Os humanos ganharam um cromossoma X egoísta que “mata” cromossomas Y

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ZAP // Envato Elements; Biology Online

Após o êxodo do continente africano, os humanos ganharam um cromossoma X “egoista” — que sobreviveu até aos dias de hoje “matando” esperma com cromossomas Y.

Há cerca de 50.000 anos, um novo cromossoma X terá sido introduzido no genoma dos primeiros humanos a abandonar África, de acordo com um novo estudo de investigadores dinamarqueses.

Este cromossoma contém regiões que induzem a sua propagação no genoma humano “matando” esperma com cromossoma Y — que terá com o tempo evoluído no sentido de ganhar contra-medidas para evitar o massacre.

A evolução terá no entanto ter tido um efeito seletivo excecionalmente forte em partes deste cromossoma, uma vez que humanos com ascendência africana mais recente herdaram essas regiões, explica a New Scientist.

Os seres humanos têm 23 pares de cromossomas — entre os quais um par com  cromossomas X ou Y, que determina o seu género.

Nas mulheres, esse par tem dois cromossomas X, enquanto o respetivo par de cromossomas, nos homens, tem um cromossoma X e um Y.

AGeremia / Wikipedia

Cariótipo humano

Segundo Kasper Munch Terkelsen, investigador da Universidade Aarhus e autor principal do estudo, estas regiões do cromossoma X poderão ter DNA “egoista” — que se espalha matando esperma com cromossomas Y.

Quando o esperma com cromossomas Y fertiliza um óvulo, dá origem a um rapaz. Assim, a ação do DNA “egoista” resulta no nascimento de mais meninas.

Não está ainda claro em que momento é que esta “matança” ocorre, explica Terkelsen.

Este efeito resulta também numa maior proporção de descendentes que herdam o cromossoma X com DNA “egoista”, causando a sua propagação rápida na população — um exemplo de “meiotic drive“, ou impulso meiótico, um conflito entre genes com predominância de um deles.

“Há a ideia de que que  o impulso meiótico se manifetsa principalmente em humanos, mas têm sido encontrados exemplos de impulso meiótico em todos os organismos que estudamos a fundo”, diz o investigador.

Terkelsen e os colegas analisaram cromossomas X de homens numa base de dados de genomas de todo o mundo.

Nos humanos com ancestralidade africana mais antiga, há uma diversidade mais equilibrada nos cromossomas X — o seu DNA é uma mistura mais variada de material genético de antepassados com diferentes origens.

Mas nos homens com ancestralidade africana mais recente, há regiões com dezenas de milhares de genes sem qualquer diversidade — o que sugere que terão origem num só antepassado.

“Há um grande predomínio do cromossoma X nestas regiões de baixa diversiodade”, explica Terkelsen.

A ocorrência destas regiões é notória no Homem de Ust’-Ishim, um humano mopderno que vivia há 45 mil anos no que é atualmente a Sibéria.

O estudo permitiu à equipa de invesigadores perceber também que estas regiões do DNA expulsaram partes de material genético de origem Neandertal que tinham entrado na população humana 10 mil anos antes do aparecimento do Homem de Ust’-Ishim.

De acordo com os autores do estudo, isso significa que o DNA “egoista” terá entrado no genoma humano há cerca de 55 a 45 mil anos.

Segundo Terkelsen, estas regiões terão sido originados a partir de um cromossoma X surgido em populações do leste asiático, que se terão cruzado com as populações Ust’-Ishim por essa altura.

“A propagação tão rápida destas regiões de DAN poderá ter-se devido à falta de mecanismos de defesas dos cromossomas Y na população Ust’‑Ishim”, diz Terkelsen.

Este impulso meiótico resulta numa batalha evolucionária entre os sexos — ou, mais especificamente, entre os cromossomas que determinam o sexo, acrescenta o investigador.

As células que dão origem ao esperma multiplicam-se através de um processo de divisão celular chamado meiose — e normalmente metade das células resultantes tem um cromossoma X e a outra metade um cromossoma Y.

Mas variações genéticas podem causar um enviesamento deste processo e resultar no nascimento de mais rapazes ou mais raparigas.

Estes enviesamentos são normalmente cusados por porções de DNA “egoistas”, como as estudadas por Terkelsen — que favorecem a sua própria sobrevivência em detrimento da da espécie.

Segundo os autores do estudo, foram já identificados vários mecanismos que dão origem a impulsos meióticos em humanos, e pelo menos um deles está ligado à infertilidade masculina — ligação que a equipa quer agora investigar se se verifica no caso das regiões de DNA que identificou.

Armando Batista, ZAP //

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1 Comment

  1. Está na altura de repensar a democracia!
    Se existem mais mulheres, onde está a igualdade e equilíbrio se os homens estão em minoria, e que tende a se agravar, com a discriminação..de guerras e opressão ao homem!
    A solução seria os votos serem divididos em 50 % homens e mulheres, dentro de cada gênero via se em quem mais se votou e obtinham se os resultados!..
    Assim como está apenas se vão agravar as desigualdades e a opressão ao homem, que já existe no estado misandrico!

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