Preservado em âmbar há 125 milhões de anos, o fóssil descoberto no Líbano é uma nova espécie e mostra como os insetos passaram a alimentar-se do sangue de animais vertebrados.
Paleontólogos descobriram o fóssil de mosquito mais antigo do mundo no Líbano, um sugador de sangue preservado em âmbar desde o início do período Cretáceo, com 125 milhões de anos.
Além de demonstrar que a espécie existe há mais tempo do que a ciência pensava, a descoberta também revela algumas das adaptações que estes insetos sofreram para começarem a alimentar-se de sangue de animais vertebrados.
Os investigadores acreditam que a hematofagia — ingestão de sangue — nos insetos é uma alteração alimentar adaptativa a partir do consumo de fluidos vegetais, com o órgão responsável a servir para ambos os propósitos, um processo conhecido como exaptação — a utilização de uma parte do corpo ou função já existente para um novo comportamento ou uso.
A evolução dos mosquitos
A família dos mosquitos — Culicidae — contém cerca de 3.600 espécies de insetos voadores. Todas as espécies vivas, e provavelmente também as extintas, possuem fêmeas hematófagas e nectarívoras, enquanto a sua família irmã — Chaoboridae, da qual fazem parte os mosquitos-fantasmas — alimenta-se apenas de néctar.
Isto sugere que deve ter ocorrido uma mudança da dieta exclusivamente nectarívora para a hematofagia parcial. A ciência ainda não sabe se os primeiros mosquitos existentes se alimentavam de sangue desde o início.
O inseto fossilizado encontrado no Líbano era um macho com boca perfurante, mandíbulas afiadas e hematofagia quase certa. Foi descrito como uma nova espécie, Libanoculex intermedius, e até teve direito a sua própria subfamília, Libanoculicinae.
Âmbar libanês recordista revela segredos
Segundo os paleontólogos responsáveis pela descoberta, o âmbar libanês é o mais antigo com inclusões biológicas intensas, isto é, o que trouxe mais criaturas preservadas na sua mineralização. O material é muito importante, uma vez que se formou na mesma época em que as plantas com flores começaram a diversificar-se, trazendo consigo a coevolução dos insetos polinizadores.
Pela datação das moléculas da família dos mosquitos, suspeitava-se que estes teriam surgido no Jurássico, mas o fóssil mais antigo até agora era de meados do período Cretáceo. O novo fóssil é, no entanto, do início do Cretáceo, cerca de 30 milhões de anos mais antigo do que o recorde anterior.
As análises sugerem que os mosquitos machos também se alimentavam de sangue no passado, e ajudam a esclarecer as possibilidades sobre quando os mosquitos-fantasmas se diferenciaram dos seus parentes. Além de estudar a utilidade da hematofagia para os machos de mosquito no Cretáceo, os cientistas também estão curiosos para saber porque é que essa qualidade dos machos se perdeu.
ZAP // CanalTech