O degelo dos glaciares do Alasca acelerou e pode atingir um ponto de viragem “irreversível”

(dr) Sam Herreid

O campos de gelo de Juneau é um dos maiores da América do Norte, onde se encontram imensos glaciares. Mas, de acordo com uma nova investigação, estão a derreter a um ritmo drasticamente superior e a perda observada poderá atingir um ponto de rutura irreversível muito mais cedo que o que se pensava.

Uma equipa internacional de investigadores analisou registos do campo de gelo de 3885 km2 desde 1770 — altura em que o planeta atravessou a “Pequena Idade do Gelo” — até 2020, analisando a forma como o volume do campo de gelo se alterou ao longo desse tempo.

“Reunir este arquivo de fotografias, recolhidas há 70 e 50 anos, foi um pouco como fazer o puzzle mais difícil do mundo, mas a qualidade das imagens permitiu-nos reconstruir, pela primeira vez, a elevação do campo de gelo na era pré-satélite”, afirmou Robert McNabb, autor do estudo.

Segundo o IFL Science, através destas fotografias e de registos históricos de inventário, cartografia e imagens de satélite, a equipa descobriu que, ao longo dos 250 anos, se perdeu pouco menos de que 1/4 do volume de gelo original.

No entanto, o ritmo a que o gelo se perdeu não foi sempre o mesmo. Embora a perda de volume dos glaciares tenha sido relativamente estável entre 1770 e 1979, começou a aumentar no final do século XX e acelerou bruscamente entre 2010 e 2020, com a taxa de perda de gelo a duplicar nesse período.

Assim, resultou no desaparecimento de 108 glaciares desde 1770.

Bethan Davies, responsável pelo estudo, publicado na revista Nature Communications, disse que “é incrivelmente preocupante que a nossa investigação tenha encontrado uma aceleração rápida, desde o início do século XXI, na taxa de perda de glaciares no campo de gelo de Juneau”.

Davies, que atribuiu o aumento às alterações climáticas, disse ainda que “os campos de gelo do Alasca — que são predominantemente campos de gelo planos e planálticos — são particularmente vulneráveis ao degelo acelerado à medida que o clima aquece, uma vez que a perda de gelo ocorre em toda a superfície, o que significa que é afetada uma área muito maior”.

Acrescenta que “além disso, as calotas polares e os campos de gelo mais planos não podem recuar para altitudes mais elevadas e encontrar um novo equilíbrio”.

Posto isto, a equipa de investigação diz que antes do estudo, as estimativas sugeriam que a taxa de perda de volume de gelo só aumentaria a partir de 2070, mas agora podem estar a precisar de ser alterada. Não só para o campo de gelo de Juneau, mas também para outros.

“Este trabalho mostrou que diferentes processos podem acelerar a fusão, o que significa que as atuais projeções dos glaciares podem ser demasiado pequenas e subestimar a fusão dos glaciares no futuro”.

“À medida que o afinamento dos glaciares no planalto de Juneau continua e o gelo recua para níveis mais baixos e para um ar mais quente, os processos de retroação que isto desencadeia são suscetíveis de impedir o futuro crescimento dos glaciares”, disse Davies, “empurrando potencialmente os glaciares para além de um ponto de inflexão para uma recessão irreversível“.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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