Todos solidários com Marcello Caetano. Paiva Brandão disse que estava tudo unido. Um mês depois, 25 de Abril.
Numa fase em que os reformados voltam a ganhar destaque na campanha eleitoral – e porque a expressão ficou mesmo na memória dos portugueses – recordamos a “Brigada do Reumático”.
Não, não é uma caracterização sobre os reformados no geral, em Portugal. Nem era uma brigada especializada em reumatismo.
Esse termo surgiu há mais de 50 anos. Mais precisamente no dia 14 de Março de 1974, o dia de uma famosa cerimónia de solidariedade com o Estado Novo.
Com Marcello Caetano presente, foi uma iniciativa de oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas: Exército, Força Aérea e Marinha. Todos contra o Movimento das Forças Armadas (MFA).
No entanto, nomes fortes não foram a essa cerimónia: Costa Gomes, António de Spínola e Tierno Bagulho. Todos foram demitidos, lembra a Associação 25 de Abril.
Paiva Brandão era na altura o Chefe do Estado Maior do Exército. O general, que era o mais antigo dos chefes do Estado Maior, explicou que aquela cerimónia foi organizada por “dever de consciência”.
“As Forças Armadas não fazem política mas cumprem a missão do Governo. É a união dos portugueses que desperta o ânimo e a confiança, para o rumo mais adequado ao interesse nacional”.
O general também assegurou que era um sinal da “afirmação da unidade” dentro das Forças Armadas.
E logo a seguir falou sobre a Guerra Colonial, que só estava a acontecer por “legítima defesa perante uma agressão preparada e desencadeada a partir de territórios estrangeiros”.
Mas “tudo valerá a pena quando está em causa a segurança das populações e o desenvolvimento dos territórios da nação”.
Além disso, um “militar distingue-se pela sã camaradagem, espírito de coesão, capacidade de sacrifício e devoção à pátria – virtudes que deveriam ser mais cultivadas nas circunstâncias mais difíceis”.
Sempre com um “supremo objectivo: o bem da pátria”.
Marcello Caetano, chefe do Governo, agradeceu a “lealdade e a disciplina”, acrescentando que nem precisava de ver reforçados os princípios dos generais; mas era preciso “que o país” soubesse.
E assim estava criada, com ironia, a “Brigada do Reumático”.
Primeiro, porque esta cerimónia tinha muitos generais mais velhos; é fácil encontrar cabelos brancos naquelas imagens a preto e branco, no vídeo acima.
Segundo, porque foi uma forma de caracterizar a aparente lentidão de reacção desses oficiais (aqui já numa alusão à Revolução dos Cravos).
Paiva Brandão transmitiu a ideia de que tudo estava bem nos bastidores das Forças Armadas.
Dois dias depois: o Levantamento das Caldas.
Cerca de um mês depois: 25 de Abril.
A “Brigada do Reumático” acabou por se tornar um símbolo do declínio da velha guarda do regime.