“Imaginem se tinha sido eu a fazer isto”. Barack Obama abordou pela primeira vez a Guerra de Tarifas de Trump e os casos recentes de ameaças à liberdade de expressão nos EUA. “Talvez seja preciso fazer alguma coisa” — e não é quando é fácil, é quando é difícil que é preciso lutar pelos nossos princípios.
Numa conversa esta quinta-feira no Hamilton College, em Nova Iorque, o antigo presidente dos EUA Barack Obama, de 63 anos, pronunciou-se pela primeira vez sobre a Guerra das Tarifas que Donald Trump anunciou no que chamou o Dia da Libertação.
O democrata, 44º Presidente dos Estados Unidos, começou por adiantar que estava a terminar a segunda parte das suas memórias presidenciais e abordou o tema das leis americanas de direito ao porte de armas, antes de falar do seu sucessor na Casa Branca.
“Tenho profundas diferenças de opinião com o meu sucessor mais imediato, que agora é novamente presidente”, disse. “Há uma série de políticas que poderíamos estar a discutir e sobre as quais tenho opiniões fortes“, continuou, observando que acredita que o compromisso do governo com princípios fortes “se desgastou”.
“Quando vejo o que se está a passar agora, não me parece que o que acabamos de assistir em termos de política económica e de tarifas seja bom para a América, mas essa é uma política específica”, realçou.
“Preocupa-me mais profundamente um governo federal que ameaça as universidades se estas não denunciarem os estudantes que estão a exercer o seu direito à liberdade de expressão“, continuou Obama, pai de duas filhas.
“Preocupa-me mais que a Casa Branca possa dizer aos escritórios de advogados: ‘Se representarem partidos de que não gostamos, vamos retirar-vos todos os nossos negócios ou impedir-vos de representar pessoas de forma eficaz'”.
Depois, fez uma observação, com apenas oito palavras sobre estes temas: “Imaginem se eu tivesse feito alguma destas coisas?”
“Seria inimaginável que os mesmos partidos que agora estão em silêncio tivessem tolerado um comportamento como este” quando Obama ou os seus antecessores estavam no poder, acrescentou o antigo presidente, que ocupou a Casa Branca entre 2009 e 2017.
No entanto, salientou Barack Obama, “não cabe a uma só pessoa corrigir a atual situação do governo. “Cabe-nos a todos resolver isto. Não virá alguém para nos salvar. O cargo mais importante nesta democracia é o cidadão, a pessoa comum que diz não, isto não está correto“, acescentou, arrancando aplausos à audiência.
“Penso que uma das razões para a erosão do nosso compromisso com os ideais democráticos é o facto de nos termos tornado confortáveis e complacentes“, alertou Obama.
“Tem sido fácil, durante a maior parte das nossas vidas, dizer que se é progressista ou a favor da justiça social ou da liberdade de expressão e não ter de pagar um preço por isso“, disse Obama.
“Mas não basta dizermos que somos a favor de alguma coisa. Somos capazes de ter que fazer alguma coisa, e possivelmente sacrificar alguma coisa” em defesa dos princípios democráticos, alertou.
“Se formos um gabinete de advogados, talvez seja necessário perdermos algum negócio porque vamos defender um princípio“, sugeriu Barack Obama. “Se formos uma Universidade, se não tivermos feito nada de errado, talvez seja necessário defender aquilo que que acreditamos”.
“Por exemplo, podemos pagar aos investigadores [que estão a ser despedidos por Trump] com os fundos da própria universidade. Talvez tenhamos que adiar a construção de uma nova ala ou de um ginásio catita — isso pode esperar um par de anos. Sabem, a liberdade académica talvez seja um pouco mais importante“.
“Durante quase toda a História da Humanidade, em quase todos os lugares co mundo, houve sempre um custo em enfrentar os poderes instituídos — especialmente se estiverem a abusar desses poderes”, notou.
“Notei por exemplo, que algumas pessoas mais abastadas, na altura do caso George Floyd, estiveram lá, e faziam isto e aquilo; um monte de empresas falava de quanto se preocupava com a diversidade, e queriam fazer isto e aquilo e eram todos a favor de alguma coisa“, recordou.
“Estão todos calados, agora. Isso diz-me que era bom quando estava na moda, mas quando não está… eh, nem por isso“, lamentou. “E isso, parece-me, é o que cada um de nós tem que analisar, nos nossos corações”.
“Se somos a favor da igualdade, temos que lutar por isso. Não quando é fácil, mas quando é difícil“, concluiu Barack Obama.
Mas o Barack Obama tbm fez o mesmo. É só ir pesquisar.
Não concordo quase nada com as políticas que o Obama teve e nunca o achei um grande presidente, mas este discurso é exemplar do que, como sociedade, deveríamos ser… talvez mude de atitude e venha a ser um cidadão exemplar… como não foi como presidente!