?

O México surge no topo de practicamente todas as listas como o principal destino para os norte-americanos que emigram. No geral, os emigrantes americanos são jovens adultos, mas no caso daqueles que vão para o México, cerca de dois terços são crianças e adolescentes com menos de 18 anos.

Isto acontece porque estas crianças, que nasceram nos EUA, são filhos de pais mexicanos. Quando os pais decidem voltar para o México — ou são deportados, como foi o caso para um em cada seis destes casais —, levam os seus pequenos emigrantes norte-americanos consigo.

Na lista de outros países para onde muitos norte-americanos vão incluem-se os vizinhos do norte, no Canadá, o Reino Unido, a Alemanha, Israel ou a Austrália.

O que leva os americanos a sair?

Se os Estados Unidos são um destino tão apetecível para os estrangeiros, afinal, o que é leva a que a sua própria população opte por sair permanentemente? Em muitas das histórias, as razões são puras coincidências.

A investigadora Klekowski von Koppenfels dedica-se a estudar a diáspora norte-americana e ela própria é um exemplo disto. Mudou-se para Berlim temporariamente em 1996 para concluir o seu doutoramento, mas acabou por se casar com um alemão. Agora, vive em Bruxelas, onde trabalha no campus da Universidade do Kent.

“Eu sempre pensei que minha história era, sabe, algo especial. Acontece que, na verdade, é totalmente normal… A maioria de nós está fora do país por acidente”, explica a especialista.

Apesar dos picos nas pesquisas após as eleições, muito poucos americanos realmente abandonam o país por razões políticas, refere Klekowski von Koppenfels. Uma razão bem mais comum para os americanos quererem sair do país é para viver uma aventura e explorar outra cultura.

Em muitas destas situações, os emigrantes acabam por encontrar bons empregos ou casar no estrangeiro — e uma saída que deveria ser temporária acaba por ser permanente.

“A exploração é o principal factor subjacente para uma pluralidade de americanos, mas na maioria das vezes há algo mais a acontecer também, seja um emprego, um parceiro, estudar no exterior, querer ajudar os outros — algo assim”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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