Os humanos da Idade da Pedra tinham uma estratégia para evitar a consanguinidade

ZAP // Dall-E-2

Um estudo genético inédito focado em locais de sepultamento da Idade da Pedra na Europa Ocidental sugere que as comunidades de caçadores-coletores viviam deliberadamente com famílias distintas para evitar a consanguinidade.

Um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, e várias instituições francesas, analisou esqueletos humanos do período Mesolítico, há cerca de 6.700 anos, altura em que os últimos caçadores-coletores coexistiam com os recém-chegados agricultores do Neolítico.

O estudo, publicado a semana passada na PNAS, é o primeiro a analisar os genomas de múltiplos indivíduos de grupos diferentes a viver em proximidade no período Neolítico.

A equipa de investigadores, liderada por Mattias Jakobsson, professor da Universidade de Uppsala, descobriu que estas antigas comunidades eram compostas por diferentes unidades sociais, provavelmente assim formadas como parte de uma estratégia para prevenir a consanguinidade.

Os investigadores usaram dados biomoleculares de esqueletos encontrados em França em locais como Téviec e Hoedic, na Bretanha, e Champigny.

Estes locais são conhecidos pelas suas práticas únicas de sepultamento, onde indivíduos não relacionados eram frequentemente enterrados juntos, sugerindo laços sociais fortes além da parentesco biológico.

Segundo os autores do estudo, apesar do seu reduzido tamanho, estes grupos de humanos ancestrais não mostravam sinais de estar estreitamente relacionados, o que aponta para um sistema social complexo que dava prioridade ao estabelecimento de relações fora do âmbito familiar.

“As nossas análises genómicas mostram que, embora estes grupos fossem compostos por poucos indivíduos, geralmente não tinham relações estreitas. Além disso, não havia sinais de endogamia“, explica Luciana Simões, investigadora na Universidade de Uppsala e primeira autora do estudo, citada pelo Phys.org.

“No entanto, sabemos que existiam unidades sociais distintas, com diferentes hábitos alimentares, o que evidencia um padrão de relacionamentos que provavelmente fazia parte de uma estratégia para evitar a endogamia“, acrescenta a bióloga formada na Universidade de Lisboa.

O estudo refuta também teorias anteriores que sugeriam que os caçadores-coletores assimilavam mulheres de comunidades agrícolas neolíticas para diversificar a sua pool genética.

Em vez disso, os resultados do estudo permitem concluir que os caçadores-coletores se misturavam com outros grupos de caçadores-coletores, e não com agricultores neolíticos.

Esta conclusão lança luz sobre as interações sociais entre os últimos caçadores-coletores e os primeiros agricultores na Europa Ocidental — que, segundo um estudo publicado no mês passado na Nature, não eram propriamente pacíficas.

 

O estudo permite assim desvendar a estratégia que os últimos caçadores-coletores da Europa usavam para evitar a consanguinidade, cuja prevalência aumenta a probabilidade de ocorrência de doenças causadas por genes recessivos, e manter a sua diversidade genética.

Armando Batista, ZAP //

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