Um novo estudo revelou que os leitores são incapazes de distinguir a poesia de sistemas de inteligência artificial (IA) e de humanos e tendem mesmo a preferir os poemas gerados por IA.
“Porque quem não sabe arte, não na estima”, escreveu Luís Vaz de Camões no Canto V, d’Os Lusíadas (1572) – longe da inteligência artificial e muito perto de adivinhar o Mundo, quase 500 anos depois…
Segundo um estudo publicado esta quinta-feira na Scientific Reports, a maioria dos leitores não consegue mesmo distinguir obras clássicas de imitações geradas por inteligência artificial. Mais: quando lhes é perguntado qual preferem, escolhem frequentemente a poesia da IA.
Os investigadores Brian Porter e Edouard Machery, da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, testaram a capacidade de 1.634 participantes distinguirem a poesia gerada por IA e a escrita por um poeta.
De forma aleatória, foram-lhes apresentados dez poemas: cinco escritos por dez poetas conhecidos, incluindo William Shakespeare, Lord Byron, Emily Dickinson e T.S. Eliot, e cinco produzidos pela ferramenta ChatGPT3.5, ao estilo destes poetas.
Os investigadores verificaram que os participantes eram mais propensos a dizer que os poemas gerados pela ferramenta de IA foram escritos por uma pessoa, quando os cinco poemas que consideraram menos prováveis de serem produzidos por humanos foram, na realidade, todos escritos por poetas.
“Mais de 78% dos nossos participantes deram, em média, classificações mais elevadas a poemas gerados por IA do que a poemas escritos por humanos de poetas famosos”, disse Brian Porter, citado pela New Scientist.
Numa segunda experiência, 696 participantes avaliaram 14 características dos poemas, nomeadamente qualidade, beleza, emoção, ritmo e originalidade.
Os participantes foram distribuídos aleatoriamente por três grupos, onde dispunham de informação de que os poemas foram escritos por uma pessoa, produzidos por IA ou não tinham qualquer informação sobre as origens do poema.
De acordo com o estudo, os participantes que foram informados de que os poemas tinham sido gerados por IA deram classificações mais baixas em 13 características, por comparação com os participantes que foram informados de que os poemas tinham sido escritos por humanos, independentemente de os poemas terem sido realmente gerados por IA ou escritos por poetas.
No entanto, os participantes que não foram informados sobre a autoria dos poemas classificaram os versos produzidos por IA de forma mais favorável do que os escritos por pessoas.
ZAP // Lusa