Análise de ADN revela um trágico genocídio no passado da Humanidade

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ZAP // Dall-E-2

O aparecimento da agricultura na Europa no final da Idade da Pedra não foi uma transição suave do estilo de vida dos caçadores-coletores — mas sim uma revolução sangrenta que viu populações nómadas serem eliminadas por colonos agricultores em poucas gerações.

Um novo estudo revela um capítulo turbulento na transição da Europa da Idade da Pedra tardia para a agricultura, sugerindo que a mudança envolveu conflitos violentos e resultou na substituição completa das populações nómadas caçadoras-coletoras por colonos agrícolas.

De acordo com o estudo, por duas vezes em apenas mil anos a população do sul da Escandinávia foi completamente substituída por recém-chegados à região, cujos restos mortais quase não apresentam vestígios dos seus predecessores nos perfis de ADN.

A pesquisa, conduzida por uma equipa internacional de investigadores liderada pela paleoecologista Anne Birgitte Nielsen, da Universidade de Lund,  usou uma técnica chamada sequenciação shotgun para analisar o ADN de 100 restos humanos em toda a Dinamarca, abrangendo mais de 7.300 anos desde o Mesolítico até à Idade do Bronze Inicial.

Os resultados do estudo, publicados no mês passado na revista Nature, evidenciaram duas grandes substituições populacionais no sul da Escandinávia no período de um milénio.

A primeira destas substituições ocorreu há cerca de 5.900 anos, quando os agricultores recém-chegados deslocaram os caçadores-coletores indígenas, alterando significativamente a paisagem da região, e introduzindo a agricultura.

Esta descoberta contradiz teorias anteriores que sugeriam uma coexistência pacífica e a mistura de culturas entre os dois tipos de populações.

Em vez disso, as evidências arqueológicas e genéticas apontam para uma luta violenta, na sequência da qual a pool genética dos caçadores-coletores foi quase totalmente erradicada do património genético dos primeiros agricultores da Escandinávia.

“Esta transição era anteriormente apresentada pacífica”, explica Anne Birgitte Nielsen, citada pelo Science Alert.

“No entanto, o nosso estudo aponta para o contrário. Além de mortes violentas, é provável que a chegada de populações de agricultores e do seu gado tenha trazido patógenos que ajudaram a dizimar as populações recoletoras”, acrescenta a paleoecologista.

Estes agricultores, identificados com a cultura do Vaso Campaniforme, enfrentaram eles próprios a substituição cerca de 1.000 anos depois por recém-chegados das estepes orientais, associados à cultura Yamnaya.

 

O estudo não só lança luz sobre um período da história humana anteriormente mal compreendido, mas também espera influenciar a investigação médica atual, permitindo-nos entender a ancestralidade genética das populações modernas.

“Os resultados do nosso estudo ajudam a melhorar o nosso conhecimento da nossa hereditariedade e o nosso entendimento do desenvolvimento de certas doenças. Algo que a longo prazo poderá ser benéfico, por exemplo, na investigação médica,” conclui Nielsen.

Armando Batista, ZAP //

1 Comment

  1. Isto será tão diferente do que aconteceu com a colonização dos Estados Unidos, Austrália, etc?

    Não é complicado. Uma sociedade de caçadores-colectores precisa de se mover para sair de áreas com stocks baixos, para áreas com mais abundância. É um imperativo de sobrevivência.

    As sociedades agrícolas são o contrário: precisam de permanência, direitos de propriedade para que o investimento na infraestrutura que a agricultura requer faça sentido. É natural que acabe em conflito por duas necessidades tão diferentes.

    Se forem ver na composição genérica de países colonizados, de certeza que também vêm um quase genocídio nas populações indígenas. É um aspecto feio da nossa espécie que merece contemplação.

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