A Ordem dos Engenheiros que que a linha de alta velocidade que ligará Porto a Madrid passe por Trás-os-Montes. Os transmontanos, que são “mais de quebrar do que de torcer”, prometem continuar a “penalizar” os governantes.
A promessa de alta velocidade por Trás-os-Montes é antiga, mas nunca mais se cumpre.
O Governo anterior já tinha deixado previsto, no Plano Ferroviário Nacional, uma ligação do Porto a Madrid, passando por Amarante, Vila Real, Bragança, e Zamora (Espanha).
Alinhado com esta ideia, em outubro do ano passado, na Cimeira Luso-Espanhola, o primeiro-ministro Luís Montenegro prometeu um estudo para apurar a viabilidade da linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Madrid, que atravesse Trás-os-Montes.
Em janeiro, no V Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro o ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, repetiu a promessa, garantindo que o atual Governo tem intenção de avançar com um estudo de viabilidade da linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Madrid, que atravesse Trás-os-Montes.
Depois de ter se ter chegado à frente com a promessa, Castro Almeida referiu que só facto de se equacionar essa possibilidade é já muito positivo para a região. Mas os transmontanos querem muito mais do que cenários hipotéticos.
“Somos mais de quebrar do que de torcer”
No dia 21 de fevereiro, em declarações à Renascença, o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos (PS) ameaçou “penalizar” o Governo caso não cumpra as promessas.
Rui Santos sublinhou que a ligação tem de ser uma realidade e os autarcas estão dispostos a lutar pela sua concretização: “Os autarcas podem, juntamente com as populações, penalizar aqueles que prometem e não cumprem, anunciam e não fazem”.
Apelando ao espírito transmontano, Rui Santos prometeu dar luta aos governantes: “Infelizmente somos poucos, mas somos resilientes, somos ‘mais de quebrar do que de torcer'”.
“Cá estaremos para continuar a pressionar quem tem de fazer e para sensibilizar as nossas populações que, se tal não acontecer, quem nos governa seja penalizado e, na democracia, só através da força do voto é que os cidadãos podem penalizar aqueles que não cumprem com aquilo que lhes prometem”, disse.
A proposta de uma ligação ferroviária entre Porto e Madrid, passando por Trás-os-Montes foi apresentada em 2021, pela Associação Vale d’Ouro – que mostrou que o corredor tinha viabilidade técnica.
Com cerca de 228 quilómetros, a linha prevê velocidades entre 160 e 250 km/h.
Os próximos passos, como aponta o Jornal Nordeste, passam por estudar toda a análise económica e custo-benefício.
Engenheiros querem solução transmontana
Na conferência Trás-os-Montes na Rota da Engenharia, que decorreu no último fim-de-semana de fevereiro, em Bragança e Vila Real, a Ordem dos Engenheiros (OE) defendeu o ligação de alta velocidade entre Porto e Madrid por Trás-os-Montes.
Bento Aires, presidente da Ordem dos Engenheiros – Região Norte garantiu que os engenheiros estarão ao lado de quem acredita nesta linha, para fazer estudos e para que o poder político tome uma decisão com “qualidade técnica”.
O dirigente da OE elogiou a proposta da Associação Vale d’Ouro, referindo que “tem uma elevada qualidade”, mas sublinhou que, sobretudo, “temos de olhar para isto como uma decisão política”.
“Haverá uma ligação ferroviária pelo Sul, por Sines, que ligará a Madrid. Depois estamos a falar de ter a Linha da Beira Alta ou a Linha Trás-os-Montes e Alto Douro e aqui temos de analisar os prós e os contras e olhar numa lógica de interligação entre as principais infraestruturas”, acrescentou, citado pelo Mensageiro de Bragança, defendendo a solução transmontana.
Na última quarta-feira, o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz confirmou que o Governo vai avançar com os estudos de viabilidade para a linha ferroviária de alta velocidade que ligará o Porto a Madrid, passando por Trás-os-Montes.
Sem comboio há mais de 30 anos
Bragança deixou de comboios em 1991, quando a empresa Caminhos de Ferro Portugueses encerrou a ligação Bragança-Mirandela.
Ao Nordeste, o presidente da Câmara de Bragança Paulo Xavier (PSD) lamentou que essa decisão “pouco acertada” tenha feito perder “anos e anos” à região.
O autarca brigantino confia agora no trabalho do Governo para voltar a levar a ferrovia ao concelho e a promover a “inclusão e o crescimento sustentável”.
Ainda assim Bento Aires, da Ordem dos Engenheiros, acredita que a promoção do desenvolvimento regional só se cumprirá, especificamente, com um TGV.
É preciso que “lá esteja inscrita a Linha de Alta Velocidade Trás-os-Montes e Alto Douro, para garantir que será mesmo de alta velocidade e com ligação a Espanha. Porque colocar uma linha Porto-Bragança [sem alta velocidade], não vai contribuir em nada para o desenvolvimento regional, nem terá utilidade prática” – considerou.
Além desta ligação, Miguel Pinto Luz anunciou também, na semana passada, que o Governo pretende lançar estudos para outras ligações ferroviárias, nomeadamente entre Faro – Huelva – Sevilha e ainda Aveiro – Salamanca.
Um projecto ferroviário desnecessário que os Portugueses não pretendem e que nada trará para o desenvolvimento de Portugal, um País que destruiu as suas vias ferroviárias, isolou populações e com isso trouxe o sub-desenvolvimento, e até hoje passados 50 anos continua incapaz de reconstruir as suas vias dos caminhos-de-ferro.