O importante sítio arqueológico zapoteca de Mitla foi engolido por um deslizamento sísmico de terras — que terá contribuído para o seu abandono parcial antes da chegada dos conquistadores espanhóis.
A antiga cidade de Mitla, no Vale de Oaxaca, no México, foi fundada entre 100 e 650 d.C., para servir de complexo funerário para as elites da cultura Zapoteca.
Também conhecida como Mictlán em Nahuatl, o seu nome significa o “lugar dos mortos” ou “submundo”.
Famosa pelas suas construções pré-colombianas, Mitla tornou-se o principal centro religioso dos Zapotecas e era, à chegada dos espanhóis, o centro habitado mais importante da região de Oaxaca.
Por volta do ano 1000 d.C., Mitla e a região circundante foram conquistadas pelos Mixtecas. Como resultado, os elementos arquitetónicos dos seus edifícios refletem uma mistura de influências de ambas as culturas mesoamericanas.
A cidade sofreu significativas transformações com a chegada, no século XVI, dos conquistadores espanhóis, liderados por Hernan Cortéz, que destruíram parcialmente a cidade e construíram uma igreja católica diretamente sobre as ruínas de um dos templos zapotecas.
Ao longo dos séculos, Mitla permaneceu quase esquecida e desapareceu, até ser redescoberta como um sítio arqueológico de grande importância — que é atualmente Património Mundial da UNESCO.
Em 2013, uma equipa de arqueólogos do Projeto Lyobaa confirmou a existência de um complexo de estruturas subterrâneas sob as ruínas de Mitla, que ligavam a civilização zapoteca ao “submundo”.
O principal motivo do desaparecimento de Mitla foi agora desvendado num estudo geológico, recentemente realizado por uma equipa de investigadores do Instituto Nacional de Antropologia e História, da Universidade Nacional Autónoma do México e da Associação do Projeto ARX.
O novo estudo, realizado com recurso a radares de penetração no solo no interior do complexo de estruturas subterrâneas, encontrou evidências de que Mitla terá sido engolida por um enorme deslizamento de terras, num evento sísmico que terá ocorrido no século XV d.C.
Os investigadores usaram registos sísmicos de vibrações naturais do subsolo para obter a frequência de ressonância e a estrutura de velocidade subterrânea do local.
“Estes parâmetros permitem-nos compreender e prever a amplificação sísmica que pode ocorrer durante um evento deste tipo e estabelecer, para efeitos de segurança e risco, a que estão sujeitos os edifícios“, explicou um dos autores do estudo ao Heritage Daily.
A análise permitiu concluir que o subsolo de Mitla contém camadas irregulares de depósitos e materiais transportados por um evento de deslizamento de terra maciço.
Estes dados confirmam a teoria do geólogo Víctor Garduño Monroy, que sugeriu anteriormente que a área de assentamento de Mitla foi soterrada sob um grande depósito de avalanches de rochas, em algum momento durante o período pós-clássico, entre 900 e 1520 d.C.
Os autores do estudo acreditam que um terramoto de magnitude 6 ou 7 terá provavelmente causado o deslizamento de terras — ideia que é consistente com uma referência no Códice Telleriano-Remensis, que relata que o solo tremeu violentamente em 1495 d.C. na área do Vale de Oaxaca.
Assim, concluem os investigadores, este acontecimento deve ter sido decisivo para o declínio e abandono parcial de Mitla antes da chegada dos espanhóis.