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Os portugueses estão “loucos” com melatonina para dormir. Pode ser uma “moda” perigosa

A melatonina está na moda e as vendas de fármacos com esta substância, em Portugal, dispararam nos últimos meses. Contudo, a melatonina não é para a insónia e os efeitos secundários a longo prazo ainda são desconhecidos.

A melatonina desempenha um papel fundamental na regulação do ciclo sono-vigília, sendo, por isso, vulgarmente designada como a “hormona do sono”.

A produção desta substância aumenta geralmente à noite, em resposta à ausência de luz, preparando o organismo para dormir.

“Com os distúrbios do sono em alta”, como escreve o Jornal de Notícias (JN), os portugueses estão a recorrer cada vez mais a medicamentos e suplementos à base de melatonina.

Embora seja vendida sem receita médica, o seu uso deve ser orientado, de preferência, por um profissional de saúde, principalmente por duas razões: a melatonina não é para a insónia; e os efeitos secundários a longo prazo ainda são desconhecidos.

Quem o diz é Miguel Meira e Cruz, diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa: “A melatonina não é para a insónia, mas sim para acertar o ritmo circadiano [que coordena o nosso relógio biológico]”.

Em entrevista ao matutino, o especialista avisa que, apesar de a melatonina ser uma substância relativamente segura e não criar dependência como outras, “faltam estudos conclusivos sobre o seu uso prolongado e em doses elevadas da”

“As algumas investigações sugerem que o uso prolongado pode alterar a produção endógena natural de melatonina. Em crianças e adolescentes, particularmente, há preocupações sobre como pode impactar o desenvolvimento e o sistema endócrino a longo prazo”, refere Miguel Meira e Cruz.

Vendas nas farmácias disparam

De acordo com o dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde da Associação Nacional de Farmácias (ANF), citados pelo JN, a venda de fármacos contendo melatonina disparou nos últimos meses. A evolução é crescente desde 2021, com as vendas a atingirem, em 2023, quase 710 mil embalagens.

Mas a maior subida (41%) até ocorreu nos fármacos com prescrição médica.

Daniela Ferreira, pneumologista e presidente da Associação Portuguesa do Sono, ouvida pelo Jornal de Notícias, diz que estes os números não a surpreendem, mas parecem desajustados: “Parece que está na moda (…) [um aumento de 40%] parece desajustado”.

A especialista sustenta que poderá não estar a ser feita a melhor abordagem às insónias ao nível dos cuidados primários, pelos próprios médicos: “O maior risco é não se estar a tratar devidamente distúrbios de sono subjacentes“.

Além disso, Daniela Ferreira refere que as pessoas querem soluções rápidas, em vez de quererem/tentarem perceber “o que está na base da insónia” e tratá-la.

Em vez da melatonina, para cuidador do sono, os especialistas recomendam horários de deitar regrados e evitar os ecrãs à noite.

Miguel Esteves, ZAP //

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