Quando um oligarca russo aliado de Putin salvou as finanças de Donald Trump

Michael Klimentyev / Sputnik / Kremlin Pool / EPA

O Presidente russo, Vladimir Putin, com o homólogo norte-americano, Donald Trump, na cimeira do G20, na Alemanha.

Numa altura em que o mundo se espanta por ver Donald Trump completamente alinhado com as posições da Rússia quanto à guerra na Ucrânia, há uma história antiga que liga o Presidente dos EUA a um oligarca russo que era próximo de Vladimir Putin.

Culpou a Ucrânia pela guerra com a Rússia, chamou “ditador” ao Presidente do país, Volodomyr Zelenskyy, e manifestou até que a ex-República da União Soviética pode um dia voltar a ser russa. As palavras de Trump deixaram o mundo em choque, por coincidirem quase exatamente com aquilo que o regime de Vladimir Putin defende.

Nas redes sociais, sucedem-se as teorias da conspiração e as críticas a Trump. Há quem acredite que Putin tem algum vídeo, ou informação comprometedora sobre o Presidente dos EUA, que lhe permite “manipulá-lo” a seu bel prazer.

Mas entre os rumores, há também uma história real que já tem alguns anos, sobre um negócio milionário de Trump com um oligarca russo.

Tudo aconteceu em 2008, quando Dmitry Rybolovlev comprou uma mansão a Trump em Palm Beach, na Flórida, por 95 milhões de dólares (mais de 90 milhões de euros).

A venda da enorme propriedade à beira-mar, conhecida como “Maison de L’Amitié”, levantou suspeitas porque o valor do negócio terá sido significativamente superior ao valor de mercado do imóvel.

Na altura, Rybolovlev tinha uma relação próxima com Putin, tendo sido um dos oligarcas russos que beneficiou com as privatizações promovidas pelo Presidente da Rússia.

Negócio investigado devido à interferência russa na eleição de Trump

O negócio da mansão foi alvo de uma investigação liderada pelo ex-director do FBI Robert Mueller, no âmbito das suspeitas de interferência russa nas eleições presidenciais dos EUA de 2016. Trump venceu esse acto eleitoral, derrotando Hillary Clinton.

A “Investigação Mueller“, como ficou conhecida, iniciou-se em Maio de 2017 e durou até Março de 2019, concluindo que a Rússia interferiu nas eleições de forma “abrangente e sistemática”.

Foram também detectadas ligações entre associados de Trump e oficiais russos, mas não foi encontrada evidência suficiente de uma conspiração criminosa. Não se apurou que o político tenha cometido qualquer crime.

Trump lucrou 54 milhões com a venda

Em 2016, Trump gabou-se do negócio numa conferência de imprensa, quando foi questionado sobre as suspeitas das suas ligações à Rússia.

“O mais perto que estive da Rússia foi quando comprei uma casa há uns anos em Palm Beach, por 40 milhões de dólares, e vendi-a a um russo por 100 milhões de dólares”, disse Trump na altura.

Em apenas quatro anos, Trump obteve um lucro de 54 milhões de dólares com o negócio.

A venda a Rybolovlev ocorreu numa altura em que Trump devia milhões ao Deutsche Bank em plena crise de 2008.

O banco alemão terá emprestado a Trump e às suas empresas mais de 2,5 mil milhões de dólares, desde a década de 1990. O milionário terá pago a grande maioria do montante, mas em 2021, a Newsweek noticiou que a empresa de Trump entrou em incumprimento com o banco em 2004.

A revista informativa acrescentava que, na altura, a Trump Organization tinha uma dívida de cerca de 340 milhões de dólares ao Deutsche Bank, sobretudo devido a um projecto imobiliário em Chicago.

Oligarca russo perdeu dinheiro

Rybolovlev nunca viveu na mansão e acabou por perder dinheiro no negócio.

Em 2019, o jornal Palm Beach Post revelou que o oligarca russo tinha gasto milhões de euros para manter a propriedade nos últimos 11 anos, incluindo 12,5 milhões de dólares em impostos, e cerca de 1 milhão de dólares por ano em manutenção.

O investimento na propriedade era, então, superior a 115 milhões de dólares (quase 110 milhões de euros), de acordo com o mesmo jornal.

Entretanto, o magnata acabou por demolir partes da mansão e o imóvel esteve no meio das disputas do milionário divórcio de Rybolovlev.

A propriedade acabou por ser dividida em três parcelas que foram vendidas, mas por valores que não terão sido suficientes para cobrir as verbas investidas pelo russo que fez fortuna com a participação na empresa de fertilizantes Uralkali.

Forçado a vender a aliados de Putin

Desde 2010, Rybolovlev distanciou-se do regime de Putin após ter sido forçado a vender a sua parte maioritária na Uralkali a aliados próximos do governante russo.

Nos últimos anos, o empresário focou-se nos seus negócios internacionais, nomeadamente no clube de futebol Mónaco, de que é proprietário.

Em Novembro de 2018, Rybolovlev foi detido pela polícia do Mónaco após buscas nas suas residências no Principado, por suspeitas de corrupção e tráfico de influências. Acabou por fugir para Moscovo.

O milionário já tinha estado detido em meados da década de 1990, acusado de ter contratado um assassino, mas acabou por ser libertado após ter sido inocentado.

Susana Valente, ZAP //

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