Os albinos da Guiné-Bissau querem proteção do Estado

IAPB / Flickr

Criança do Togo com albinismo durante uma consulta de oftalmologia em Espanha

O presidente da Associação de Pessoas com Albinismo na Guiné-Bissau, Jerónimo Gomes, exortou hoje o Governo guineense a criar uma lei que as proteja, a exemplo da legislação de pessoas portadoras de deficiências.

O responsável falava na abertura de uma ação de capacitação para pessoas ou membros de associações que defendem os portadores do albinismo na Guiné-Bissau, hoje iniciada na Casa dos Direitos, em Bissau, e a decorrer até dia 27.

Jerónimo Gomes disse desconhecer, neste momento, o número de pessoas afetadas pela doença caracterizada pela ausência total ou parcial de pigmentação da pele, dos pelos e dos olhos, mas apontou que, num recenseamento realizado em 2009, só em Bissau, existiam cerca de 120 albinos.

“É claro que este número está desatualizado e existem muitos albinos nas regiões do interior do país”, notou Jerónimo Gomes, licenciado em Administração Pública pela Escola Nacional de Administração (ENA) da Guiné-Bissau.

O facto de ter nascido numa família “de pessoas letradas”, nomeadamente, a mãe professora e o pai funcionário público, fez com que tenha “escapado do preconceito desde criança”, explicou Jerónimo Gomes à Lusa.

O presidente da Associação de Pessoas com Albinismo referiu que “muitos irmãos já não têm a mesma sorte por enfrentarem o preconceito da própria família, que os faz “sentirem-se diminuídos ao ponto de se isolarem”.

Jerónimo Gomes notou que o preconceito familiar – em que se tem vergonha de apresentar e incentivar uma pessoa com albinismo – e a forma como a sociedade encara um albino leva à discriminação que o Estado “tem o dever de combater”.

“Peço ao Governo que faça uma lei de proteção de pessoas com albinismo como temos uma lei que protege as pessoas portadoras de deficiências. Estive em Moçambique recentemente onde pude saber que o Estado tem uma lei forte de proteção às pessoas com o albinismo”, enalteceu Jerónimo Gomes.

O presidente do consórcio Casa dos Direitos, o jurista Gueri Gomes, disse que a sua organização apoia as exigências dos albinos da Guiné-Bissau, que enfrentam descriminações e dificuldades e deu como “exemplo flagrante de discriminação” o caso do próprio Jerónimo Gomes.

“O presidente da associação de pessoas com albinismo na Guiné-Bissau, que é um professor, foi colocado numa zona da Guiné-Bissau com altas temperaturas. Essa situação faz com que ele não consiga permanecer durante mais de três dias naquela localidade”, adiantou Gueri Gomes.

Jerónimo Gomes queixou-se igualmente de falta de materiais de proteção, nomeadamente de óculos e cremes para pele, salvo, disse, alguns apoios pontuais que a sua associação recebe de uma organização dos Países-Baixos.

Discriminação de albinos em África

Os indivíduos com albinismo são frequentemente vítimas de discriminação, perseguição e até crimes violentos em diversos países africanos.

Na Tanzânia, os albinos são alvo de ataques regulares, vítimas de crenças que atribuem poderes mágicos aos seus órgãos — que são usados por feiticeiros e curandeiros e vendidos por cerca de 550 euros. Nas últimas décadas, os feiticeiros tanzanianos expandiam a crença de que comer um albino pode trazer sorte.

Segundo um especialista da ONU, mais de 70 albinos foram mortos entre 2000 e 2015 na Tanzânia. A doença, hereditária, atinge um ocidental em 20.000, mas afeta um tanzaniano em 1.400.

A Tanzânia é mesmo o país com maior concentração de albinos, algo que se deve, segundo algumas teorias, sobretudo à bigamia e à prática generalizada de casamentos consanguíneos.

O cenário é semelhante em Moçambique. Muitos moçambicanos acreditam que os albinos são “maldição para a família”, sendo frequente a morte de albinos para fins obscurantistas.

“Muitas pessoas com albinismo são perseguidos e mortos, pelo facto de muita gente acreditar que o seu aparecimento constitui uma maldição para a família. Um horror!”, escreveu o antigo líder do PSD, Rui Rio, após uma deslocação a Moçambique em julho do ano passado.

Na altura, a polícia moçambicana deteve um pai e o seu irmão, quando tentavam vender três filhos albinos na província de Tete.

ZAP // Lusa

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