Para além da duração e da distância percorrida, a tempestade tem surpreendido os cientistas pela sua força fora do normal.
O percurso do ciclone Freddy é em tudo distinto do que vemos habitualmente. Depois de se ter formado no início do fevereiro, perto da Indonésia, a tempestade fez o seu caminho até Madagáscar e à costa de Moçambique, onde chegou no final de fevereiro.
Aí, as autoridades anteciparam que fosse perder força devido à ausência de força oceânica e acabasse por desaparecer. No entanto, tal não se constatou. Após alguns ziguezagues no centro do país, a tempestade regressou ao mar, ganhou força e voltou com ventos de 150 quilómetros por hora.
Apesar da contagem das vítimas ainda estar a decorrer, no que respeita à segunda passagem por Moçambique, os números das autoridades de saúde apontam para 13 mortos. No entanto, é no Malawi que as autoridades estimam que o ciclone tenha sido mais nefasto: pelo menos 99 mortos, 134 feridos e 16 desaparecidos. A contagem da Reuters remete para 136 mortos, aos quais se estima que se venham a somar mais de 160.
A passagem da tempestade por esta zona do continente africano é especialmente dramática por se tratarem de países vulneráveis. Por exemplo, o Malawi enfrenta o maior surto de cólera de que há registo, tendo provocado mais e 1500 mortes. As autoridades temem que os deslizamentos de terras e as inundações provocados pelo ciclone Freddy possam agravar o surto de cólera.
No caso de Moçambique, as resposta das equipas humanitárias é limitada face à destruição provocada. Mais do que pelo vento, o país foi particularmente atingido pela chuva, já que no último mês choveu tanto como costuma chover ao longo de um ano inteiro. Isto aumenta os riscos de os rios galgarem as margens.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o que torna o Freddy tão raro é a distância que percorreu desde que foi batizado, a 6 de fevereiro, pelos Serviços Meteorológicos Australianos. Desde então, percorreu mais de 8 mil quilómetros, atravessando todo o oceano índico Sul.
“Os casos mais recentes de que há registo foram os ciclones tropicais Leon-Eline e Hudah, os dois de 2000, que, como 2023, foi um ano do fenómeno La Niña”, lembra o mesmo organismo.
Mas o Freddy não é só singular pelos fenómenos atmosféricos que provoca. Este ciclone pode ser, na verdade, a tempestade com mais energia acumulada alguma vez observada. Esta característica é calculada através de uma métrica denominada energia ciclónica acumulada, a qual é representativa da intensidade e da duração das tempestades.
O Centro Meteorológico Especializado de la Reúnion da Organização Mundial de Meteorologia explicou que quando o Freddy chegou à costa moçambicana no último sábado tinha cerca de 86 unidades ACE. Caso se confirmem estes valores, trata-se de mais do que toda a energia de 100 das 172 últimas épocas de furacões do Atlântico.