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Há um país onde pais e mães esgotados podem tirar “folga” de 3 semanas

O “burnout” parental, ou o esgotamento dos pais, é um problema cada vez mais real e mais grave. Na Alemanha, os pais esgotados podem tirar uma licença de saúde de três semanas para descansarem, com direito a terapias e até cuidados para os filhos.

A “kur”, como se chama esta licença que existe na Alemanha, pode ser tirada a cada quatro anos e destina-se a pais com dificuldades psicológicas e mentais. A licença é suportada por seguros de saúde e tem a duração de três semanas, sendo caso único no mundo – pelo que sabemos.

Para usufruírem desta licença, pais e mães têm que ter uma prescrição médica para o efeito. A “kur” pode ser usada para tratar uma situação de esgotamento, ou para prevenir que aconteça, dando acesso a clínicas especializadas, e a refeições, cuidados para as crianças e terapias adequadas a cada caso.

Mães são maioria nos retiros para pais em burnout

Por toda a Alemanha existem retiros para pais em “burnout” que são geridos pela organização sem fins lucrativos Deutsches Müttergenesungswerk (DM).

Estes espaços são cada vez mais procurados, o que é uma boa notícia, e uma má notícia ao mesmo tempo. Por um lado, revela que os pais estão mais atentos à sua saúde mental, mas, por outro, indica que enfrentam cada vez maiores dificuldades no dia-a-dia.

“As clínicas reportam que as mães e os pais que chegam até elas estão mais doentes do que antes” da pandemia, sublinha a directora da DM, Yvonne Bovermann, em declarações à BBC.

O foco destes espaços é a prevenção de problemas de saúde mental graves e a maioria dos pacientes são mães.

Contudo, “uma grande proporção das mulheres, cerca de 30%, já chegam num estado muito pior, onde se oferece tratamento e não prevenção”, aponta Yvonne Bovermann.

Risco de depressão é três vezes maior em mães solteiras

O “burnout” parental pode ser reconhecido por uma sensação de exaustão que pode até levar a um distanciamento emocional dos filhos, bem como a sentimentos de impotência. Pelo meio, há o risco de negligenciar os filhos e pode até, em última instância, despoletar situações de violência contra eles.

Mas este esgotamento dos pais também pode levar a casos de depressão, o que pode, por seu lado, “contagiar” as crianças.

Pais e mães solteiros estão, especialmente, sob pressão e, por isso, enfrentam também, habitualmente, maiores riscos de sofrerem problemas de saúde mental.

Há estudos que indicam que as mães solteiras “enfrentam um risco de depressão que é três vezes maior do que nas mães que fazem parte de um casal”, como nota à BBC o especialista em medicina psicossomática Matthias Franz, que é psicanalista no Hospital Universitário de Düsseldorf, na Alemanha.

“Há tantas mães solteiras que não são apenas mães sozinhas, são abandonadas e marginalizadas pela sociedade, e muitas vezes totalmente sobrecarregadas”, aponta Franz, frisando que têm, em muitos casos, sentimentos de solidão, baixa auto-estima e culpa quanto ao seu papel enquanto mães.

“Estão tão deprimidos que precisam dessas 3 semanas longe de tudo”

90% das pessoas que chegam aos retiros para pais esgotados na Alemanha apresentam problemas de ansiedade, insónia e sintomas de depressão. E “quase todos, têm problemas físicos, tais como dores nos joelhos e nas costas”, destaca
Yvonne Bovermann.

Mas não foi por isso que procuraram os retiros, mas porque “simplesmente, já não sabem mais como passar o dia“, nota aquela responsável à BBC. “Estão tão deprimidos que precisam dessas três semanas longe de tudo” para começarem a pensar “Como faço para sair dessa situação?”, acrescenta.

“Cuidar de crianças pode ser cansativo, certamente”, mas não deve ser “um fardo adicional” tão grande ao ponto de não se conseguir carregar, analisa ainda Bovermann.

Estas clínicas alemãs procuram, assim, dar resposta às lacunas da sociedade em termos de apoios para os pais sujeitos a inúmeras pressões. Ajudam a “evitar uma forma mais severa de doença”, como analisa a investigadora Claudia Kirsch da Escola Médica de Hannover, na Alemanha, também em declarações à BBC.

Melhorias para pais e filhos

Quando chegam às clínicas, cada pessoa é alvo de uma avaliação no sentido de definir um plano de actividades e de terapias à medida das suas necessidades.

Mas também são prestados cuidados às crianças que podem acompanhar os pais nestes retiros, nomeadamente com terapias adequadas.

As refeições e limpezas durante a estadia nas clínicas são asseguradas pelos funcionários dos espaços.

Pais e filhos também podem passar tempo de qualidade juntos.

As pesquisas efectuadas indicam que a passagem por estas clínicas acarreta “melhorias nos problemas físicos dos pais, tais como nas dores nas costas, até nove meses depois do retiro”, e também melhorias nas crianças, designadamente em termos comportamentais, refere Kirsch à BBC.

“Os pais recebem muita ajuda, conselhos e a oportunidade de tentar tratamentos diferentes”, indica a investigadora. Mas para que os resultados sejam continuados precisam de continuar os exercícios recomendados na sua rotina diária.

Susana Valente, ZAP //

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