As Nações Unidas (ONU), que temem uma “fome generalizada quase inevitável” no norte da Faixa de Gaza, utilizam critérios rigorosos para declarar fome num território específico.
Cinco meses após o início da guerra, os habitantes de Gaza estão desesperados com a pouca ajuda humanitária que entra no enclave, onde alguns dizem que recorrem ao consumo de folhas ou forragem para o gado.
Para decidir se a situação é de fome, as Nações Unidas recorrem às suas agências especializadas sediadas em Roma – o Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Estas, por sua vez, dependem de uma ferramenta técnica: o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), que se baseia numa escala de padrões científicos internacionais
Num momento em que várias agências da ONU alertam para “níveis catastróficos” de insegurança alimentar em Gaza, há alguns pontos essenciais a ter com conta sobre os critérios da ONU para declarar fome em Gaza.
O que é fome?
A fome é um estado de extrema privação alimentar, caracterizado por níveis de inanição, privação, desnutrição aguda e morte.
A ONU estima que 2,2 milhões de pessoas – quase toda a população de Gaza – estão ameaçadas pela fome, especialmente no norte, onde a destruição, os combates e os saques tornam quase impossível a entrega de alimentos.
“Se nada mudar, a fome está iminente no norte de Gaza”, alertou na terça-feira Carl Skau, vice-diretor executivo do PAM.
“De acordo com o cenário mais provável, a produção agrícola terá entrado em colapso no norte até maio”, sublinhou ainda Maurizio Martina, vice-diretor-geral da FAO.
Segundo a Associação Palestiniana para o Desenvolvimento Agrícola (PARC), um quarto das explorações agrícolas no norte da Faixa de Gaza foram completamente destruídas pelas forças israelitas.
Numa nota enviada em 22 de fevereiro ao Conselho de Segurança e consultada pela agência France Press (AFP), o chefe dos assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, apelou ao órgão da ONU para garantir “a proibição do uso da fome da população civil como método de guerra”.
Como medir a fome?
A classificação Fome representa a fase de maior gravidade da escala de insegurança alimentar aguda do IPC, que possui cinco estágios: fase 1 (mínima), fase 2 (stress), fase 3 (crise), fase 4 (emergência) e, finalmente, fase 5 (catástrofe/fome).
A fase 5 é alcançada quando um território atende a todos estes três critérios:
- pelo menos 20% dos agregados familiares enfrentam uma extrema falta de alimentos;
- pelo menos 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda;
- pelo menos duas pessoas em cada 10.000 ou pelo menos quatro crianças com menos de cinco anos em cada 10.000 morrem todos os dias de inanição ou devido à interação subnutrição/doença.
A grave escassez contínua de alimentos que se regista em Gaza pode levar a uma “explosão” da mortalidade infantil, onde uma em cada seis crianças com menos de dois anos está gravemente desnutrida, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) esta semana.
Na quarta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita Hamas, anunciou que seis crianças morreram de desnutrição.
As causas da fome
As principais causas da fome incluem os conflitos armados, que levam à deslocação de populações e as confrontam com a escassez de alimentos, como é o caso de Gaza.
Toda esta situação é ilustrada pelo caso de Abou Gibril, um agricultor palestiniano de 60 anos que se refugiou no grande campo de deslocados de Jabaliya, cujo testemunho a AFP recolheu na semana passada.
Para não morrer de fome, resolveu sacrificar a sua última riqueza: os seus dois cavalos de tração, que abateu e cozinhou: “Não tivemos outra escolha, tivemos que matar os cavalos para alimentar as crianças”, disse.
Depois de a guerra ter destruído casas e campos, “é a fome que nos está a matar” agora, confidenciou.
Quem declara fome?
Uma vez cumpridos os critérios determinados pelo IPC, cabe às partes interessadas relevantes a nível nacional, tais como autoridades governamentais e agências da ONU, declarar fome.
Em declarações à AFP na quinta-feira, o IPC adiantou que “o próximo processo de análise sobre Gaza deverá ser concluído durante a primeira quinzena de março”.
// Lusa
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Deixem-se de teorias balofas!
A voz de Guterres, na ONU, tem sido um constante brado no deserto, não só contra a desumanidade e livre arbitrio desta guerra desigual, como em apelos sem eco a hipócritas governantes.
Dizem-se sensíveis, mas não passam de medrosos inúteis, que por medo e conveniência, se colocam do lado errado, do lado dos poderosos.
Poderosos que, à orconta de um lamentável episódio, prosseguem a sua cruzada de extermínio e destruição, impedindo e barrando quem os incomode ou impeça na sua ação destruidora.
Só lhes falta serem claros e explicitos.
“Não lhes matem a fome. É um desperdício, porque vamos matá-los todos.
Só extinguindo-os poderão continuar a ocupar território que não lhes pertence.”