Movimentos sacádicos dos olhos tornam-se mais lentos em pacientes de Alzheimer. Nova tecnologia audível, inspirada na síndrome de deiscência do canal semicircular superior ajuda a ouvir sinais precoces.
Uma subtil peculiaridade nos movimentos dos olhos pode vir a ser um método precoce e acessível para detetar a doença de Alzheimer. A nova investigação centra-se nos movimentos sacádicos — movimentos oculares pequenos e rápidos que ajudam o cérebro a processar a informação visual. Nos doentes de Alzheimer, estes movimentos tornam-se ligeiramente mais lentos e menos precisos, mesmo nas fases mais precoces da doença.
Investigadores da École de Technologie Supérieure, no Canadá, e do Dartmouth College, nos EUA, estão a explorar uma abordagem inédita para monitorizar estas alterações, com a ajuda de microfones intra-auriculares sensíveis. Ao captarem as vibrações no tímpano causadas pelos movimentos dos olhos, estes dispositivos, chamados “hearables“, surgem como uma alternativa portátil e não invasiva ao equipamento tradicional de rastreio ocular, segundo os resultados partilhados pelo Science Alert.
“É um auricular com microfones que capta os sinais fisiológicos do corpo“, explica a engenheira eletrotécnica Miriam Boutros, da École de Technologie Supérieure: “o nosso objetivo é desenvolver algoritmos de monitorização da saúde para aparelhos auditivos, capazes de monitorizar continuamente e a longo prazo e de detetar doenças precocemente”.
“Os movimentos dos olhos são fascinantes, uma vez que são dos movimentos mais rápidos e precisos do corpo humano, pelo que dependem tanto de excelentes capacidades motoras como do funcionamento cognitivo”, afirma o engenheiro eletrotécnico Arian Shamei da École de Technologie Supérieure.
À medida que a doença de Alzheimer progride, estes movimentos degradam-se — inicialmente em apenas milissegundos, mas cada vez mais ao longo do tempo.
As ferramentas de diagnóstico atuais para a doença de Alzheimer são vistas pelos autores como frequentemente invasivas, caras ou inacessíveis, e é aí que entra a tecnologia audível. Os microfones intra-auriculares detetam as vibrações dos movimentos dos olhos, que, embora impercetíveis para a maioria das pessoas, podem ser medidas com precisão.
A técnica é inspirada em casos raros de indivíduos com síndrome de deiscência do canal semicircular superior, doença que provoca o desgaste da camada óssea que recobre o canal, que faz com que os pacientes consigam ouvir os seus próprios movimentos oculares.
A equipa de investigação está a realizar um ensaio que envolve 35 doentes de Alzheimer e 35 indivíduos saudáveis. Os participantes usarão dispositivos de rastreio ocular e aparelhos auditivos para avaliar a fiabilidade das vibrações do tímpano na identificação da latência sacádica. O objetivo final é desenvolver um dispositivo vestível capaz de monitorizar a saúde, de forma contínua e a longo prazo.