Novo “mata-navios” hipersónico do Japão pode ser arma secreta contra a China no Mar do Sul

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Míssil superfície-navio Type-12

“Sósia” do Storm Shadow poderá vir a ter um alcance quase três vezes superior ao míssil franco-britânico. Vai ser lançado mais cedo do que o previsto para ajudar o território filipino.

As Filipinas terão em breve um presente japonês que deverá reforçar significativamente a sua defesa contra potenciais ameaças chinesas no Mar do Sul.

Novos pormenores sobre o avançado sistema de mísseis hipersónicos japonês — que após ver a sua produção ser acelerada será lançado já no próximo ano — levam alguns analistas a acreditar que o míssil superfície-navio Type-12 atualizado vai ter grandes implicações estratégicas para as Filipinas na região, especialmente na sequência de um acordo de defesa recíproco recentemente assinado entre Manila e Tóquio.

Segundo o Ministério da Defesa japonês, o alcance do novo “ship killer” (ou, em português, “mata-navios”) atingirá inicialmente 900 quilómetros, mas há planos para aumentar o alcance para 1.500 quilómetros.

Descrito como um “sósia” do Storm Shadow/SCALP EG, apresenta, na verdade, algumas diferenças relevantes em relação ao míssil franco-britânico. Uma delas é precisamente o alcance: o Shadow é um míssil lançado do ar com um alcance ligeiramente superior a 500 quilómetros.

O novo míssil Type 12 possui asas primárias em ângulo para trás e barbatanas traseiras em forma de X, melhorias que se acredita melhorarem a estabilidade e o desempenho aerodinâmico. Além disso, a sua secção transversal de radar foi reduzida, tornando-o mais furtivo do que o seu antecessor.

Possui uma capacidade de atualização do alvo em voo através de uma ligação de comando actualizada (UTDC) e uma maior resistência do motor para operações prolongadas. O míssil será adaptável a lançamentos de superfície, marítimos e aéreos, oferecendo ao Japão a flexibilidade de atingir embarcações navais inimigas fora do alcance dos sistemas antiaéreos.

“Operacionalmente, o Japão procura estabelecer a sua capacidade de lutar contra a China — ou pelo menos projetar essa mensagem — não apenas no cenário da guerra litoral, mas noutros domínios, como a capacidade de utilizar mísseis anti-navio na Primeira Cadeia de Ilhas”, explica o vice-presidente da International Development and Security Cooperation, Joshua Espeña, ao SCMP.

O Acordo de Acesso Recíproco (RAA) assinado pelo Secretário da Defesa das Filipinas, Gilberto Teodoro, e pela Ministra dos Negócios Estrangeiros do Japão, Yoko Kamikawa, permite a formação conjunta e a ajuda mútua em caso de catástrofes naturais. As forças japonesas poderão participar em exercícios militares conjuntos de maior dimensão nas Filipinas, incluindo exercícios de fogo real.

As Filipinas, por sua vez, vão querer obter toda a ajuda possível do Japão. Dado o longo alcance do sistema de mísseis, pode aumentar as capacidades de mísseis das Filipinas utilizando os dos seus parceiros, mas também aprender as lições operacionais necessárias quando as Forças Armadas das Filipinas adquirirem o seu próprio sistema”, acrescentou o especialista.

O Japão considera o Mar da China Meridional estrategicamente vital, uma vez que 90% da sua energia e comércio passam pela tão disputada zona. Tóquio, em sintonia com Washington, instou Pequim a respeitar o acordo estratégico com luz verde de um tribunal internacional e que rejeita as reivindicações territoriais da China no Mar do Sul da China — uma jogada que pode vir a agravar as tensões com a China.

“Esperamos que os japoneses aumentem o ritmo e a capacidade de participar em quaisquer exercícios… Tecnicamente, o Japão e a China têm uma longa história de animosidade. E isso pode criar outro nível de problemas para os chineses”, afirma Rej Torrecampo, analista de segurança da Political Economic Elemental Researchers and Strategists.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros vai emitir uma declaração sobre a sua soberania no Mar do Sul da China. E quaisquer atividades das Filipinas podem aumentar a tensão“, concluiu o professor catedrático de estudos internacionais.

Em fevereiro do ano passado, o Presidente Ferdinand Marcos Jr. alargou o acesso dos EUA a instalações militares nas Filipinas ao abrigo do Acordo de Cooperação Reforçada em matéria de Defesa, com o objetivo de reforçar as capacidades de defesa das Filipinas e a resposta a catástrofes. Os EUA também utilizaram o seu sistema de mísseis de capacidade de médio alcance (MRC) durante exercícios conjuntos no norte de Luzon, demonstrando uma forte cooperação militar.

A Índia também contribuiu para a defesa das Filipinas ao entregar mísseis de cruzeiro supersónicos BrahMos no início deste ano. Estes mísseis supersónicos de médio alcance têm um alcance de até 400 quilómetros e viajam a Mach 2,8, reforçando a postura de defesa das Filipinas no meio das crescentes tensões no Mar das Filipinas Ocidental.

Mas se o Japão realmente instalar o novo sistema, fá-lo-á “de uma forma que não pareça provocatória”, acredita o analista geopolítico, Don McLain Gill.

“No entanto, é um desenvolvimento importante para as Filipinas saber que um dos seus principais parceiros de defesa está a reforçar as suas capacidades de defesa”, reforça Gill.

O Mar do Sul da China, ou Mar da China Meridional, é alvo antigo de disputas entre diversos países da região: China, Taiwan, Malásia, Indonésia, Brunei, Vietname e Filipinas. Crê-se que a enorme área, que inclui mar e ilhas, seja rica em petróleo e gás.

Nos últimos meses, as tensões aumentaram no Estreito de Taiwan, onde a China realizou manobras de alta intensidade em diversas ocasiões, inclusive após a visita à ilha em agosto de 2022 da então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

ZAP //

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