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O Titanic está a ser devorado por uma bactéria e pode desaparecer brevemente

(dr) Ocean Gate

A viagem ao Titanic, será feita em um dispositivo submersível de titânio e fibra de carbono

A viagem ao Titanic, será feita em um dispositivo submersível de titânio e fibra de carbono

Quando o opulento RMS Titanic partiu em viagem, em 1912, ninguém adivinharia o seu estado actual – reduzido a um casco enferrujado no fundo do oceano Atlântico.

Mais de um século depois da sua infeliz jornada transatlântica, resta ainda alguma coisa do navio “inafundável”. No entanto, os cientistas acreditam que, dentro de poucas décadas, pode não restar mais nada do mítico RMS Titanic – tudo por culpa da H. titanicae, uma bactéria que está aos poucos a comer o seu casco de ferro.

O navio naufragado foi descoberto em 1985 por Robert Ballard, oceanógrafo da Universidade de Rhode Island em Narragansett.

O que não se sabia na altura é que a descoberta só aconteceu devido do envolvimento de Ballard numa missão secreta da Marinha britânica para localizar os restos de dois submarinos nucleares americanos que afundaram durante a Guerra Fria. O Titanic apenas foi encontrado por acaso, entre os dois submarinos.

Na altura da descoberta, o navio estava impressionantemente preservado. Por estar 3,8 km abaixo da superfície, submetido a pouca luz e pressão intensa, tornou-se inabitável para a maioria dos tipos de vida, o que atrasou a sua corrosão.

30 anos mais tarde, porém, o casco está a enferrujar por causa de bactérias que comem metal. Alguns investigadores dão agora um prazo de validade de 14 anos até que o navio desapareça para sempre.

Bactérias colonizadoras

Investigações iniciais de H. titanicae mostraram que ela consegue crescer em uma água com uma proporção de peso/volume entre 0,5% e 25%, embora funcione melhor com uma concentração de sal entre 2% e 8%.

No entanto, não está claro como, ou se, essa tolerância ao sal ajudou a bactéria a colonizar o navio naufragado. A H. titanicae não é a única bactéria que adora habitar navios.

Vários tipos de micróbios colonizam restos de embarcações imediatamente após os seus naufrágios. Estes micróbios formam rapidamente películas viscosas sobre toda a superfície disponível, chamadas “biofilmes“, que funcionam como um refúgio para corais, esponjas e moluscos, que por sua vez atraem animais maiores.

O navio afundado torna-se rapidamente uma espécie de recife, com vida em abundância. Restos de navios mais antigos tornam-se alimento de micróbios que se alimentam de madeira, enquanto os navios mais modernos, em aço, atraem bactérias como a H. titanicae, que adoram comer ferro.

Apesar de a H.titanicae poder vir eventualmente a destruir o Titanic, muitas destas bactérias podem na verdade proteger os navios de corrosão, e são aliás um dos motivos pelos quais ainda há navios naufragados que datam do século 14.

Em 2014, uma equipa de cientistas do Escritório Americano de Administração de Energia do Oceano (BOEM) conduziu o que pode ser considerado o estudo mais aprofundado até hoje da vida microbiótica em navios.

Os cientistas observaram restos de 8 navios no norte do Golfo do México. Entre os naufrágios, havia navios de madeira e aço do século 19, um do século 17 e três embarcações de aço da Segunda Guerra Mundial, uma das quais foi afundada por um submarino alemão.

A equipa de investigadores descobriu que o material do navio era o fctor crucial que determina o tipo de micróbio que é atraído. Navios de madeira estão repletos de bactérias que se alimentam de celulose e outros polissacarídeos encontrados na madeira. Navios de aço, por outro lado, estão cheios de bactérias que se alimentam de ferro.

Mas apesar de a bactéria se alimentar do navio, também o protege da corrosão.

“Basicamente, o que acontece é que qualquer embarcação que se afunda, seja um navio de madeira do século 19 ou um navio de aço da Segunda Guerra, fica vulnerável a micróbios que rapidamente cobrem a sua superfície”, diz a arqueóloga marinha Melanie Damour, da BOEM, em Nova Orleans, nos EUA, uma das cientistas que participou na expedição.

“Num primeiro momento, o navio começará a ser corroído em contacto com a água do mar, mas à medida que os micróbios começam a colonizar o barco, formam um biofilme, que é uma camada protectora entre o navio e a água do mar”, diz Damour.

Isso significa que qualquer tipo de impacto mecânico, como uma âncora a ser arrastada pelo naufrágio, irá romper essa superfície protectora e expor mais uma vez o metal à água do mar, acelerando a corrosão.

Não é apenas o impacto mecânico que tem esse efeito. O desastre de 2010 da Deepwater Horizon verteu milhões de galões de petróleo no Golfo do México e uma boa parte dele chegou às profundezas do oceano. Em testes de laboratório, a equipa descobriu que a exposição ao petróleo pode acelerar a corrosão do material do navio.

Isso sugere que o petróleo do derrame da Deepwater Horizon pode estar a acelerar a corrosão de navios no fundo no mar, mas os cientistas ainda não conseguiram confirmar essa hipótese. “Descobrimos que nem todos os micróbios conseguem lidar com a exposição ao petróleo e aos dispersantes químicos, que são considerados extremamente tóxicos”, explica Damour.

Mesmo quatro anos mais tarde, o petróleo ainda estava presente no meio ambiente e o efeito destruidor que teve nas bactérias e biofilmes significa que os navios foram expostos à água do mar e o corroeram bem mais rápidamente.

A descoberta é alarmante. Há mais de dois mil navios naufragados no fundo do Golfo, desde embarcações do século 16 até aos restos de dois submarinos alemães da Segunda Guerra Mundial. Esses navios são monumentos históricos importantes que dão uma visão única do passado. São também o lar da vida marina profunda.

Porém, mais cedo ou mais tarde, todos os navios – incluindo o Titanic no norte do Atlântico – serão completamente devorados, seja por bactérias que se alimentam de metal ou pela corrosão da água do mar.

O ferro da imponente embarcação de 47 mil toneladas acabará por ser absorvida pelo oceano. A dada altura, parte dele terá sido incorporado nos corpos dos animais e plantas marinhas.

O Titanic terá então sido reciclado.

// BBC

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