É uma doença do passado ainda presente no mundo atual. Dois casos recentes — um na Austrália e outro no Canadá — provam-no. E tem um elo de ligação.
Apesar da sua associação histórica a marinheiros em longas viagens, o escorbuto — doença causada por uma grave deficiência de vitamina C — ainda aparece nos países desenvolvidos.
Um caso recente na Austrália, descrito num estudo publicado a 22 de outubro na BMJ Case Reports, mostra que o escorbuto não está totalmente relegado para o passado.
O escorbuto resulta da falta de vitamina C, um nutriente essencial para funções corporais como a reparação de tecidos, a absorção de ferro e o apoio imunitário. Sem a ingestão adequada de vitamina C, sintomas como fraqueza, anemia, má cicatrização de feridas e doenças das gengivas podem aparecer após dois a três meses.
Nos tempos modernos, o escorbuto afeta predominantemente populações vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com dietas restritas.
O mais recente caso australiano atingiu um homem de meia-idade, cujas dificuldades financeiras levaram a maus hábitos alimentares.
Os seus sintomas incluíam uma erupção cutânea invulgar e anemia, que os médicos suspeitaram inicialmente serem provocados por doenças sanguíneas ou auto-imunes. Uma investigação mais aprofundada revelou níveis muito baixos de vitamina C e os médicos atribuíram a deficiência à sua dieta limitada, influenciada tanto pelas dificuldades económicas como pela interrupção dos suplementos pós-cirurgia. Depois de receber vitamina C e outros nutrientes, os seus sintomas diminuíram.
Um caso semelhante surgiu também recentemente no Canadá: uma mulher de 65 anos que dependia de alimentos enlatados devido a limitações de mobilidade e de apoio acabou na mesma situação e contraiu a “doença dos piratas”, o que levou a concluir que o escorbuto é um “diagnóstico pouco comum” associado a dificuldades socioeconómicas, diz a co-autora do estudo Sarah Engelhart ao Popular Science.
Um estudo publicado na revista JAAOS: Global Research and Reviews refere um aumento de mais do triplo dos casos de escorbuto pediátrico nos EUA entre 2016 e 2020. As crianças com perturbações do espetro do autismo, que podem evitar certos alimentos devido a sensibilidades sensoriais, e as que provêm de meios com baixos rendimentos estão particularmente em risco.
O clima económico tornou mais difícil para as pessoas terem acesso a uma dieta equilibrada rica em frutas e legumes, uma fonte essencial de vitamina C. Os médicos recomendam uma ingestão diária de 75 a 90 miligramas de vitamina C para adultos saudáveis, principalmente através de produtos frescos.
Nos casos em que o escorbuto é diagnosticado, os suplementos de vitamina C e uma dieta nutricionalmente equilibrada conduzem normalmente a uma recuperação rápida, muitas vezes em poucos dias.