O polémico selo “Estado Novo” do Vaticano foi retirado de circulação

Selo comemorativo do Vaticano da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, em 2023.

Selo comemorativo do Vaticano da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, em 2023.

O selo alusivo à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 lançado na terça-feira pelo Vaticano e que causou polémica em Portugal foi retirado de circulação pelos Serviços de Correios e Filatelia da Santa Sé.

A notícia foi esta tarde avançada pelo jornal online 7Margens, que tinha pedido a “um funcionário do Vaticano” para comprar um exemplar do selo.

“No posto de correios oficial da Praça de São Pedro, o empregado que atendeu disse que era impossível fazer a venda, por ordens superiores, pois o mesmo iria ser retirado”, acrescenta o jornal.

A notícia da retirada de circulação do selo foi confirmada pela Rádio Renascença junto da Santa Sé, que não apresentou quaisquer explicações.

O Vaticano apresentou na segunda-feira um selo comemorativo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, inspirado no Padrão dos Descobrimentos, com a imagem do Papa Francisco no lugar do Infante D. Henrique e com jovens no lugar dos navegadores.

As redes sociais animaram-se com a iniciativa, deixando críticas por se considerar que o selo reporta para o “imaginário” da propaganda do Estado Novo e do colonialismo, até pelas semelhanças que apresenta com as imagens dos livros escolares dessa época.

O selo foi desenhado por Stefano Morri, um ilustrador que “já é habitué na produção de materiais e peças de ilustração dos selos da Cidade do Vaticano”, nota a porta-voz da JMJ, Rosa Pedroso Lima.

No site de notícias do Vaticano, o Vatican News, refere-se que o selo “é inspirado no “Padrão dos Descobrimentos”, o monumento que retrata a expansão além-mar de Portugal” e as “grandes navegações” portuguesas do século XV.

“Da mesma forma como o timoneiro D. Henrique lidera a tripulação na descoberta do novo mundo, assim também no selo o Papa Francisco conduz os jovens e a Igreja”, explicava a nota publicada no Vatican News.

Questionada na terça-feira pela agência Lusa, a propósito da polémica gerada, o bispo português Carlos Moreira Azevedo, Delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas, considerou de “péssimo mau gosto” a imagem do selo comemorativo da JMJ lançado pelo Vaticano.

Para Carlos Azevedo, que exerce as suas funções no Vaticano, o selo “recorre a uma obra muito conotada” e “evoca epicamente uma realidade pastoral que não corresponde a esse espírito”.

A organização da Jornada Mundial da Juventude esclareceu que o selo comemorativo apresentado pelo Vaticano visava apenas “promover” o encontro de jovens com o Papa, afastando leituras que o identificassem com o Estado Novo ou o colonialismo português.

Para Rosa Pedroso Lima, “haverá sempre várias leituras sobre o que quer que seja numa obra de arte, seja ela um selo ou uma ilustração. Esta é a leitura que o Vaticano faz e o objetivo é o de promover a Jornada Mundial da Juventude”.

A agência Lusa questionou já os Serviços de Correios e Filatelia do Vaticano para obter informações sobre a retirada de circulação do selo, mas sem resposta até ao momento.

// Lusa

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