O “Golfo da América” de Trump está a causar dores de cabeça a um museu no Alabama

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A mudança do nome do Golfo do México anunciada por Donald Trump está a causar problemas para o Museu Marítimo Nacional do Golfo do México, que poderá agora ter de mudar todas as referências à região.

O único museu do mundo dedicado à história e cultura do Golfo do México enfrenta um dilema inesperado após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de renomear a grande massa de água para “Golfo da América“. A decisão, anunciada como parte de um esforço para “honrar a grandeza americana”, tem gerado polémica, com implicacões práticas e culturais.

No centro dessa controvérsia está o Museu Marítimo Nacional do Golfo do México, localizado em Mobile, Alabama. Em abril de 2024, a diretora Karen Poth finalizou uma grande reformulação do museu, incluindo um novo nome e identidade visual. O processo envolveu o apoio de autoridades locais, a angariação de fundos e a atualização de materiais gráficos e digitais. Só a mudança de nome custou cerca de 100 mil dólares, explica a BBC.

Agora, com a possibilidade de ter que modificar novamente todas as referências ao Golfo, Poth admite que o impacto será significativo. “Seria uma reformulação completa de todo o museu. Cada áudio, cada vídeo, cada sinalização teria que ser alterado”, afirmou. Como o museu pertence à cidade de Mobile, qualquer mudança dependerá das diretrizes municipais.

A decisão de Trump também causou reações internacionais. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, afirmou que o presidente dos EUA não tem autoridade legal para mudar o nome da região. Além disso, a Google anunciou que irá aderir à ordem executiva e modificar o nome no Google Maps nos EUA, ampliando ainda mais o debate.

A história do Golfo do México revela que ele já teve diversos nomes ao longo dos séculos. Os espanhóis, ao chegarem na região em 1513, chamaram-no inicialmente de “Mar da China“, acreditando que tinham encontrado uma rota para a Ásia. Mais tarde, recebeu os nomes de “Golfo de Cortés” e “Golfo da Nova Espanha”. Foi apenas em meados do século XV que mapas espanhóis começaram a nomeá-lo como Golfo do México, em referência ao povo Mexica, fundador do Império Asteca.

Ao longo dos séculos, a região passou pelo domínio espanhol, depois pelo francês e britânico, até ser finalmente incorporada pelos Estados Unidos no início do século XIX. Essa diversidade histórica é refletida no próprio museu, que procura apresentar ao público a complexidade da região, incluindo a sua influência global.

O Museu Marítimo Nacional do Golfo do México, com a sua imponente estrutura de oito andares em formato de navio, destaca o papel fundamental da região na história económica e ambiental do planeta. Com exposições interativas, os visitantes aprendem sobre a importância do Golfo na pesca comercial, na produção de petróleo e na influência climática da Corrente do Golfo.

Outro aspeto essencial abordado pelo museu é a presença indígena na região. Os primeiros habitantes chegaram às margens do Golfo há entre 8000 e 10 mil anos atrás. Quando os europeus chegaram, encontraram povos como os Calusa, que se desenvolveram ao longo do sudoeste da Flórida, vivendo da abundante vida marinha e erguendo imensas estruturas de conchas de ostras. Nos séculos seguintes, o Golfo se tornou um ponto de encontro de culturas de diversas partes do mundo.

Para o historiador Jack E. Davis, autor de The Gulf: The Making of an American Sea, livro vencedor do Prémio Pulitzer, o nome “Golfo do México” reflete essa pluralidade histórica e geográfica. “Não somos só nós“, afirma, argumentando que o novo nome imposto por Trump ignora a importância do Golfo para outros países e povos. O autor conta que teve uma reação física ao ouvir a expressão “Golfo da América” usada em um discurso do governador da Flórida. “Quase vomitei. É tão errado.”

Diante dessa polêmica, especialistas como o historiador John Sledge sugerem uma alternativa: renomear a região como “Golfo das Américas“, reconhecendo a sua abrangência continental. Afinal, o Golfo enfrenta desafios globais, como a poluição marinha, a erosão costeira e os impactos das mudanças climáticas.

Enquanto isso, Karen Poth e sua equipa continuam focados em manter o museu relevante para os visitantes. Uma das próximas exposições será dedicada ao falecido cantor Jimmy Buffett, ícone da música tropical e natural de Mobile.

No entanto, até esse projeto está em discussão devido à mudança de nomenclatura. “Como vamos chamar a exposição? Todas as canções dele são sobre o Golfo do México”, questiona Poth.

ZAP //

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