A memória é um termo que se refere a uma capacidade mental, cuja função é codificar, armazenar e recuperar informações. Mas nem sempre nos diz a verdade.
O nosso cérebro armazena a informação da memória, no entanto, devido à sua forma fragmentada, os aspetos das nossas recordações podem ficar baralhados quando as reconstruimos, levando a criar as “falsas memórias”.
Os chocos além de terem passado num teste cognitivo para crianças e de conseguirem reduzir a ingestão de alimentos menos apetitosos ao saber que mais tarde se podem deliciar com os alimentos preferidos, também apresentam uma memória muito nítida, específica e pormenorizada.
Segundo o Science Alert, foram agora observadas pela primeira vez evidências de uma falsa memória no choco comum, um animal completamente diferente dos humanos.
Num novo estudo, publicado a semana passada no iScience, os investigadores queriam entender como é que as memórias episódicas eram recordadas no cérebro desses animais.
O procedimento
A equipa de cientistas expôs os animais a uma sucessão de experiências semelhantes, envolvendo recipientes com snacks do anterior.
Um tubo continha carne de caranguejo, que os chocos comem apesar de não ser a sua refeição preferida. Um segundo tubo continha camarão, que os chocos adoram, enquanto que o terceiro tubo não continha nada. Cada tubo foi marcado com um padrão de identificação.
Na primeira fase, os chocos viram os três tubos de forma a poderem ver os seus padrões e conteúdos únicos sem lhes tocar.
O segundo passo envolvia um de vários cenários.
Num caso, o tubo do camarão e o tubo vazio foram apresentados em conjunto, ambos vazios mas virados para esconder esse facto dos chocos. Noutro caso, a situação era idêntica, mas os dois tubos eram acompanhados de um odor a camarão e num terceiro cenário, um tubo de camarão vazio estava sozinho.
No terceiro passo, o choco foi confrontado com um tubo vazio e um tubo com padrão de caranguejo, cada um deles com conteúdo escondido. A ideia era entender se os chocos conseguiam lembrar-se com exatidão de qual dos tubos tinha comida no interior, ou se uma falsa memória os levaria a escolher o tubo vazio.
As conclusões não foram diretas, mas sugeriram que as falsas memórias tinham sido armazenadas for informação visual enganadora. Quando o cenário do segundo passo envolvia apenas um tubo vazio, os peixes-cofre escavaram o contentor dos caranguejos em cerca de 80% das vezes.
No entanto, quando lhe foi mostrado um tubo com camarão e um tubo vazio, o choco não conseguiu encontrar o caranguejo melhor do que o acaso, como se tivesse confundido o tubo vazio com um que continha camarão.
Em contrapartida, a adição de um cheiro ao aquário pareceu contrariar qualquer formação de falsa memória, com os caranguejos a escolherem novamente o tubo do caranguejo na maioria das vezes.
“Os nossos resultados sugerem que os chocos formam falsas memória visuais, mas não falsas memórias olfativas. Estes erros de memória podem ser a primeira indicação da presença em processos reconstrutivos na memória dos cefalópodes”, afirma a equipa.
A investigação ainda é bastante precoce, pelo que, por enquanto, tudo o que se sabe é que a forma como os chocos recordam as memórias pode ser muito semelhante à forma como os humanos o fazem.