O dinheiro ajuda mais os animais do que ser vegano

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105 animais de quinta por ano, para alimentar um ser humano. Mas alterar hábitos alimentares ajuda mesmo?

Comer carne ou deixar a carne? E o peixe? Optar por uma alimentação vegana ou prolongar a mistura entre “verdes” e animais? Não estarei a poupar muitos animais se deixar de comer refeições com origem animal? Perguntas que muitas pessoas colocam, frequentemente. E cujas respostas podem não ser assim tão lineares ou simples.

Estas questões, sobretudo a última, foram o foco de Jim Davies no blogue da revista Nautilus Quarterly. O professor na Universidade de Carleton começa por citar os números do ministério da agricultura dos Estados Unidos da América, que mostram que, em média, uma pessoa nos EUA come cerca de 30 “animais de quinta” por ano.

Por isso, poderíamos partir do princípio que, em média, morrem 30 animais por ano para um ser humano se alimentar ao longo de 12 meses. Mas não é bem assim. Muitos animais morrem antes de serem “confeccionados”: no transporte, quando morrem logo após o nascimento, quando são comidos por outros animais… Contas finais: a alimentação de cada ser humano representa a morte de 105 animais, por ano.

Ser vegano ou vegana significa evitar a morte destes 105 animais. Mas não significa que esses 105 animais, que afinal estão vivos, são…felizes.

Ao diminuir a procura por carne de animais, esses animais deixariam de viver no “inferno industrial” – mas estariam vivos, durante esse tempo. Provavelmente, sem esse tratamento humano, nem chegariam vivos a essa fase. No entanto, muitos especialistas consideram que, para um animal, é preferível morrer do que viver nesse ambiente.

Pensar em poupar vidas animais, e na qualidade de vida dos animais, quando se opta por mudança de hábitos alimentares, também depende do tipo de carne que a pessoa consome. Por exemplo, as vacas têm direito a um tratamento muito mais decente do que as galinhas.

E também depende do tamanho do animal: comer uma vaca inteira demora muito mais do que comer uma galinha inteira. Ou seja, deixar de comer animais significa poupar muitas mais galinhas do que vacas.

Doar dinheiro ajuda mais?

O artigo do professor no Canadá centra-se depois noutra perspectiva: será mais útil ajudar associações que defendem a vida e o bem-estar dos animais?

A instituição destacada é a The Humane League. Em média, doar um dólar a essa associação ajuda a evitar a morte de 3.5 animais de criação (galinhas, na maioria). Noutras contas: uma pessoa, mesmo que coma carne, se doar 100 dólares vai evitar a morte de 350 animais – o triplo dos animais salvos se optasse uma alimentação vegana durante um ano.

Ou seja, e pegando nesta perspectiva, na prática é mais útil e mais “salvador” doar dinheiro para associações como esta – doações frequentes, de preferência – do que deixar de comer animais. Mesmo as pessoas veganas, se fizerem doações, estão a ajudar mais animais com o dinheiro do que com a comida que ingerem.

Sim, esta ideia será um absurdo, ou uma anedota, para quem a ler. É «mais fácil, mais cómodo».

Mas, lembra Jim Davies, “o veganismo não é fácil para todos”. E dizem os estudos que mais de 80% das pessoas que tentam ser veganas voltam a comer (pelo menos) um pouco de carne.

Optar pelo regime vegano ajuda os animais. Mas há outras formas e, provavelmente, formas mais eficazes de zelar pela vida e pela qualidade de vida dos animais. E que podem ser complementares.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

7 Comments

  1. Agradeço que o cronista complete a notícia indicando como é que as associações de bem-estar e proteção de animais fazem para poupar a vida de animais com as doações monetárias…

  2. Parece que há sempre um aspecto que passa despercebido neste tipo de raciocínio.
    Todas as pessoas que manifestam uma grande preocupação pelo bem-estar animal, parecem não se preocupar com a sua quási-extinção.
    Os ‘biliões’ de animais que os humanos ‘criam’ para várias funções, nomeadamente para a alimentação (tanto para eles próprios como para outros animais) constituem mais de 80% dos animais terrestres que existem hoje no planeta.
    Supondo que o projecto ‘vegano’ era adoptado por toda a gente e as pessoas deixassem de comer proteínas de origem animal, que acham que iria acontecer a todos esses biliões de animais?
    – “nunca nasceriam”, dirão. Logo,… nada lhes acontecerá.
    Portanto,…se impedires uma espécie de se reproduzir, conduzindo-a à extinção, isso já não é genocídio (ou xenocídio)?
    Ninguém imagina a humanidade a sustentar biliões de animais, que não lhes são úteis, só para benefício da paisagem, pois não?

    • São esses quase 80% de animais criados pelo ser humano que contribuem para a escassez de recursos no planeta. A natureza deve seguir o seu curso sem estas intervenções. Se há possibilidade de vivermos sem sacrificar outras vidas, então porque escolhemos fazê-lo? Pela mais pura maldade. Por dinheiro, egoísmo, prazer próprio…
      Não faz sentido vivermos como o homem das cavernas quando temos conhecimento sobre o mundo ao nosso redor e sabemos que é possível estar vivo e saudável e comer o que a terra dá. Acredito que podemos tirar partido de alguns recursos que os animais nos dão, como ovos e lã mas sem a necessidade de criar para consumir, tirando apenas o necessário de forma humilde quando é possível.

  3. Muitos dos animais vivem para serem alimentados no menor curto espaço de tempo ou seja não vivem, o sofrimento de viverem industrialmente para serem consumidos é que é desumano e muitos deles até nem chegam a ser consumidos por várias razões o que já de si representa um desperdício de uma vida animal.

    • Portanto, mais valia que não existissem?!
      E a quem aproveita isso? Aos animais que nunca foram?
      Estranha maneira de ‘defender’ os animais.

      • Não se trata só de defender os animais. Trata-se de preservar o planeta Terra.
        Não me parece que faça algum sentido justificar a dieta e todo o estilo de vida mediterrâneo baseado numa premissa que defende que os animais não estariam vivos se nao os comessemos “mais consumo, menos extinção”. Se não houvesse esse consumo, ou se fosse diminuído, não seriam explorados recursos que alimentariam todos os seres humanos, não se gastaria tanta água, tantos cereais, soja…
        Não comer carne não é só salvar um porco, é salvar o Planeta.

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