/

Ordem pede nutricionistas para evitar casos como o de Reguengos. Estado diz que não tem verbas

Pedro Sarmento Costa / Lusa

Todas as instituições sociais e solidárias que albergam idosos devem ter obrigatoriamente, pelo menos, um nutricionista, defende a Ordem dos Nutricionistas. O Estado argumenta que não tem verbas.

A Ordem dos Nutricionistas considera que “é essencial” que os lares de idosos passem a integrar obrigatoriamente nutricionistas para evitar casos como o do lar de Reguengos, em que se verificaram várias situações de desnutrição e desidratação de idosos. Segundo a Ordem, deve haver, pelo menos, “um nutricionista a tempo inteiro por cada 40 utentes”.

Em declarações ao Expresso, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, salienta que a relação entre o número destes profissionais e o número de utentes deve também ter em conta a gravidade das suas patologias.

De um total de 5.138 de lares sob a alçada do Instituto da Segurança Social (ISS) apenas 173 contam com a presença de nutricionista. Uma investigação realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa revela que 38,7% dos idosos institucionalizados revelam risco de malnutrição.

A pandemia apenas veio trazer à tona uma realidade que “já era conhecida”, garante Alexandra Bento. A inclusão de nutricionistas nesta instituições foi recomendada pela Assembleia da República ao Governo em 2018, mas acabou por não avançar. “Infelizmente, até agora pouco ou nada foi feito”, lamenta a bastonária.

“A recomendação surgiu depois de a Ordem ter apresentado um trabalho que alertava para a necessidade de nutricionistas nos lares, baseado na recolha de informação credível e evidência científica, mas acabou por não sair do papel”, explica.

Este mês, a Ordem de Nutricionistas já reuniu com o Ministério do Trabalho e Segurança Social para trabalhar na implementação da obrigatoriedade de que estas instituições de cariz social tenham um nutricionista.

Ao Expresso, o presidente da União de Misericórdias Portuguesas diz que “é certo e seguro” que os nutricionistas “fazem falta”, mas que a contratação destes profissionais esbarra “na penúria de verbas do Estado”.

Manuel Lemos explica que “o Estado comparticipa em €400 o utente, que custa €1.350/mês à instituição”. Os idosos de menores rendimentos do universo das Misericórdias e IPSS são “quem paga a conta”.

“Estamos a falar de 37 mil utentes e entre o que o Estado paga e a reforma dos nossos idosos ainda faltam €700 e são muitas as famílias sem rendimentos para custear a diferença”, disse Manuel Lemos ao semanário. “É o Estado que tem a obrigação de dar resposta pública aos idosos”.

O processo de recrutamento dos 400 profissionais destinados às brigadas de intervenção rápida para dar resposta a surtos de covid-19 em lares de terceira idade ainda está a decorrer. O Jornal Económico escreve que haverá ainda falta de profissionais para integrar as equipas.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.