Oxigénio escuro encontrado no mar levanta questões sobre vida extraterrestre

Camille Bridgewater

Um dos nódulos polimetálicos encontrados no fundo do mar, em testes de laboratório

Numa região do Oceano Pacífico conhecida como Zona Clarion-Clipperton (CCZ), há rochas de milhões de anos que cobrem o fundo do mar. Apesar de parecerem mortas, produzem oxigénio.

Num estudo publicado em julho na Nature Geoscience, uma equipa de cientistas anunciou a descoberta de misteriosas “geobaterias” no fundo do mar que produzem oxigénio.

O oxigénio é produzido por plantas e organismos com a ajuda do sol, pelo que encontrar produção de oxigénio no fundo do mar, onde não há luz, é tão inesperado que os cientistas pensaram que se tratava de um erro.

“Foi muito estranho”, explica Jeffrey Marlow, investigador da Universidade de Boston e autor principal do artigo, citado pelo EurekAlert.

Como especialista em micróbios que vivem nos habitats mais extremos da Terra, Marlow suspeitou que a provável culpada da produção deste oxigénio seria a atividade microbiana.

A equipa de investigadores mediu as mudanças dos níveis de oxigénio ao longo de 48 horas e verificou que estes aumentavam em vez de diminuir.

As rochas do fundo do mar, conhecidas como nódulos polimetálicos, são feitas de metais raros, como cobre, níquel, cobalto, ferro e manganês, e é por isso que as empresas estão interessadas nelas.

Mas estes metais densamente compactados estão, muito provavelmente, a desencadear a “eletrólise da água do mar“, o que significa que os iões metálicos nas camadas da rocha são distribuídos de forma desigual, criando uma separação de cargas elétricas.

Este fenómeno produz energia suficiente para dividir as moléculas de água em oxigénio e hidrogénio. O resultado é o chamado “oxigénio escuro“, isto é, oxigénio feito sem luz solar.

O que ainda não está claro é o mecanismo exato que leva a esta produção, se os níveis variam em toda a zona e se o oxigénio desempenha um papel significativo na sustentação do ecossistema local.

O estudo serve de mote para estudos futuros sobre os potenciais impactos da perturbação de um ecossistema inexplorado. Além disso, é preciso ter em conta que a Zona Clarion-Clipperton é o ambiente perfeito para estudar os mais pequenos organismos do planeta, como bactérias e organismos unicelulares encontrados em sedimentos e nódulos.

Marlow e o seu colega Peter Schroedl estão especialmente interessados no uso de micróbios encontrados em ambientes extremos como a CCZ como modelos para encontrar vida unicelular noutros planetas e luas.

“A vida em ambientes como a CCZ oferece uma oportunidade de estudar ecossistemas que se desenvolveram sob pressões e restrições evolutivas distintas”, sustenta Schroedl.

Essas condições – profundidade, pressão e ambiente aquático – são “análogas às condições que medimos ou esperamos descobrir em luas geladas”, diz o investigador.

A lua de Júpiter, Encélado, e a lua de Saturno, Europa, por exemplo, são cobertas por camadas de gelo que a luz solar não consegue penetrar para atingir a água presa no interior.

“Quem sabe se esses tipos de rochas estão a produzir oxigénio debaixo do gelo. Esse fenómeno poderia permitir a existência de uma biosfera mais produtiva”, adiantou Marlow.

“Se a fotossíntese não for necessária para produzir oxigénio, outros planetas com oceanos e rochas ricas em metais poderiam sustentar uma biosfera mais evoluída do que pensávamos ser possível”, remata o investigador.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.