Um grupo de cientistas descobriu que cargas negativas dentro de uma nuvem não são descarregadas num único feixe, mas uma parte delas é armazenada e circulada através de canais, causando descargas repetidas no solo.
Isto explicaria por que este fenómeno atmosférico geralmente cai duas vezes no mesmo lugar, de acordo com um artigo publicado na revista científica Nature.
Quando as cargas de um raio diminuem, o canal de descarga rompe. No entanto, mesmo que o feixe termine, as agulhas – canais – permanecem, criando uma trilha com carga negativa armazenada que os raios sucessivos usam, ao encontrar um caminho com menos resistência.
Estas agulhas podem ter um comprimento de cem metros e um diâmetro inferior a cinco metros, explicam os especialistas. “São muito pequenos e muito breves para outros sistemas de deteção de raios”, explica Brian Hare, principal autor do estudo, num comunicado publicado no site da Universidade Nacional da Austrália.
Para realizar a sua investigação, os especialistas da Universidade de Groningen, na Holanda, usaram uma rede de radiotelescópios chamada Low Frequency Matrix (LOFAR) para recolher uma série de detalhes sobre as ondas de rádio emitidas por raios e, assim, determinar a razão para este comportamento.
“Estes dados permitem-nos detetar a propagação de raios numa escala onde, pela primeira vez, podemos distinguir os processos primários“, explicou Hare. “O uso de ondas de rádio permite olhar para dentro da nuvem, onde a maioria dos raios está”, acrescenta.
“Vemos que uma parte da nuvem é recarregada e podemos entender porque a queda de um relâmpago no solo pode ser repetido várias vezes”, refere Hare.
Viajando a cerca de 300 quilómetros por segundo, saem do canal principal. “As cargas negativas dentro de uma nuvem de tempestade não são drenadas de uma só vez, mas são, em parte, armazenadas ao lado de interrupções no canal principal”, explicou Harvey Butcher, da Universidade Nacional da Austrália. A carga negativa restante é descarregada pouco depois num segundo raio, reutilizando o mesmo canal.
Butcher disse à IFLScience que está esperançoso de que o trabalho seja útil para limitar o dano que os relâmpagos podem causar e para melhorar o projeto dos pára-raios.